Trupe liderada por Malafaia no 7/9 se divide sobre Marçal e quer 'picadinho de Xandão'
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ideia, segundo um dos comensais, era servir "picadinho de Xandão". Antes o pastor Silas Malafaia almoçou um prato de frango no Tarsila, restaurante dentro de um hotel na vizinha alameda Santos. Preparava-se, neste sábado (7), para mais uma manifestação na avenida Paulista contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes no feriado da Independência.
Mais indigesta nos bastidores eram menções a Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo que avança sobre territórios antes monopolizados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus asseclas.
A mesa reuniu outros velhos conhecidos do evangelicalismo bolsonarista: o senador Magno Malta (PL-ES), o deputado Pastor Eurico (PL-PE), o apóstolo Renê Terra Nova e o pastor Jarbes Alencar. Judeu e próximo da trupe cristã, Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social de Bolsonaro, chegou depois, assim como outro ex-colega, Gilson Machado (PL), hoje candidato a prefeito de Recife.
A citação a Marçal dividiu o grupo. "Estelionatário louco" e "não é de Deus" estão entre os comentários leves que a Folha escutou sobre o concorrente que vem arrebatando duas bases centrais para essa trupe, eleitores de Bolsonaro e evangélicos. Mas houve quem o defendesse: "Político necessário", "no segundo turno voto nele".
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato abraçado oficialmente pelo ex-presidente, é visto como um problema. Anêmico demais na dieta conservadora para empolgar o eleitorado. Mas "é o que tem pra hoje", resignavam-se.
O consenso: ninguém quis falar abertamente sobre Marçal, para não escancarar certo desânimo com a candidatura de Nunes e para não ferir brios do eleitor bolsonarista que escolherá o nome do PRTB à revelia da aliança entre o PL e o emedebista.
"Tô nem aí se Pablo vem, se Pablo não vem", afirmou Malafaia no trajeto do hotel ao trio elétrico onde discursaria em algumas horas. Disse ainda que a campanha municipal não deveria ser o foco do dia, e sim Moraes, a quem jurou detonar logo mais.
Cumpriria a promessa. "Nenhum sistema ditatorial do mundo foi derrubado da noite para o dia", discursaria à multidão. "Deus, em nome de Jesus, faça justiça contra esses homens maus."
Foi nesse percurso que o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo viu um carro parar, e o motorista abrir a janela para lhe gritar "quebra com o Xandão, pastor!". Na sequência, outro homem gracejou com o bordão do autodenominado ex-coach: "Faz o M, Silas!". Não fez.
Malafaia e Marçal já se desentenderam no passado. Fizeram as pazes, mas a relação nunca foi das melhores. Melhor focar no ministro "ditador", disse o pastor.
Capelão nos cultos da bancada evangélica, Pastor Eurico falou em "ditadura da toga" e "Deus, pátria, família e liberdade" quando a reportagem lhe pediu a palavra.
Recuperando-se de uma cirurgia de prótese no joelho, Malta foi levado de carro por Wajngarten até o trio, para não ter que caminhar 800 metros de muletas.
O deputado Marco Feliciano (PL-SP) entrou no hotel perto da hora de partir. Se antes temiam a regulação das redes sociais, pior que estava ficou, com a suspensão do X por ordem de Moraes, lamentou: "Estão tirando [as redes] do ar".
Ao contrário de pares do PL-SP como Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, Feliciano não peitou o ministro publicando no ex-Twitter, a despeito do veto judicial. "Sou jurássico", justificou-se, dizendo nem saber direito o que é VPN, ferramenta que permite driblar o bloqueio.
A certa altura, ainda no Tarsila, os amigos evangélicos receberam Jane Cunha, esposa de Cleriston Cunha, o preso no ato de 8 de janeiro que morreu na Papuda. Ficou acertado que ela, a filha e a sobrinha acompanhariam a mulher do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) na manifestação. Nenhuma subiu no trio.
Quando o comboio evangélico se aproximou da Paulista, as caixas de som tocavam uma música que dizia "se Deus é por nós, quem será contra nós", para depois arrematar: "O mito voltou".
Bolsonaro chegou uma hora depois, ladeado por Nunes e pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). O locutor não anunciou o prefeito. Havia expectativa se, caso fosse, seria vaiado. Lá embaixo, na rua, era difícil vê-lo ali.
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