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Cobertura vacinal contra meningite segue abaixo da meta no Brasil

Por Folha de São Paulo

08/11/2025 10h15 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pelo menos desde 2022, o Brasil não alcança a meta de cobertura vacinal contra a meningite, que é de 95% para bebês até um ano e 80% na faixa de 11 a 14 anos, segundo o PNI (Programa Nacional de Imunizações). A situação é pior na adolescência.

Os dados são do Ministério da Saúde. Após a reportagem ter solicitado o esquema completo por duas vezes, o órgão só passou as coberturas da ACWY conjugada e da primeira dose e do reforço da meningocócica C conjugada.

No SUS (Sistema Único de Saúde), o esquema vacinal contra a doença prevê duas doses da vacina meningocócica C conjugada —aos três e cinco meses de idade— e um reforço aos 12 meses com a ACWY conjugada (a partir de julho deste ano; antes o reforço era feito com a meningo C). A criança que recebeu o esquema primário e o reforço com a vacina meningo C não precisa tomar a ACWY.

A, C, W e Y são quatro sorogrupos da bactéria Neisseria meningitidis. O imunizante também é recomendado aos adolescentes.

Da ACWY —inserida no Calendário Nacional de Imunização a partir de 2020— as taxas são bem inferiores ao desejável. No período mencionado, não ultrapassam 61,7% e 61,9% no estado de São Paulo e no país, respectivamente.

A vacinação é a principal forma de prevenção contra a meningite. As vacinas meningocócicas C e ACWY estão disponíveis em todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde).

De acordo com Juarez Cunha, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), é difícil alcançar a cobertura de qualquer vacina na adolescência, porque é um público mais difícil de abordar e que frequenta menos a unidade de saúde.

"O principal fator que atrapalha a vacinação do adolescente é não ter um trabalho sistemático entre a saúde e educação. Pela nossa experiência, principalmente em 2014, com a vacina HPV, quando realizamos a vacinação nas escolas, as coberturas foram muito superiores. Conseguimos alcançar a meta na primeira dose, mas depois começamos a apresentar dificuldade porque abandonamos a estratégia de vacinar nas escolas", afirma Juarez. "Se fizéssemos essa vacinação nas escolas, alavancaria", reforça.

Para o especialista, também é necessário melhorar a informação sobre a doença. "É a falsa sensação de segurança de uma doença que raramente as pessoas veem. Quando ouvem uma notícia de hospitalização, morte e caso na escola, todo mundo corre atrás da vacina que poderia ter sido feita antes".

O médico explica que a vacina contra a meningite elimina o estado de "portador são" —a pessoa tem o microrganismo infeccioso, mas não fica doente e nem transmite.

"É o que chamamos de imunidade de rebanho. Só que para isso eu tenho que ter as metas de cobertura alcançadas. É importante alertar a população que a vacina protege contra uma doença muito grave, com letalidade altíssima —chega a 20% no Brasil e em torno de 10% nos demais países", comenta Juarez.

A doença também pode deixar sequelas como surdez, perda de visão e alteração cognitiva. A vasculite é outra complicação grave possível.

No dia 26 de outubro, em Praia Grande, litoral paulista, uma menina de 11 anos morreu de meningite tipo C. Ela estudava na Escola Municipal Cidade da Criança.

Um menino de dois anos, morador no mesmo município, está internado no Hospital das Clínicas de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, com meningite meningogócica pela bactéria Streptococus pneumoniae.

Segundo a prefeitura de Praia Grande, assim que o caso suspeito foi confirmado, a Vigilância Epidemiológica realizou uma série de atividades na Escola Municipal Maria dos Remédios, onde a criança frequenta, que incluiu orientações aos fncionários e familiares dos alunos sobre higiene e compartilhamento de objetos pessoais, além da importância da vacinação.

Em nota, a prefeitura afirmou que a cidade não vive um surto da doença. Em 2025, foram registrados 11 casos de meningite com três mortes. No ano passado inteiro foram 13, com o mesmo número de óbitos.

Meningite é um processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. A inflamação pode ser causada por diversos agentes, a exemplo de vírus, bactérias e fungos.

"Imagine que você comprou um pão envolvido num celofane. O pão é o cérebro e o celofane que fica bem grudado é o equivalente às meninges. Quando elas inflamam, chamamos de meningite. A doença tem múltiplas causas. A meningite viral, em geral, é um quadro mais benigno. Posso ter meningite tuberculosa, fúngica em pacientes imunodeprimidos, química, por exemplo, quando faço quimioterapia intratecal para tumor de sistema nervoso central, e a bacteriana, que é mais importante do ponto de vista de frequência e complicações", diz Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

"Entre as bacterianas, tem a por hemófilos influenza, a pneumocócica, que acomete crianças, pacientes mais idosos e os com algum tipo de imunossupressão e a meningite como complicação de quadros respiratórios altos, sinusite e otite. A meningocócica é a que mais assusta as pessoas", explica o infectologista.

Em caso de sinais ou sintomas da doença —febre alta, dor de cabeça intensa, vômitos, rigidez de nuca e manchas na pele— a população deve procurar atendimento médico imediato.


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