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Moradores próximos ao novo fluxo da cracolândia relatam medo e mudança na rotina

Por Folha de São Paulo

16/05/2022 20h07 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A dispersão de dependentes químicos e moradores de rua que viviam de forma conjunta na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, tem causado desespero e transtornos para moradores da região.

Muitos relatam que agora só saem de casa de carro ou em veículos de aplicativos --com usuários de drogas espalhados pelas ruas, poucos andam a pé na rua devido ao medo de roubos e furtos.

O início dos contratempos começou, segundo os moradores, após a ação conjunta dos governos estadual e municipal na madrugada de quarta-feira (11), que resultou na prisão de sete homens supostamente ligados ao tráfico de drogas na cracolândia e na apreensão de um punhado de drogas.

A partir daquele momento, as pessoas expulsas da praça passaram a vagar pelos bairros de Campos Elíseos e Santa Cecília, ambos no centro, até o fluxo se concentrar na rua Helvétia, precisamente entre a alameda Barão de Campinas e a avenida São João.

Na noite desta segunda-feira (16), os usuários foram momentaneamente removidos pela Polícia Militar para que a Enel realizasse uma manutenção no local. Mas, conforme os moradores, a situação seria passageira, já que o percurso foi de apenas uma quadra.

Segundo a prefeitura, a partir desta terça-feira (17) será montado um serviço de atendimento emergencial na Helvétia com a São João.

"A gente está fazendo o nosso papel de dar atendimento social e de saúde para esse público que agora está órfão de tráfico. O pessoal que agora está aceitando muito mais atendimento", disse para a Folha o secretário de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas.

O ponto em que hoje estão os "ex-inquilinos" do entorno da praça Júlio Prestes e da praça Princesa Isabel possui imóveis residenciais e comerciais, e na esquina de uma das principais avenidas do centro da cidade. Diferente dos locais em que o antigo fluxo estava, não há policiamento fixo na Helvétia. Carros da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) passam uma vez ou outra, conforme os relatos.

Moradores e comerciantes alegam que os usuários não foram parar ali por acaso, já que teriam recebido escolta policial até se instalarem na área.

"Minha rotina mudou completamente. Minha filha não vai para a escola, eu tenho medo de sair de casa. A rua está uma sujeira, um cheiro, um fedor. Eles sujam a rua inteira. São ONGs que vem dar comida de quatro a cinco vezes por dia e eles deixam a rua uma sujeira. Não tem como a gente sair do nosso prédio", disse Maria (nome fictício, todos os moradores entrevistados pela reportagem pediram para não ter seus nomes verdadeiros divulgados).

Segundo ela, sua filha, uma adolescente, foi morar com o pai, uma vez que estava com medo em permanecer dentro de casa.

Outro morador, que é arquiteto, relatou à reportagem que desde a chegada dos dependentes químicos, as imediações da rua Helvétia foram tomadas por fezes humanas, vômitos e pessoas desmaiadas. Ele classificou a situação de infernal e assustadora e reclama da falta de explicações do poder público sobre a situação.

Quem também se demonstrou assustado com a situação foi um professor, que mora a duas quadras do novo fluxo, mas que precisa passar diariamente em frente ao local para tomar o metrô. Segundo ele, andar na rua pela região ficou muito perigoso. .

À reportagem, ele relatou que mudou sua rotina desde a última sexta-feira, quando deixou de andar a pé, por temer por sua segurança.

Além dos moradores, quem também sofre com a chegada do fluxo são os comerciantes, que estão preocupados com o rumo que suas atividades vão tomar, já que os clientes passaram a minguar.

O proprietário de uma mecânica, que há 42 anos está praticamente no mesmo endereço, disse que pretende deixar o ponto, uma vez que tem enfrentando uma série de dificuldades, como manobrar os automóveis, com a permanência de um grande número de pessoas na via.

À reportagem, o presidente da Associação Pro Campos Elíseos Melhor, Iézio Silva, contou que as queixas de moradores são constantes, independente do local do fluxo, seja quando era na alameda Cleveland, na praça Princesa Isabel e, agora, na rua Helvétia.

No entanto, para Silva, o policiamento atual, o qual afirma não ter, está bem diferente dos outros locais, em que era possível notar um grande contingente de policiais e viaturas.

"A cracolândia era [quando estava na praça] cercada de polícia, tinha quatro bases de polícia, um monte de viatura, um monte de GCM, e, quando veio para cá você não tem nenhuma viatura, não tem uma base de polícia, nada ali", disse.

De acordo com o presidente da associação, é necessário que uma viatura permaneça no local, não só para dar segurança para a população fixa, como para quem está somente de passagem.

Outro lado À Folha o secretário de Projetos Estratégicos da Prefeitura de SP, Alexis Vargas afirmou que a gestão municipal está atenta às movimentações dos dependentes químicos.

"O que a gente tem hoje, em alguns pontos espalhados pela região central, pela região da Luz, Campos Elíseos, são concentrações menores de usuários. Não é a mesma coisa que tinha nem na praça do Cachimbo e nem na praça Princesa Isabel. Temos agora concentrações pequenas de usuários espalhados e a gente tem acompanhado isso aqui todo dia".

Segundo ele, tal descentralização foi benéfica para ações de redução de danos, já que mais pessoas estão sendo abordadas e aceitando encaminhamentos.

"Vemos uma vantagem, uma vantagem muito grande. Porque, agora, que ele não está mais submisso ao tráfico e no meio de uma multidão, as nossas equipes de saúde e de assistência estão conseguindo um sucesso muito maior para atendê-los".

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a "Polícia Civil, no momento, avalia todas as possibilidades para combater o tráfico e o uso aberto de drogas, dentro dos limites da lei, nas ruas de São Paulo".

Ainda segundo a SSP, a Polícia Militar também atua na região nas atividades de policiamento preventivo e ostensivo com a presença de duas bases fixas e duas móveis, por meio de uma série de programas, incluindo policiamento comunitário e Força Tática.

O governo estadual ainda apontou que a busca de dependentes químicos por tratamento aumentou 23% na região central da Nova Luz, após a intervenção policial no início da semana na praça Princesa Isabel. Desde 2019, foram realizadas 6 mil internações hospitalares e 13,1 mil acolhimentos de assistência social.


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