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Gleisi Hoffmann Avanço de Lula reflete vontade do eleitor de decidir no 1° turno

Por Folha de São Paulo

28/05/2022 6h36 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, avalia que o resultado da pesquisa Datafolha divulgado nesta quinta-feira (26) indica que o eleitor quer "antecipar o resultado" da disputa pelo Palácio do Planalto para o primeiro turno.

O levantamento mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 48% das intenções de voto, contra 27% de Jair Bolsonaro (PL).

Para Gleisi, a melhora nos índices de Lula na pesquisa tem relação com a piora na economia e com a alta de preços. "As pessoas querem decidir logo, porque isso tem a ver com a vida delas."

Em entrevista à Folha, a deputada diz que vai insistir na ampliação de um leque de alianças e atrair setores do PSD e do MDB. Ela nega a existência, porém, de qualquer ofensiva sobre Ciro Gomes (PDT).

Questionada sobre as críticas do pré-candidato do PDT a Lula, ela afirma que as declarações têm servido de munição para apoiadores de Bolsonaro. "Sobre ser linha auxiliar do Bolsonaro, nós nunca falamos isso. Agora, que a militância do Bolsonaro tem utilizado o Ciro para tentar atingir o Lula, isso tem."

A parlamentar minimiza eventuais equívocos cometidos por Lula nos últimos meses, mas indica que temas ligados à agenda conservadora, como o aborto, podem ser evitados na campanha.

"Essa não é uma disputa religiosa, é uma disputa política. A centralidade é a vida das pessoas", comenta. "A discussão do aborto não é uma discussão de disputa de Presidência da República. É uma questão de convicção, de foro íntimo das pessoas."

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PERGUNTA - Como a campanha interpreta o crescimento de Lula?

GLEISI HOFFMANN - A pesquisa mostra que Lula é cada vez mais a esperança diante do desemprego, da fome, do custo de vida, dos problemas reais que Bolsonaro ignora. Ele tergiversa e coloca outra pauta que não tem interesse para o povo. Mas temos que ter muito pé no chão. Sei que a militância fica empolgada, mas temos que seguir em frente com a linha que Lula está dando.

P. - A sra. trabalha com a perspectiva de vitória em primeiro turno?

GH - O eleitor está querendo antecipar o resultado. As pessoas querem decidir logo, porque isso tem a ver com a vida delas. Nós tivemos um estudo que mostra uma consolidação muito grande de votos, de mais de 70% tanto em Lula como em Bolsonaro. Mostra uma vontade do eleitor de decidir logo. É uma eleição polarizada, são dois campos distintos, e as pessoas querem resolver.

P. - Um cenário de antecipação de votos favorece alguma aproximação com o PDT?

GH - Eu não tenho conversado com o [presidente do PDT, Carlos] Lupi, até em respeito à decisão do PDT de ter candidatura. Não tem pressão nossa sobre Ciro Gomes. Nunca teve, isso não é uma diretriz da campanha. Nós mostramos disposição de conversar. Eles não têm disposição, e nós respeitamos.

P. - Ciro argumentou que a saída dele aumentaria a polarização e ajudaria Bolsonaro. E setores do PT acreditam que a permanência dele, com as críticas a Lula, favorece Bolsonaro. Com qual visão a sra. concorda?

GH - A polarização está dada. Não é o Ciro que define a polarização. É o que o eleitorado está sentindo, está vendo dois campos nítidos. Sobre [Ciro] ser linha auxiliar do Bolsonaro, nós nunca falamos isso. Agora, que a militância do Bolsonaro tem utilizado o Ciro para tentar atingir o Lula, isso tem.

P. - A sra. acredita que, ao manter a candidatura com críticas o Lula, ele ajuda Bolsonaro?

GH - Não sou eu que acho. São os bolsonaristas que estão utilizando ele.

P. - Para vencer, Lula ainda precisa conseguir mais votos fora da esquerda?

GH - Ele já tem votos fora da esquerda. A pesquisa mostra que uma grande parcela do povo brasileiro está com ele, e o povo brasileiro não se diz de esquerda. Vamos continuar buscando a ampliação do movimento, sem tirar o foco da linha que estamos adotando, que é a vida do povo.

P. - Quando fala em ampliação de alianças, a sra. inclui o PSD?

GH - A gente tem conversado muito com eles. Vou tentar até o final, mas compreendo as dificuldades que o PSD tem de fechar formalmente uma aliança de primeiro turno. Assim como estamos conversando com setores do MDB, embora respeitemos a candidatura da [senadora] Simone [Tebet]. Ainda vamos conversar com Avante, também respeitamos a candidatura do [deputado André] Janones.

P. - Depois da saída de João Doria (PSDB) da disputa, o PT vai buscar o apoio de tucanos?

GH - Temos que respeitar o tempo das pessoas e dos partidos. Não temos nenhuma ofensiva sobre o PSDB.

P. - Se o ex-presidente Lula for eleito, a coalizão de governo pode incluir o PP e o PL, que apoiam Bolsonaro?

GH - Vai depender da representação desses partidos no Congresso. Vamos nos relacionar com o Congresso que o povo eleger. Isso o presidente Lula fez nos dois mandatos dele. Vamos apresentar as nossas propostas e vamos negociar. Não temos problema nenhum de fazer isso. Sabemos que vai ter um núcleo de oposição duro, mas tem muitos partidos que podem vir e conversar, já fizeram isso conosco anteriormente.

