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Com impasse sobre vacinas, Bolsonaro adia cerimônia para marcar início de imunização

Por Folha de São Paulo

15/01/2021 16h35 — em
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Diante do atraso da operação de compra do primeiro lote das vacinas Oxford/AstraZeneca de um laboratório na Índia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve desistir de realizar no Palácio do Planalto, na próxima terça-feira (19), uma cerimônia para marcar o início da campanha de vacinação no país.

Auxiliares presidenciais consultados pela reportagem admitem, sob condição de anonimato, que não haverá tempo hábil para que a aeronave responsável por buscar as 2 milhões de doses na Índia faça a viagem de ida e volta a tempo.

Interlocutores dizem que um evento alusivo à vacinação deve ocorrer apenas quando o lote chegar ao Brasil. Não há data definida para essa entrega, mas a expectativa no Planalto é que a cerimônia fique para a semana seguinte.

A ideia do governo era que a cerimônia no Planalto fosse usada para transmitir a ideia de que a administração federal é protagonista e está à frente da campanha de vacinação. Seria também uma oportunidade para Bolsonaro rebater as críticas de atraso e de falta de organização no processo.

Inicialmente, cogitou-se que uma pessoa idosa e um profissional de saúde seriam vacinados no evento, num gesto simbólico. A ideia foi abandonada depois.

Embora ainda não haja informação oficial, tanto auxiliares presidenciais quanto interlocutores no Ministério da Saúde admitem que as doses negociadas com a Índia não chegarão no Brasil no domingo (17).

A aeronave da Azul Linhas Aéreas está no Recife pronta para decolar, mas o voo não deve ocorrer sem que o governo da Índia dê sinal verde para a busca dos imunizantes, produzido pelo Serum Institute.

Apesar de sucessivos apelos de Bolsonaro e do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores), os indianos têm argumentado que não é possível efetivar a venda enquanto não for iniciada a campanha de vacinação da sua própria população, o que está previsto para sábado (16).

Para aliados de Bolsonaro, ficou claro que o cronograma não é mais factível depois da conversa com Araújo com o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, na noite de quinta (14).

O brasileiro pediu urgência na liberação do lote, mas recebeu do homólogo manifestação de "boa vontade" e promessa de uma solução "nos próximos dias". Não houve compromisso com uma data específica.

Antes disso, Bolsonaro havia enviado uma carta para o premiê indiano, Narendra Modi.

No domingo, o Ministério da Saúde avaliava promover uma coletiva de imprensa na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para celebrar a chegada do lote de vacinas. O planejamento, porém, já foi abandonado, em outro sinal de que o avião não retorna no tempo previsto.

No planejamento do Palácio do Planalto, a vacinação no Brasil começa em 20 de janeiro simultaneamente nos estados.

A data depende da certificação de uso emergencial conferida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que no momento analisa os pedidos feitos pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) --que produzirá no Brasil a Oxford/AstraZeneca-- e pelo Instituto Butantan.

O órgão vinculado ao estado de São Paulo fabrica no Brasil a Coronavac, desenvolvida em parceria por uma farmacêutica chinesa. O imunizante é usado como trunfo político do governador do estado, João Doria (PSDB), considerado um adversário político pelo Palácio do Planalto.

Autoridades do governo brasileiro têm dito publicamente que a vacinação no Brasil começará com a vacina que primeiro conseguir a luz verde da Anvisa, seja ela a Oxford-AstraZeneca ou a Coronavac.

Mas auxiliares de Bolsonaro reconhecem que um atraso prolongado na entrega do lote de 2 milhões de doses da Índia pode resultar numa derrota para Bolsonaro, uma vez que o início da vacinação com a Coronavac seria explorado politicamente por Doria.

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