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Indígena morto em confronto com PMs é sepultado em Mato Grosso do Sul

Por Folha de São Paulo

27/06/2022 19h35 — em
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CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - Três dias depois de morrer em confronto com integrantes do Batalhão de Policiamento do Choque, o indígena da etnia guarani kaiowá Vito Fernandes, 42, foi sepultado nesta segunda-feira (27) em Amambai, em Mato Grosso do Sul, dentro da Fazenda Bordas da Mata, na área de conflito.

Outros sete indígenas ficaram feridos no confronto, entre eles quatro adolescentes, que foram levados ao Hospital Regional de Amambai.

Depois que receberam alta hospitalar, foram presos pela Polícia Civil três deles (duas mulheres) e apreendidos dois adolescentes (sendo uma garota). Os cinco ficaram na mesma delegacia, em celas separadas, de sábado (25) até esta segunda, quando foram liberados após decisão da Justiça.

O velório de Fernandes começou no domingo (26), na Aldeia Amambai. Os indígenas entoaram cânticos e, em guarani, prestaram homenagens a ele.

Comissão formada por entidades ligadas aos direitos humanos foi até Amambai para acompanhar o velório. O vice-presidente do PT estadual, Humberto Amaduci, que acompanhou o grupo, disse que havia temor de novo confronto, já que a comunidade insistiu em fazer o sepultamento onde Fernandes morreu, ou seja, dentro da área da fazenda.

A ida do grupo era uma forma de evitar que a cerimônia terminasse em mais um conflito.

À tarde, foi firmado Termo de Ajustamento de Conduta entre Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União e representantes da VT Brasil Administração e Participação Ltda, proprietária da Fazenda Borda da Mata, permitindo o sepultamento.

Pelo termo, foi destinada área de 15 metros quadrados dentro da fazenda e distante 15 metros da divisa com aldeia. Os familiares de Fernandes estão autorizados a visitar o túmulo e realizar os cultos religiosos em homenagem ao morto. O acordo enfatiza que a autorização não tem valor para reconhecer a área como propriedade indígena.

Depois de firmado o acordo, os indígenas seguiram, a pé, a caminhonete que transportava o caixão. Fernandes foi sepultado no fim da tarde.

Dos sete feridos no confronto, cinco já receberam alta e foram levados direto do hospital para a delegacia de Polícia Civil. Um homem de 54 anos, duas mulheres de 63 e 23 anos e dois adolescentes de 16 e 17 anos. Os outros dois feridos, de 12 e 14 anos, haviam sido transferidos para um hospital em Ponta Porã e permanecem internados.

Outro indígena também foi detido, mas não chegou a ser levado ao hospital. A prisão aconteceu no local do confronto, quando ele foi encontrado escondido em um milharal, armado com revólver e que teria resistido à prisão.

No documento da prisão em flagrante ao qual a Folha teve acesso, consta que os seis foram detidos por dano, violação de domicílio e tentativa de homicídio qualificado.

No flagrante, consta que eles participaram da ocupação da Fazenda Borda da Mata e que teriam entrado em confronto com policiais militares de Amambai.

O Batalhão de Choque foi chamado para dar apoio e a equipe, "surpreendida por sequência de disparos de arma de fogo". Segundo o documento, os indígenas também atiraram em direção da aeronave que fazia sobre voo na área.

Em depoimento, os detidos negaram envolvimento. A mulher de 63 anos relatou que estava na porta de casa, na aldeia, na divisa com a fazenda, quando foi atingida por tiro. A de 23 relatou ser universitária e estava no local para fazer um estudo.

Por falta de indícios de autoria, a juíza plantonista Tatiana Decarli concedeu relaxamento de prisão a eles, com ressalva ao que foi preso no milharal, que terá de obedecer a algumas normas, como informar mudança de residência, proibição de frequentar bares e ficar em casa no período noturno.

Equipes do Batalhão de Choque permaneceram na fazenda até sábado, mas deixaram a área, agora, sob responsabilidade do policiamento local, segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira. Inquéritos foram instaurados na Polícia Civil para apurar o confronto e a morte de Fernandes.

A Polícia Federal disse à reportagem que a responsabilidade da corporação é garantir a integridade de "comunidade indígena" e "fatos isolados com membros da comunidade ou índios quaisquer são de responsabilidade da segurança pública estadual". Por isso, a equipe não foi designada para acompanhar os desdobramentos do confronto.


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