Maioria dos brasileiros quer que Lula proíba exploração de petróleo na Foz do Amazonas, diz Datafolha
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A maioria dos brasileiros avalia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria proibir a exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, uma região com vários desafios socioambientais, mas com elevado potencial petrolífero. Os dados são de uma pesquisa nacional do instituto Datafolha.
O levantamento, encomendado pela organização de responsabilização corporativa Eko, ouviu 2.005 brasileiros antes da COP30, evento climático que ocorre em Belém, no próximo mês.
A pesquisa foi feita com entrevistados de 16 anos ou mais, de forma presencial, em 112 municípios de todas as regiões do país, entre 8 e 9 de setembro deste mês. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo o levantamento, 61% dos entrevistados opinaram que Lula deveria proibir a extração de petróleo na Foz do Amazonas, em momento em que a Petrobras busca perfurar um poço exploratório na região para verificar a existência de reservas petrolíferas.
A rejeição é ainda mais expressiva entre os jovens de até 24 anos, faixa etária em que 73% são contra o projeto, que aguarda há anos por licenciamento, ainda sem o aval do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Com o poço, em águas profundas do Amapá, a Petrobras quer investigar um amplo potencial identificado pela indústria para descobertas de reservas de petróleo, com expectativa de abrir uma nova fronteira exploratória. As perguntas da pesquisa não mencionam a estatal petrolífera.
Entretanto, a companhia vem enfrentando forte resistência de grupos da sociedade e até mesmo de parte de integrantes do governo federal, embora o presidente Lula tenha defendido publicamente diversas vezes o direito de o Brasil conferir o potencial de reservas de petróleo na área.
O Ibama afirmou ao final de setembro ter aprovado um simulado de emergência na área onde o poço será perfurado, mas solicitou ajustes à Petrobras, antes de apresentar sua decisão final sobre o licenciamento. A empresa ainda aguarda uma resposta do órgão ambiental.
Enquanto isso, a Petrobras já acumulava gastos, até a semana passada, de cerca de R$ 180 milhões para manter um navio sonda de prontidão na Bacia da Foz do Amazonas, enquanto aguarda decisão do Ibama sobre se poderá perfurar na região, conforme reportagem da Reuters.
Apesar das dificuldades da Petrobras avançar na Foz do Amazonas, o governo continua a ofertar áreas e as petroleiras seguem com amplo interesse em desbravar a região.
Em junho deste ano, Petrobras, ExxonMobil, Chevron e CNPC arremataram 19 de 47 blocos exploratórios de petróleo e gás ofertados na bacia.
Em nota, ao divulgar a pesquisa encomendada ao Datafolha, a Eko demonstra sua oposição aos planos de se abrir uma nova fronteira petrolífera na região amazônica, acrescentando que o levantamento indica a oposição de boa parte dos brasileiros.
"Os próximos meses serão decisivos para o legado de Lula. A maioria dos eleitores brasileiros quer que ele proteja a natureza e o clima, mas, no momento, ele está deixando que as empresas poluidoras tomem as decisões", disse a coordenadora de campanhas da Eko, Vanessa Lemos, em nota.
"Com apenas alguns anos restantes para reduzir rapidamente as emissões e preservar ecossistemas frágeis como a Amazônia, Lula precisa parar de defender os poluidores e cumprir as ambiciosas ações climáticas prometidas e pelas quais a população tanto anseia."
De forma mais geral, a pesquisa também apontou um amplo apoio público à proteção da floresta amazônica, já que 77% dos entrevistados disseram concordar com a meta do governo Lula de acabar com todo o desmatamento ilegal até 2030. Entretanto, apenas 17% acreditam que o governo conseguirá cumprir esse objetivo.
Também na pesquisa, 60% avaliaram que os efeitos das mudanças climáticas, como enchentes e ondas de calor, estão causando um impacto negativo sobre eles e suas famílias e 81% dos entrevistados acreditam que o governo deveria fazer mais para proteger as comunidades marginalizadas das mudanças climáticas.
Atualização no dia 15 de outubro, às 15h17, para adicionar nota:
NOTA
A Petrobras tomou conhecimento da pesquisa realizada pelo Datafolha por meio da imprensa, não sendo possível fazer qualquer comentário sobre a enquete. A companhia não teve acesso ao material, desconhecendo premissas e metodologia utilizados. Contudo, os resultados causam estranheza, pois são bastante divergentes de uma série de pesquisas de opinião realizadas pela Petrobras sobre Margem Equatorial nos últimos anos.
A Petrobras realiza, em parceria com instituto de pesquisa independente, pesquisas periódicas com a população para avaliar o conhecimento sobre a Margem Equatorial, medir a favorabilidade aos investimentos e mapear preocupações sobre impactos socioambientais.
O levantamento mais recente, conduzido no segundo trimestre de 2025, mostra que o tema ainda é pouco conhecido pela população. Muitos entrevistados associam equivocadamente as operações à foz do rio Amazonas. Na realidade, os blocos se distribuem por uma ampla faixa do litoral brasileiro, em áreas marítimas distantes de manguezais e ecossistemas sensíveis. No Amapá, por exemplo, o bloco em avaliação fica em águas profundas, a cerca de 160 km da costa e mais de 500 km da foz do Amazonas.
Apesar do conhecimento limitado, a pesquisa aponta alta confiança na Petrobras e no Ibama para decidir sobre a exploração. A maioria reconhece a expertise da companhia e considera que ela atua com responsabilidade socioambiental. Dentre os participantes, aqueles que conhecem os benefícios socioeconômicos de eventuais operações futuras na Margem Equatorial são mais favoráveis ao tema.
Os benefícios percebidos superam os receios: geração de empregos, melhoria da infraestrutura, apoio a projetos ambientais e atração de investimentos. Nos próximos cinco anos, são previstos investimentos de US$ 3,1 bilhões para 16 poços na região.
A Petrobras reforça que o debate deve se basear em informação qualificada, considerando que desenvolvimento e proteção ambiental podem coexistir com segurança, transparência e rigor técnico. A companhia tem como valor o respeito à vida, às pessoas e ao meio ambiente, e executa todas as suas operações com segurança, total respeito e cuidado com o meio ambiente e com a população para proporcionar um impacto social positivo nas comunidades onde atua.
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