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Rodrigo se apoia em imagem da família Covas enquanto esconde Doria

Por Folha de São Paulo

09/08/2022 14h06 — em
Política



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em crise de identidade e dividido, o PSDB tem evocado a imagem de Mário e de Bruno Covas ao mesmo tempo em que se esquiva da figura de João Doria na campanha de Rodrigo Garcia pela reeleição ao Governo de São Paulo.

A disputa no estado é o principal desafio que restou para o partido que governou o país por oito anos (1995 a 2002), após Doria deixar a administração estadual com grande impopularidade e com sua candidatura à Presidência da República inviabilizada. Uma derrota de Rodrigo coloca o futuro dos tucanos em xeque.

A missão, porém, nunca foi tão complexa. Rodrigo está empatado com o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), tendo o petista Fernando Haddad à frente. A aposta do tucano é chegar ao segundo turno contra Haddad e, então, conseguir virar o jogo graças ao antipetismo no estado.

Em meio às adversidades, o sobrenome Covas virou um símbolo dentro do partido e uma vacina contra a explicitação do vínculo com Doria --adversários têm chamado o governador de Rodrigo Doria.

O ex-prefeito paulistano Bruno morreu em 2021, em decorrência de um câncer; seu avô, Mário, então governador, também enfrentava a doença quando morreu 20 anos antes. O nome de ambos ganhou mais destaque, inclusive, do que a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que raramente é citado em campanhas.

Na fachada do diretório do partido, na capital paulista, a decoração é emblemática: há fotos apenas de Rodrigo e Bruno Covas, além de outra do presidente da legenda no estado, Marco Vinholi.

Em seus discursos e peças de campanha, Rodrigo abre capítulos somente para homenagear Mário ou Bruno. Foi assim na convenção do PSDB em São Paulo que oficializou seu nome ao Palácio dos Bandeirantes.

Na ocasião, chamou ao palco um terceiro membro do clã, Tomás, filho de Bruno. O governador exibiu um vídeo no qual homenageou o ex-prefeito de São Paulo e abriu o seu discurso com menções ao bisavô de Tomás.

"Vivi ao lado do Mário Covas as transformações que foram realizadas no estado de São Paulo, que naquela época estava quebrado", disse Rodrigo, que se filiou ao PSDB no ano passado e depois de 27 anos no DEM.

O vídeo deixou parte do público emocionada, e Tomás foi às lágrimas. No evento, também chamou a atenção a quantidade de pessoas com camisa azul e uma listra amarela, pertencentes ao grupo Tucanáticos, formados por jovens do PSDB próximos do grupo covista da sigla, incluindo o filho do ex-prefeito.

À reportagem Tomás diz que foi surpreendido com a homenagem a Bruno.

"Meu pai hoje virou uma ideologia, um jeito de pensar. Ele e meu avô são figuras importantes, grandes nomes do PSDB", afirma Tomás. "O meu pai representava o futuro do centro democrático, a figura da renovação."

O atual governador chegou ao Palácio dos Bandeirantes na condição de vice de Doria, que se afastou, em março deste ano, para se dedicar a sua pré-campanha presidencial. Mas, em sua biografia, valoriza o início da sua relação após convite de Mário Covas.

"Aos 21 anos tive a honra e a sorte de trabalhar ao lado do Mário Covas como subsecretário de Agricultura de São Paulo. Mário Covas é, sem dúvida, a minha maior inspiração na política", diz um trecho em seu portal.

O desfecho dessa relação entre Rodrigo e Mário Covas não teve um final tão feliz assim. O primeiro deixou o Palácio dos Bandeirantes e, na eleição municipal de 1996, decidiu apoiar Paulo Maluf e Celso Pita.

Em relação a Bruno, Rodrigo tem uma diferença importante: o ex-prefeito jamais poupou Jair Bolsonaro (PL), como o atual governador vem fazendo em sua campanha em busca de votos bolsonaristas.

Durante as eleições de 2020, Bruno lembrou que anulou o voto na eleição de 2018 por não ver em Bolsonaro discurso que "agregasse valores democráticos na campanha dele" e que não era biruta de aeroporto para mudar de opinião para ganhar votos.

Desde o dia 31, Rodrigo fez ao menos quatro posts em suas redes sociais citando Mario ou Bruno Covas.

"Aprendi com o Mário Covas a nunca pegar o caminho mais fácil, mas pegar o caminho mais certo. E tudo depende de muita luta, de esforço, de suor. Mas acima de tudo está o amor", escreveu, em uma das postagens.

Em outra, fez uma homenagem a Bruno Covas. "Nunca esquecerei de quem nos trouxe até aqui. Vamos seguir andando no caminho que vocês abriram. E jamais esqueceremos seus ensinamentos: força, foco e fé. Obrigado, Bruno".

A estratégia coincide com a estratégia de esconder seu antecessor, o ex-governador João Doria (PSDB), que deixou o governo com reprovação de 36%, segundo o Datafolha.

Adversários de Rodrigo, como Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, tentam deixar claro o vínculo de Doria com o atual governador.

Doria, aliás, não compareceu à convenção que oficializou a candidatura de Rodrigo, segundo a sua assessoria de imprensa, por conta de uma viagem de negócios para os Estados Unidos. Antes, havia uma dúvida se o ex-governador fizesse discurso ou se comportaria de forma discreta.

Bolsonaristas, por sua vez, têm se referido ao governador como Rodrigo Doria.

"O que o Rodrigo Doria está dizendo, é que se você não nasceu no Estado de SP, mas mora é vota aqui, você também é um paulista fake. Ele não respeita quem veio de outro estado para fazer a vida aqui!", escreveu a deputada federal Carla Zambelli (PL), referindo-se à estratégia do governador de atacar Tarcísio devido à sua falta de vínculos com o estado.

A reportagem também localizou vários perfis de robôs se referindo a Rodrigo como Rodrigo Doria.

A estratégia se repetiu durante o debate da TV Bandeirantes, com os candidatos ao Governo de São Paulo, no domingo (7). Em uma das respostas, Rodrigo chegou a citar Covas, Geraldo Alckmin (ex-PSDB e atual PSB), José Serra (PSDB) e, quando chegou à atual gestão, disse "nosso governo", sem mencionar Doria.

Durante o programa, Rodrigo ainda citou a elaboração do Poupatempo, vitrine da gestão de Mário Covas. Haddad rebateu afirmando que o equipamento foi elaborado quando Rodrigo atuava na gestão de Celso Pitta (PP) -na ocasião, ele era chefe de gabinete da Secretaria de Planejamento da Prefeitura de São Paulo, então comandada por Gilberto Kassab (hoje no PSD).


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