Facebook remove 73 contas falsas ligadas aos Bolsonaros
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Facebook afirmou nesta quarta-feira (8) que removeu 73 contas falsas ligadas a integrantes do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e aliados. Parte delas promovia propagação de ódio e ataques políticos. Foram removidas 35 contas do Facebook e 38 do Instagram que, segundo a empresa, atuaram para manipular o uso da plataforma antes e durante o mandato de Bolsonaro. Essa manipulação consistia em atividades como a criação de pessoas fictícias que se passavam por repórteres. Os dados que constam das investigações da plataforma foram analisados por pesquisadores americanos que apontam para, ao menos, cinco funcionários e ex-funcionários dos gabinetes bolsonaristas. O Facebook e o Instagram identificaram páginas e contas com conteúdo de ataques a adversários políticos feitos por Tércio Arnaud Thomaz, 31, assessor especial da Presidência da República e que faz parte do chamado "gabinete do ódio" ou "gabinete da raiva". O grupo, tutelado pelo vereador licenciado Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), é responsável por parte da estratégia digital bolsonarista. Eles chegaram ao governo com o objetivo de manter viva a militância digital responsável por alçar Bolsonaro à Presidência. Os pesquisadores americanos encontraram, também, ligações da rede com um assessor de Carlos. O Facebook não mencionou o vereador em seu comunicado oficial, mas os pesquisadores descobriram que um dos funcionários envolvidos na operação trabalhava para ele. Além da página Bolsonaro Opressor 2.0, seguida por mais de 1 milhão de pessoas no Facebook, foi identificada a conta @bolsonaronewsss, também sob administração de Tércio, com 492 mil seguidores e mais de 11 mil publicações. De acordo com o estudo, muitas dessas postagens feitas por Tércio foram publicadas durante o horário comercial, ou seja, podem ter sido feitas durante o expediente dele no Planalto. Também foram citadas contas e páginas de dois assessores do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O Facebook também achou indícios de assessores do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na operação. "Nossa investigação encontrou ligações a pessoas associadas ao PSL (Partido Social Liberal) e a alguns dos funcionários nos gabinetes de Anderson Moraes, Alana Passos, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro", afirmou a empresa, que fez uma investigação interna mais ampla e identificou redes inautênticas também no Canadá, no Equador, na Ucrânia e nos Estados Unidos. Anderson Moraes e Alana Passos são deputados estaduais do PSL no Rio, ligados à família Bolsonaro. Os conteúdos eram sobre notícias e eventos locais e, de acordo com o Facebook, incluíam política e eleições, memes, críticas à oposição política, organizações de mídia e jornalistas, e mais recentemente sobre a pandemia do coronavírus. A empresa disse que barrou as contas concentradas "no comportamento, e não no conteúdo". O total gasto com anúncio no Facebook foi de cerca de US$ 1.500, pagos em reais (R$ 8.025 na cotação atual). As contas tinham cerca de 883 mil seguidores. Também foi detectado um grupo com cerca de 350 pessoas. No Instagram, eram 917 mil ao todo. A derrubada fez parte de uma investigação interna mais ampla, que eliminou quatro redes distintas por violação da política do Facebook "contra interferência estrangeira e comportamento inautêntico coordenado". Além de Brasil, as redes foram identificadas no Canadá, Equador, na Ucrânia e nos Estados Unidos. No total da investigação internacional, a empresa removeu 41 contas e 77 páginas no Facebook, além de 56 contas no Instagram, por violarem a "política contra interferência estrangeira". "Essa rede usava uma combinação de contas reais e falsas, algumas das quais já tinham sido detectadas e removidas por nossos sistemas automatizados", afirmou a empresa. A rede usava contas falsas para que parecessem nativos dos países-alvo, postava e curtia o próprio conteúdo, além de direcionar as pessoas para sites fora das plataformas do Facebook. "A rede postou conteúdos sobre notícias domésticas e eventos, incluindo política, ativismo, elogios e críticas a candidatos políticos, eleições, governo da Venezuela, suporte e críticas ao presidente do Equador, partidos políticos da região incluindo o Farabundo Martí National Liberation Front em El Salvador, o Partido Justicialista na Argentina, e o Partido Progresista no Chile", diz o Facebook. A reportagem procurou os responsáveis pelas páginas e aguarda um posicionamento. OUTRO LADO Em nota, o senador Flavio Bolsonaro disse que o governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais "e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio". "Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes", afirmou. "Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura." Ela afirmou, ainda, que julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa "não condizem com a nossa democracia" e "são armas que podem destruir reputações e vidas". A deputada Alana Passos afirmou que não foi notificada pelo Facebook sobre qualquer irregularidade ou violação de regras" nas suas contas. "Quanto a perfis de pessoas que trabalharam no meu gabinete, não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade". O PSL negou vínculo com contas de derrubadas. "A respeito da informação que trata da suspensão de contas do Facebook de alguns políticos no Brasil, não é verdadeira a informação de que sejam contas relacionadas a assessores do PSL, e sim de assessores parlamentares dos respectivos gabinetes, sob responsabilidade direta de cada parlamentar, não havendo qualquer relação com o partido." "O partido esclarece que os políticos citados, na prática, já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido, inclusive, tendo muitos deles sido suspensos por infidelidade partidária. Ainda, tem sido o próprio PSL um dos principais alvos de fake news proferidos por este grupo", afirmou. Por meio de nota, a assessoria de imprensa do deputado Anderson Moraes afirmou que ele tem um perfil verificado, que não sofreu bloqueio ou qualquer aviso de ter violado qualquer regra da rede. "Mas excluíram a conta de uma pessoa que trabalha no gabinete, uma pessoa com perfil real, não é falsa. A remoção da conta foi absurda e arbitrária, porque postava de acordo com ideologia e aquilo que acreditava", disse. Segundo ele, o Facebook em nenhum momento apontou o que estava em desacordo com as regras. "Qual motivo excluíram? Falam em disseminação de ódio, mas será que também vão deletar perfis de quem desejou a morte do presidente?", questiona. Moraes afirmou que a medida é um atentando contra a liberdade de expressão e que contraria princípios democráticos. Os demais citados foram procurados, mas ainda não se manifestaram.
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