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Entidades civis lançam site para cobrar transparência do Ministério da Saúde sobre vacinas contra Covid

Por Folha de São Paulo

20/04/2021 11h35 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um conjunto de sete organizações da sociedade civil lança nesta terça-feira (20) uma plataforma para divulgar informações disponíveis no painel do Ministério da Saúde sobre as vacinas contra Covid-19 e pressionar o governo por maior acesso à informação.

O site transparenciavacina.org.br traz as perguntas mais frequentes sobre vacinação, como dúvidas sobre quantitativo de doses distribuídas aos estados e municípios, os próximos grupos prioritários a serem incluídos no PNI (Programa Nacional de Imunização) e o calendário de vacinação.

O principal objetivo da campanha é apontar para a população quais dados e informações são divulgados pelo Ministério da Saúde e quais, embora sejam de interesse público, ainda não estão acessíveis ou disponíveis.

Quanto às questões ainda sem respostas das autoridades de saúde, como quando deverá a vez das pessoas na vacinação (segundo sua idade, profissão, presença de comorbidades ou etnia), o usuário poderá ajudar na cobrança de respostas oficiais.

O site foi criado pelas organizações Open Knowledge Brasil, Transparência Brasil, Transparência Internacional - Brasil, Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade e pelo Observatório Covid-19 BR, uma rede de pesquisadores independentes de diversas instituições de ensino superior e pesquisa do país e internacionais. Ao selecionar uma pergunta específica, o usuário pode verificar se as informações já foram divulgadas pela pasta da saúde ou ainda permanecem sem resposta. Nesse último caso, há a opção de entrar com um pedido para pressionar o governo por mais transparência.

"A principal pergunta hoje é 'quando vou ser vacinado?', mas essa questão não é só sobre ser grupo prioritário, mas se vai ter vacina ou não", afirma Tatiane Moraes, pesquisadora do Observatório Covid-19 BR.

Para ela, questões fundamentais para a sociedade, como a chegada de novos insumos para produção da vacina e em qual ponto está a negociação do governo federal por novos acordos de doses, não são corretamente apresentadas pela pasta.

O usuário do site poderá também assinar uma petição cobrando do governo ações concretas para fornecer esses dados. A cada 5.000 assinaturas é enviado um pedido de acesso à informação aos órgãos competentes. Se aquela pergunta for respondida e houver uma informação inédita, o site atualizará o seu conteúdo.

"Essa é uma forma de fazer com que a preocupação [sobre vacinas] chegue na sociedade e possa ser traduzida de forma palpável para o próprio cidadão. Depois, ao ter a resposta para aquela pergunta, a pessoa vai sentir que fez parte da ação e do engajamento para conseguir aquela informação confiável", diz Lorena Barberia, pesquisadora do departamento de ciência política da USP e da Rede de Pesquisa Solidária.

As entidades organizadoras reforçam que, mais de um ano após o início da pandemia, o Brasil ainda patina em como planejar e apresentar as estratégias para combater o vírus.

Para Barberia, a questão das vacinas é só mais um exemplo de um problema estrutural maior que surgiu no início da pandemia e continua existindo. "Todos os esforços na Rede de Pesquisa Solidária são para apontar como não é possível analisar a resposta do governo à pandemia se ele não disponibiliza os dados que permitem à sociedade e à comunidade acadêmica avaliar se essa resposta foi adequada ou não", diz.

Moraes afirma que faltam também ações concretas do governo para orientar a população de como se comportar nesse momento de incerteza. "Enquanto não sabemos se vamos ter a chegada de novas doses nesse mês ou no próximo, a população não sabe como agir. O Brasil não é o único com ritmo lento de vacinação, mas outros países possuem ações efetivas de restrição de circulação, testagem, isolamento de suspeitos, como é o caso da Austrália. Com todas as incertezas que existem hoje e com o ritmo de vacinação atual, vamos levar mais de dois anos para completar a imunização."

A plataforma é parte de uma campanha mais ampla que cobra transparência da pasta da saúde sobre o enfrentamento da pandemia.

Como mostrou reportagem do jornal Folha de S.Paulo, mais de 70% dos dados apresentados pelo Ministério da Saúde sobre as vacinas são incompletos, indisponíveis ou inconsistentes. A nota técnica sobre a falta de transparência, produzida pelo mesmo conjunto de organizações civis, foi o primeiro passo para apontar as falhas do governo federal, e a criação do site é mais uma ação para cobrar acesso aos dados.

O estudo levou em consideração 30 tipos de informação relevantes para a pandemia da Covid-19 e notou inconsistência em muitos dos dados. O maior problema foi a divergência entre as duas fontes oficiais de informações: o painel do Ministério da Saúde e o OpenDataSus, base de dados de saúde.

Os pesquisadores requisitaram uma resposta ao governo sobre os dados divergentes, mas não obtiveram resposta mais de dois meses após o pedido via LAI (Lei de Acesso à Informação).

Após a reportagem da Folha de S.Paulo sobre a nota técnica, a Liderança da Minoria da Câmara, representada pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE) apresentou ofício ao Ministério Público Federal pedindo que o Ministério da Saúde fosse investigado no que diz respeito à divulgação de dados sobre Covid-19.

Até o momento, o ofício foi recebido pelo Subprocurador-Geral da República, Carlos Alberto Vilhena, e aguarda decisão.

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