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Nas praias, canudinhos ‘fake’ para enrolar banhistas

Por Agência O Globo

23/10/2018 3h21 — em
Rio de Janeiro



RIO - A malandragem está enrolando os consumidores nas praias da Zona Sul. Com a lei sancionada em julho que proíbe o uso de canudos de plástico, ambulantes de barracas do Leblon estão oferecendo uma opção “biodegradável de plástico”. Nada mais é do que o velho canudinho proibido, numa embalagem onde está escrito “biodegradáveis”. A multa prevista para quem burla a legislação é de R$ 1.650.

— Esse canudo “biodegradável” dissolve mais rápido do que o outro quando jogado no mar. Estou passando o peixe que me venderam. Mas acho que é a mesma coisa. Um dissolve em 400 anos, e esse, em cem. O de papel é mais caro e ainda não chegou aqui.

Um vendedor de mate, que trabalhava ontem no Leblon, oferecia o canudo de sempre (aquele branco com listras verticais vermelhas), embalado num saco plástico com a inscrição “biodegradáveis”.

— Tenho que trabalhar — esquivou-se ele, ao ser abordado pela equipe do GLOBO.

Banhistas que bebiam água de coco pareciam acreditar no tal canudo “ecológico”.

— Guardei até o papel da embalagem — mostrou a empresária Nathália Nogueira, que estava com o marido, o empresário Henrique Pinto. — Nós pedimos dois cocos e compartilhamos um canudo. Na praia, a fiscalização é menor, nunca vi um fiscal por aqui.

A estudante de educação física Gabriela de Sá, que também tomou água de coco com o canudo “fake”, ponderou que os comerciantes não têm muita instrução, nem condições de adquirir o canudo de papel biodegradável:

— As organizações ecológicas ou a prefeitura deveriam dar suporte para eles.

Barraqueiros protestam

Em Ipanema, barracas como a do Joel, oferecem o utensílio de papel. Sócio do estabelecimento, José Luiz Gonzaga contou que paga R$ 36 por um pacote com 200 unidades, em vez dos R$ 20 que gastava pela mesma quantidade de canudos de plástico. Mas a intenção do prefeito Marcelo Crivella de abolir também os copos plásticos, conforme informou Ancelmo Gois em sua coluna no domingo, não é bem-vista pelo barraqueiro.

— Se acabarem com o copo plástico, vai ficar difícil trabalhar. Copo de papel não ia ser bem-aceito pelos clientes porque ele rasga à toa — disse Gonzaga.

A servidora pública Daniele Carneiro é contra a proibição dos copos plásticos:

— O canudo já derrete, não suga direito. Imagina tomar uma caipirinha num copo de papel? Perde o gosto. Não vai ser um canudinho e um copo que vão acabar com o meio ambiente.

Já a designer Mônica Paskin defende a troca. Segundo ela, enquanto o papel demora de três a seis meses para se decompor, o plástico leva 400 anos.

— Só uso canudo de papel e acho superválido propor a troca do copo, porque o plástico polui muito o meio ambiente. As pessoas não sabem jogar o lixo fora. Em São Paulo, o movimento já começou. As pessoas andam como copo dobrável na bolsa. É questão de consciência — disse.

O atendente Rafael Silva, que também trabalha na barraca do Joel, em Ipanema, critica o comportamento dos banhistas:

— O que eu mais vejo é canudo de papel na areia. Vão trocar o copo, e vai continuar. O que tem que mudar é a educação do povo.

Em nota, a Vigilância Sanitária informou que o canudo só pode ser de papel biodegradável ou reciclável. De 19 de julho até ontem, o órgão fez 8.222 inspeções e aplicou uma multa, no valor de R$ 1.651,83, a uma loja em Copacabana. Acrescentou que “a fiscalização é feita sob demanda”. Denúncias devem ser feitas pelo telefone 1746.


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