Deputado acusado de chefiar milícia na Bahia vê Assembleia acuada e troca de juízes no processo
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - A campanha eleitoral foi intensa para o deputado estadual Binho Galinha (PRD-BA). Entre setembro e outubro, circulou com desenvoltura pelos palanques de aliados, acompanhou carreatas e caminhadas, dançou com eleitores e anunciou obras com recursos de emendas.
Enquanto isso, na Justiça, o deputado se viu às voltas com o processo oriundo da operação El Patrón, investigação conduzida pelo Ministério Público da Bahia que o acusa de chefiar uma milícia em Feira de Santana, segundo maior cidade do estado, a 109 km de Salvador.
Um ano após ter sido denunciado, o deputado estadual Kleber Cristian Escolano de Almeida, o Binho Galinha, segue ativo na política, convive com o medo dos colegas e com um processo que passou por sucessivas trocas de magistrados.
Ele é réu pelos crimes de lavagem de dinheiro do jogo do bicho, agiotagem e receptação qualificada. A investigação aponta que Binho lavava dinheiro por meio de empresas e vendia peças de carro roubadas em uma loja de sua propriedade. Ele nega as acusações.
Em nota divulgada após a operação, o deputado afirmou que "jamais praticou os crimes que lhe estão sendo atribuídos e que vai provar sua inocência na Justiça".
A operação foi deflagrada em 7 de dezembro de 2023, quando 15 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público. Na época, dez pessoas foram presas preventivamente, incluindo a esposa e o filho de 18 anos do deputado.
Ambos estão entre os réus do processo, acusados de fazerem parte da organização criminosa, mas deixaram a prisão ao longo deste ano após determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O deputado não teve a prisão pedida pelas restrições impostas pelo cargo que ocupa, mas também foi denunciado. O processo corre em primeira instância, já que o caso não tem relação com o mandato parlamentar e trata de fatos anteriores à sua diplomação como deputado estadual.
O processo contra Binho Galinha passou pelas mãos de ao menos quatro juízes da Comarca de Feira de Santana. Os dois primeiros declararam suspeição por foro íntimo, a terceira foi transferida de comarca por critério de merecimento e o caso foi assumido por uma nova magistrada em junho.
A expectativa da Promotoria é que a fase de instrução criminal seja encerrada no início do próximo ano, permitindo que a sentença possa ser proferida ainda no primeiro trimestre de 2025.
A Assembleia Legislativa da Bahia foi informada formalmente das denúncias contra o deputado em ao menos duas oportunidades, mas nenhuma medida foi adotada em âmbito político.
Sob pressão, os deputados levaram quatro meses para instalar e nomear os membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que estava inativo. Desde então, o colegiado não instaurou qualquer processo disciplinar contra o deputado acusado de elo com a milícia.
Em um almoço com jornalistas na semana passada, presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Adolfo Menezes (PSD), disse que os membros do conselho se sentem reféns e evitam o processo pela gravidade das denúncias.
"Os deputados dizem: Se três juízes não quiseram pegar o caso, como é que a gente vai se envolver num negócio desse, andando pelo interior? Daqui a pouco estão matando. Como vai ficar? [Estão com] medo de agir. Eu não tiro a razão deles. O cara vai ser herói?", questionou.
Em nota, o deputado repudiou de forma veemente as declarações do presidente da Assembleia Legislativa e o acusou de se utilizar de ilações ao apresentar fatos desconexos e não comprovados.
"Deve-se garantir o contraditório e a ampla defesa, conquistas históricas que não devem ser esquecidas por ninguém, muito menos por um parlamentar que preside a Assembleia Legislativa. É inadmissível que se trate uma pessoa como inimigo da sociedade" afirmou.
Binho Galinha reforçou ainda que não teve ainda a oportunidade de apresentar sua versão sobre os fatos, tampouco suas provas em resposta às acusações. E repudiou qualquer juízo antecipado sobre os fatos em julgamento.
Eleito deputado estadual em 2022 pelo Patriota, Binho aderiu ao governo entre o primeiro e o segundo turno, quando se aliou ao hoje governador Jerônimo Rodrigues (PT).
Na campanha eleitoral, apoiou o deputado federal Zé Neto (PT) na disputa pela prefeitura de Feira de Santana e participou de atos com a presença do governador. Em 20 de setembro, gravou um vídeo ao lado de Jerônimo Rodrigues pedindo votos para um aliado na cidade de Milagres.
As investigações do Ministério Público apontam que o deputado supostamente possuiu uma rede com a participação de cerca de 150 policiais. Três deles, apontados como cabeças o grupo, seguem presos preventivamente.
Em abril, a Polícia Federal solicitou o afastamento do deputado de suas funções, mas o pedido foi negado pela Justiça.
Para pedir o afastamento, a PF apontou o histórico de casos criminais do parlamentar, que chegou a ser preso em 2011. De acordo com os investigadores, ele se dedica ao crime há vários anos e possui movimentação financeira acima dos seus rendimentos.
Documentos em posse da PF mostram que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mapeou ao menos R$ 3,9 milhões em transações suspeitas de Binho Galinha entre fevereiro de dezembro de 2023. Foram sequestrados 45 imóveis ligados ao deputado, entre apartamentos e fazendas.
ASSUNTOS: Variedades