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Escolas reconhecem falha na coleta de dados da cor da pele

Por Folha de São Paulo

23/11/2020 12h33 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos problemas que as escolas privadas de São Paulo tentam solucionar para atender a demanda das famílias por uma educação antirracista é a falha na coleta de dados da cor da pele de seus alunos e professores.

Embora forneçam essas informações anualmente ao Inep -instituto ligado ao Ministério da Educação, que realiza o Censo Escolar- desde 2007, as instituições de ensino admitem que precisam aprimorar suas metodologias.

O quadro de baixa inclusão racial nas escolas da capital paulista foi revelado em reportagem da Folha de S.Paulo que mostrou que uma em cada dez escolas particulares de São Paulo não têm nenhum professor negro, segundo o Censo.

No caso dos alunos, para reduzir o risco de que os dados não refletissem corretamente a realidade, o jornal afirma ter feito um recorte específico que incluiu apenas os estabelecimentos em que o percentual de estudantes com cor da pele declarada fosse superior a 75% do total.

Os resultados confirmam o que emerge da análise de todas as escolas da capital paulista. Na amostra mais restrita, o percentual de alunos negros em instituições privadas é de, apenas, 8,5% do total.

Embora confirmem a baixa diversidade em seu corpo docente e discente, 10 entre as 16 escolas que responderam ao jornal afirmaram que pretendem tomar medidas para melhorar a forma como os dados raciais de alunos e professores são levantados.

"A partir da provocação de vocês [com a reportagem sobre professores], percebemos que precisamos melhorar nossa coleta desses dados", diz Wagner Borja, diretor do Gracinha.

Segundo ele, uma checagem rápida feita pela secretaria da escola apontou, inclusive, algumas divergências entre os dados informados ao Inep e o que eles percebem na realidade.

Avenues, Equipe, Bandeirantes, Santi, Carlitos, Waldorf, Vera Cruz, São Domingos e Santa Cruz também disseram estar aprimorando a coleta desse tipo de informação.

"Era como mais um dado que a gente preenchia para dar conta de estar em dia com a documentação. Isso não é um jeito nada bom de responder ao Censo Escolar, não é?", afirma Luciana Fevorini, diretora do Equipe.

"Agora, teremos o nosso próprio Censo, com o tempo que julgamos adequado para que a pergunta seja feita e compreendida da melhor maneira possível", diz ela.

Segundo Fevorini, até este ano, eram os próprios funcionários da secretaria do Equipe que atribuíam a informação da cor da pele de alunos e docentes ao responder ao Censo Escolar.

"A gente não fazia assim por má-fé, mas porque os prazos costumam ser muito curtos para que questões importantes como essa sejam trabalhadas da melhor forma educacionalmente".

As escolas ressaltaram que a sensibilidade em torno do tema racial era também um empecilho ao levantamento da cor da pele de alunos e professores no passado.

"Até pouco tempo, havia uma recusa grande para declarar-se em relação a raça e cor. Não apenas no senso comum, mas também nos setores mais intelectualizados, interpretava-se que essa era uma classificação que agravaria as discriminações", disse o São Domingos, em resposta por escrito.

O Santa Cruz mencionou o mesmo. "Alguns pais não entendiam a necessidade e consideravam essa medida discriminatória."

Para Borja, no entanto, esse contexto mudou. "A nova dinâmica social pode contribuir para que as pessoas se declarem mais tranquilamente."

Além de planos para concessão de bolsas e revisão na coleta de dados raciais, o movimento de famílias antirracistas tem promovido com as escolas ações de educação sobre racismo estrutural.

O Equipe abriu espaço para que o coletivo antirracista de pais ocupasse as redes sociais da escola na primeira semana deste mês. Está promovendo também aulas sobre temas específicos com especialistas negros.

O Santi promoveu, recentemente, uma palestra com a historiadora Lia Vainer Schucman, que pesquisa o racismo estrutural no país. E a Avenues criou uma seção específica sobre diversidade e inclusão em sua newsletter semanal.

O Vera Cruz promoveu nesta quarta-feira (18) uma live com a educadora Neca Setúbal e a filósofa Sueli Carneiro.

Na ocasião, Carneiro, uma das precursoras do movimento negro no país, elogiou o projeto Travessias da escola e o descreveu "como o experimento de um novo projeto de país".

Além da concessão de bolsas, o programa do Vera pretende aumentar a contratação de professores negros, objetivo também anunciado por Equipe, Santi, Carlitos, Avenues e Gracinha.

Segundo o Santi, serão adotadas "metas relacionadas à diversidade nos processos seletivos". Além de firmar parcerias com organizações especializadas no recrutamento de negros -ação também mencionada pelo Carlitos-, a Avenues destinará metade das vagas de seu programa de estágio a professores negros.

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