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Enchente histórica faz 3.000 famílias deixarem casas em Marabá (PA)

Por Folha de São Paulo

18/01/2022 17h36 — em
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BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - O município de Marabá, no sudeste do Pará, enfrenta as maiores cheias dos últimos 20 anos na região. Há 2.975 famílias desabrigadas ou desalojadas, além de 435 famílias ilhadas em regiões ribeirinhas. A cidade de 233 mil habitantes fica na confluência entre os rios Itacaiúnas e Tocantins.

As chuvas que atingem a região fizeram o nível do rio Tocantins subir de 6 para 12,7 metros em apenas sete dias, informou a prefeitura. Na noite desta segunda-feira (17), o nível do rio chegou a 13 metros, três a mais do que a cota de alerta estabelecida.

A Defesa Civil se reveza em três turnos para fazer o transporte das famílias atingidas para os abrigos da cidade, com apoio do Exército e Marinha.

Nos anos anteriores, as cheias começavam tipicamente nos meses de fevereiro e março. A antecipação das cheias lotou a capacidade de 18 abrigos oficiais na cidade e de outros dois não oficiais.

Segundo boletim da Agência Nacional de Água e Saneamento Básico, que monitora os níveis da hidrelétrica de Tucuruí, que gera energia a partir do rio Tocantins, a cheia já utiliza 96% da capacidade dos reservatórios de água da unidade.

"Na primeira quinzena de janeiro de 2022, as chuvas já superam 80% do esperado para todo o mês", afirma o órgão. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, as vazões devem permanecer acima do normal na região.

Professor em uma escola particular em Marabá, Carlos Trindade conta que nunca viu uma cheia como esta. Segundo ele, a situação é muito mais crítica do que a observada em março de 2021.

"Enchente sempre teve e sempre vai ter em Marabá. Mas desse nível é inédito. Quem cresceu escutando as histórias das enchentes de 1980 diz que a história está se repetindo", diz.

Ele se refere às cheias iniciadas em dezembro de 1979 com ápice em março de 1980, inundando por completo toda a área conhecida como Velha Marabá, parte mais vulnerável do município do ponto de vista socioeconômico e de proximidade com os rios.

Na época, o Governo Federal precisou montar uma operação de emergência para deslocar as famílias para uma nova região da cidade, mais tarde denominada de Nova Marabá. Quando as enchentes cessaram, a maioria das famílias retornou à Velha Marabá, para áreas periféricas habitadas até hoje.

Apesar das inúmeras tentativas de remanejar a população por parte de diversos poderes, os marabaenses resistiram às mudanças tanto em 1980 quanto em outras grandes enchentes, como as que aconteceram em 1926, 1973 e 1997.

A advogada Bruna dos Santos, também moradora na cidade, diz que há uma espécie de modo de vida ligado às enchentes na região e avalia que todas as tentativas de remanejar a população para partes de relevo mais alto continuarão frustradas.

"Todo mundo sabe e espera as enchentes. A questão é que muitas famílias mais pobres residem em Velha Marabá por não terem para onde ir. E lá há também famílias pioneiras, antigas. Nova Marabá foi muito dominada por migrantes do Nordeste, Sul e Sudeste [do Brasil] a partir da década de 80. Não é todo mundo que tem condição de se mudar para lá."

A partir da década de 1970, a cidade viveu um boom econômico de crescimento desordenado por conta da descoberta do potencial mineral da Serra dos Carajás, que conta com o maior depósito ferrífero do mundo. As atividades extrativistas da Vale promoveram um rápido aumento da população nas últimas décadas e fazem da cidade o terceiro maior produto interno bruto do Pará, atrás somente das vizinhas Parauapebas e Canaã dos Carajás.

Desde a semana passada, a prefeitura reforçou a estratégia de vacinação contra Covid-19 e a gripe influenza nos abrigos da cidade, para evitar surtos das doenças entre os desabrigados.

Já o governo estadual decretou situação de emergência em Marabá e em outros 16 municípios da região e também enviou mil cestas básicas, 500 colchões e cerca de 5.000 produtos de higiene e limpeza.

Um cadastramento está sendo realizado pelo governo do Pará para que haja o pagamento de um salário mínimo (R$ 1.212) para as famílias com imóveis diretamente atingidos pelas cheias.

Julia Sousa foi uma das primeiras beneficiadas a receber o auxílio. Ela está com o filho, que ainda é uma criança de colo, em um dos abrigos da prefeitura e conta que a casa onde mora foi para debaixo d'água. "Perdi televisão, geladeira, fogão, bujão. Tudo", afirma.

Alexandre Lameira é autônomo e está alocado em um abrigo localizado na Folha 31, onde divide o espaço com outras 33 famílias.

"A minha casa ficou alagada, queimou a geladeira, perdi o colchão. Essa ajuda vai ser boa para comprar roupa, ajudar minha família", conta.

Em suas redes sociais, o governador Helder Barbalho (MDB) informou que irá se reunir com o Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado e Prefeitura de Marabá para definir ações de apoio a empresários e comerciantes da região.

"Empresários, cooperativas e sociedades empresárias com sede na cidade de Marabá ficarão isentas pelo prazo de 30 dias do pagamento de taxa para a Jucepa [Junta Comercial do Pará], considerando o estado de emergência no município", afirma ele.


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