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Farmacêutica diz à CPI que faturou 8 vezes mais em 2020 com medicamentos do 'kit Covid'

Por Folha de São Paulo

17/06/2021 17h05 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A farmacêutica EMS informou à CPI da Covid no Senado que faturou R$ 142 milhões com medicamentos do "kit Covid" em 2020, valor oito vezes superior ao registrado no ano anterior. Apenas a soma com a venda de ivermectina foi de R$ 2,2 milhões para R$ 71,1 milhões na pandemia.

O laboratório também produziu azitromicina, hidroxicloroquina e nitazoxanida, medicamentos ineficazes contra o vírus, mas que se tornaram bandeira do presidente Jair Bolsonaro na crise sanitária.

Em 2020, Bolsonaro pediu para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, liberar a exportação de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina pela Apsen e EMS. A interferência de Bolsonaro está na mira da comissão.

A EMS também disse que faturou R$ 20,9 milhões com a venda de hidroxicloroquina em 2020, cerca de 20 vezes mais do que no ano anterior, quando não havia a pandemia.

Em nota enviada à reportagem, a farmacêutica afirmou que sempre vende seus medicamentos para fins previstos em bula, "não tendo comercializado nenhum suposto kit relacionado à Covid".

A empresa disse, no mesmo texto, que produz a hidroxicloroquina desde setembro 2019 e que as vendas do primeiro ano não podem ser comparadas ao faturamento de 2020.

"No ano passado, as vendas de hidroxicloroquina representaram 0,2% do faturamento total da empresa e 11,6% do mercado total desse medicamento", declarou a farmacêutica.

As informações repassadas pela EMS à CPI não detalham em que mês os medicamentos passaram a ser produzidos. A empresa informou à comissão que deve faturar R$ 31 milhões com a venda de hidroxicloroquina em 2021, ou seja, cerca de R$ 10 milhões a mais do que no ano anterior.

Os dados enviados à CPI ainda mostram que a EMS produziu cerca de nove vezes mais comprimidos das drogas do "kit Covid" no primeiro ano da pandemia. A empresa enviou os dados na noite desta quarta-feira (16), a pedido do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

Há requerimentos na CPI tanto para convocar Carlos Sanchez, presidente do conselho de administração do Grupo NC, detentor da EMS, como para quebrar o sigilo telefônico, telemático, fiscal e bancário do empresário.

Depois da ivermectina, o maior faturamento da EMS em 2020 com medicamentos do "kit Covid" foi com a azitromicina (R$ 46,2 milhões), hidroxicloroquina (R$ 20,9 milhões) e nitazoxanida (R$ 3,67 milhões).

Em nota, a EMS disse que "boa parte" das caixas de azitromicina produzidas em 2020 foi doada à OMS (Organização Mundial da Saúde). "A empresa é responsável pela venda de 6,2% do medicamento no Brasil."

A farmacêutica disse ainda que detém 14,2% do mercado nacional de invermectina, e 0,7% da venda total de nitazoxanida.

Bolsonaro estimula o uso destes medicamento para a Covid. Ele mesmo repete que usou o kit e chegou a apontar uma caixa de hidroxicloroquina para uma ema que vive no Palácio da Alvorada.

Após participar de um passeio de moto com apoiadores no último dia 12, em São Paulo, o presidente citou o medicamento e disse que "não faz mal nenhum" usá-lo.

A EMS disse que os dados entregues à comissão espelham um cenário "fortemente marcado pela pandemia", a partir de março de 2020, quando a primeira onda atingiu a Europa e a hidroxicloroquina era estudada como possível tratamento.

"Na época, houve uma forte procura espontânea pela hidroxicloroquina, o que impactou todo o setor farmacêutico no Brasil. Assim, a empresa apoiou, com o fornecimento de hidroxicloroquina, dois dos principais estudos clínicos no país para verificar a eficácia e segurança do uso do medicamento contra a Covid, realizados pela Coalizão Covid-19 Brasil, envolvendo os principais hospitais e centros médicos do país, que apontaram a ineficácia do produto", disse a EMS.

Em ofício enviado à CPI a empresa também confirmou que apoiou estudos científicos que avaliaram o uso da hidroxicloroquina para Covid-19.

“A primeira pesquisa apoiada pela companhia foi publicada em 23.07.2020, no New England Journal of Medicine, e concluiu que o uso de hidroxicloroquina, sozinha ou associada com azitromicina, não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes adultos hospitalizados com formas leves ou moderadas de Covid-19”, disse a EMS.

A farmacêutica afirmou que divulgou o resultado dos estudos e alertou o público de que a hidroxicloroquina só deve ser usada sob prescrição médica. A empresa também disse que divulgou a falta de “respaldo científico” sobre a eficácia da droga contra a Covid.

A empresa também disse à CPI que de janeiro a maio de 2021 faturou R$ 11,85 milhões com a hidroxicloroquina. Além disso, projeta mais R$ 19,21 milhões com a droga até dezembro.

Na pandemia, Bolsonaro apostou no uso dos medicamentos do "kit Covid", contrariando recomendações de entidades como a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Apenas o Laboratório do Exército fez mais de 3,2 milhões de comprimidos da cloroquina. A produção anterior neste órgão havia sido de 256 mil unidades, em 2017.

Além disso, o governo recebeu uma doação de 3 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina do governo dos Estados Unidos, em 2020.

A insistência de Bolsonaro pela adoção dos medicamentos do "kit Covid" como política pública ainda levou à saída de dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Nelson Teich.

Logo ao assumir a Saúde, em maio de 2020, o general Eduardo Pazuello atendeu a pedido do presidente e editou uma nota do ministério orientando o uso da hidroxicloroquina logo aos primeiros sintomas da pandemia.

Já o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse à CPI que o uso precoce destes fármacos influencia "muito pouco" no curso da pandemia. "Se eu ficar aqui discutindo a discussão do ano passado, eu não vou em frente", disse o ministro no último dia 8 aos senadores.


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