P. - O PT pode rever o apoio a Marcelo Freixo (PSB) no Rio de Janeiro se entender que essa candidatura a governador atrapalha Lula?

GH - Isso é prego batido e ponta virada, nós iremos com Freixo no Rio.

Temos esse compromisso. Eu espero que o PSB encaminhe a sua posição para aquilo que tínhamos conversado: Freixo seria candidato a governador, e o PT indicaria o candidato ao Senado, que é o [deputado estadual] André Ceciliano.

Em São Paulo, houve avanço para definir se Fernando Haddad (PT) será o candidato único da aliança a governador ou se Márcio França (PSB) também vai disputar o cargo?"‚O presidente Lula esteve com [Geraldo] Alckmin e Márcio França. É muito importante estarmos juntos com o PSB em São Paulo. Acho que, se estivermos juntos, temos condições de ganhar o estado de São Paulo. Assim como no Brasil, nos estados a eleição vai ser polarizada.

P. - Qual deve ser o papel de Alckmin na campanha?

GH - Alckmin simboliza esse movimento de ampliação que estamos fazendo. É uma liderança importante no cenário político, e queremos que ele tenha um papel ativo na campanha em todas as áreas. Consideramos muito a sua opinião e seus posicionamentos.

P. - Ele vai ser um interlocutor com setores como os evangélicos ou no empresariado?

GH - Ele vai ser interlocutor com os setores que ele quiser e com que ele achar que pode ajudar. Ele tem experiência para isso e tem caminhada para decidir.

P. - No início da semana, a sra. disse que o PT conversou com economistas como Pérsio Arida, que tem ligação histórica com o PSDB. Nomes como esse vão participar da elaboração do plano de governo?

GH - O pessoal fica ansioso para ter um economista da campanha que seja referência para a mídia e para o mercado. Vamos conversar com todos aqueles que se dispuserem a conversar. A presença do Alckmin na chapa pode trazer economistas que não são da nossa relação. Isso não quer dizer que vamos ter qualquer mudança daquilo que é essencial em relação à economia. Lula tem sido muito claro nesse sentido.

P. - Alguns pontos da agenda desses economistas podem ser absorvidos?

GH - Pode ter um ou outro ponto que podemos encaminhar. Austericídio fiscal nós não teremos. Para tirar o país da crise, vamos precisar que o Estado entre firme em investimentos e programas sociais. Já temos uma posição dentro do PT de sermos contrários ao teto de gastos.

P. - Revogar o teto seria uma das primeiras medidas do PT num eventual governo?

GH - Depende do Congresso, mas eu acredito que o Congresso não vai se negar a tomar medidas emergenciais para tirar o Brasil da crise. Se o presidente Lula está se propondo a governar esse país, é para fazer diferente do que está sendo feito agora.

P. - Que modelo a campanha estuda para mudar a política de preços da Petrobras?

GH - Tem que desdolarizar. Como está, não dá para ficar, porque é uma política que prejudica o povo, causa inflação e só atende aos interesses daqueles que querem lucro. O ex-presidente Lula já governou este país. Na época dele, tínhamos um equilíbrio nos preços. Em oito anos de governo, os combustíveis subiram apenas oito vezes. Nós temos como ajustar isso e colocar os preços dos combustíveis a serviço do povo e do desenvolvimento do Brasil.

P. - A sra. concorda com planos do governo Bolsonaro como aumentar o período entre reajustes de preços dos combustíveis?

GH - Isso é cortina de fumaça. Eles estão indo para o final do governo e não fizeram absolutamente nada. Só discurso, esqueça.

P. - Que mudanças a campanha planeja na reforma trabalhista?

GH - Nós colocamos a revogação da reforma com a apresentação de uma proposta que dê conta da nova realidade do mercado de trabalho, principalmente o trabalho precário, o trabalho em plataformas. Nós queremos fazer isso discutindo com empregadores e trabalhadores.

P. - Um dos setores em que o presidente Bolsonaro mantém um desempenho competitivo é o evangélico. Lula vai evitar temas conservadores para não perder terreno nesse eleitorado?

GH - ‚Essa não é uma disputa religiosa, é uma disputa política. A centralidade é a vida das pessoas. O povo evangélico está sofrendo tal qual o povo de qualquer outra religião.

P. - Mas Bolsonaro cita questões ligadas ao público conservador para ampliar a rejeição ao PT. O ex-presidente Lula vai se posicionar em relação a elas?

GH - Bolsonaro cita esses temas porque não tem resposta para dar sobre a vida das pessoas. Ele traz discussões que não cabem no campo da política e nem na função de um presidente. Ele faz isso, aposta nisso, e parece que isso não está dando muito certo.

P. - Lula deu declarações que foram consideradas equivocadas por alguns aliados, como no caso do aborto. É um erro tocar nesses assuntos?

GH - Eu me baseio no que está explicitado pela vontade popular. Parece que o povo não está julgando erro do presidente Lula. A discussão do aborto não é uma discussão de disputa de Presidência da República. É uma questão de convicção, de foro íntimo das pessoas. Se tiver que fazer um debate como esse, é no âmbito do Congresso, no âmbito da sociedade.


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