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Nova terapia para câncer de bexiga aumenta em 34% a chance de cura

Por Folha de São Paulo

30/09/2024 12h30 — em
Saúde e Bem-estar


Foto: Divulgação

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A combinação de imunoterapia com a quimioterapia antes e depois da cirurgia elevou em 34% a probabilidade de cura do câncer na bexiga, segundo um estudo global do qual participou também o Brasil.

Além disso, o tratamento com o imunoterápico durvalumabe levou a uma redução de 32% no risco de recidiva após o término do tratamento.

"Há cerca de 40 anos ficou estabelecido que o câncer de bexiga não era para ser operado direto. O paciente tinha que fazer quimioterapia antes. Esse é o primeiro estudo que mostrou que acrescentar a imunoterapia antes e depois da cirurgia traz resultados melhores, o que significa menor risco da doença voltar e maior chance de cura", afirma Ariel Kann, coordenador do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e coautor do estudo.

A pesquisa Niagara foi realizada de novembro de 2018 a julho de 2021, com 1.063 pessoas que precisavam passar por cirurgia. O artigo foi publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine no último dia 15 deste mês.

Os participantes, de ambos os sexos, com 18 anos ou mais, são de 22 países da Europa, Ásia, América do Norte, Austrália e América do Sul. O Brasil foi representado por 30 pacientes, de 40 a 80 anos (idade média de 65 anos), atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Os 1.063 participantes foram divididos em dois grupos: um submetido à quimioterapia convencional e o outro recebeu a quimioterapia combinada com o durvalumabe. Segundo Kann, neste grupo, foram quatro doses do medicamento junto com a quimioterapia três meses antes da cirurgia e oito doses após o procedimento.

A medicação estimula o sistema imunológico a reconhecer as células tumorais como inimigas. Com isso, o corpo passa a atacá-las. A nova abordagem é voltada a pacientes com câncer de bexiga com invasão da camada muscular, sem metástase.

De acordo com o especialista, os tumores que invadem a camada muscular da bexiga são sempre agressivos. Quando a doença é diagnosticada nesta fase, o paciente precisa ser tratado com maior radicalidade, seja com cirurgia para a retirada da bexiga ou com radioterapia.

"Os resultados obtidos poderão levar a uma mudança na forma como os pacientes com câncer de bexiga passarão a ser tratados, com chance de cura e qualidade de vida", diz o coautor do estudo.

Os pacientes estudados continuarão em acompanhamento médico por pelo menos mais três anos. Eles serão submetidos a consulta e tomografia a cada seis meses. O objetivo é observar se a doença não voltará no período.

O durvalumabe —inicialmente indicada para tratamento de câncer do pulmão— foi incorporado ao SUS (Sistema Único de Saúde) em maio deste ano. A combinação com a quimioterapia ainda não está aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Tumores na bexiga são, em grande maioria, assintomáticos. Quando há sintomas iniciais, são leves: irritação, dor, ardência, desconforto e dificuldade para urinar; fluxo de urina fraco, micção frequente e urgência em urinar, mesmo quando a bexiga não está cheia. O principal sinal é o sangramento, que não pode ser menosprezado.

"Às vezes vemos os pacientes a procura de serviço de saúde e os próprios médicos subestimam o sintoma, como se fosse uma infecçãozinha, uma pedra no rim e não fazem um exame, um ultrassom, uma tomografia para verem o que é de verdade", alerta o médico.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e American Cancer Society, todos os anos, 614 mil pessoas são diagnosticadas com câncer na bexiga, o nono tipo mais frequente. A doença é quatro vezes mais comum em homens do que mulheres. O tabagismo e a exposição ocupacional a alguns produtos químicos são os principais fatores de risco.

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), as estimativas para cada ano do triênio 2023-2025 é que pouco mais de 11,3 mil pessoas recebam o diagnóstico de câncer de bexiga no Brasil, sendo 7.800 homens e 3.500 mulheres.

Esse projeto é uma parceria com a Umane, associação que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública.


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