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Eleição de 2022 fica longe da antipolítica com nomes experientes nas principais disputas

Por Folha de São Paulo

15/10/2021 19h36 — em
Política



SALVADOR, BA, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - As eleições para governador nos maiores colégios eleitorais serão protagonizadas por candidatos com experiência administrativa, trajetória de mandatos eletivos e distantes do discurso antipolítica das eleições de 2018, marcada pela ascensão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Levantamento do jornal Folha de S.Paulo aponta que, faltando um ano para as eleições, já são cerca de 50 pré-candidatos nos 10 estados com maior eleitorado do país. Dentre eles estão governadores, prefeitos e senadores, além de ex-governadores e ex-prefeitos.

Eles vão para as urnas amparados pela popularidade do trabalho de combate à pandemia e, em sua maioria, com os cofres cheios para o lançamento de pacotes de obras e programas de transferência de renda em estados e municípios.

Dos governadores dos dez maiores colégios eleitorais, cinco vão concorrer à reeleição no próximo ano. Em sua maioria, são governadores que chegaram ao poder em 2018 embalados por uma onda conservadora e que terão 2022 como uma espécie de teste de fogo na trajetória política.

É o caso, por exemplo, do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Ao contrário de 2018, quando disputou e venceu sua primeira eleição, o empresário vai concorrer a um novo mandato amparado por uma ampla coligação que deve incluir até antigos protagonistas da política mineira, caso do PSDB.

Por outro lado, terá um cenário menos favorável do que o de 2018, quando os adversários Fernando Pimentel (PT) e Antonio Anastasia (PSD) viviam momentos de baixa. Desta vez, Zema deve enfrentar um político em ascensão: o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).

A situação é parecida no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, que também elegeram em 2018 nomes de fora da política embalados pela onda conservadora. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL), que assumiu o cargo em definitivo em maio após o impeachment de Wilson Witzel, vai disputar a reeleição.

Para isso, buscou um partido mais robusto. Filiou-se ao PL, legenda que ganhou força no Rio ao filiar 10 novos prefeitos, além dos senadores Romário e Carlos Portinho.

Em Santa Catarina, por outro lado, o governador Carlos Moisés (sem partido) enfrenta um cenário complexo após responder a dois processos de impeachment, dos quais foi absolvido.

O bombeiro militar que surpreendeu os políticos tradicionais e foi eleito governador como o "candidato de Bolsonaro" está isolado politicamente e deve enfrentar em 2022 adversários à esquerda e à direita, inclusive no campo bolsonarista.

Ainda concorrem a um novo mandato dentre os principais colégios eleitorais os governadores Helder Barbalho (MDB), no Pará, e Ratinho Júnior (PSD), no Paraná. Ambos concorrerão como favoritos, amparados por amplas coligações.

Também devem disputar a reeleição dois vice-governadores tucanos que assumirão os cargos em abril do próximo ano, com as prováveis renúncias dos presidenciáveis Eduardo Leite e João Doria. São eles Ranolfo Vieira Júnior, no Rio Grande do Sul, e Rodrigo Garcia, em São Paulo.

No caso específico de São Paulo, também são pré-candidatos nomes experientes como os ex-governadores Márcio França (PSB) e Geraldo Alckmin, que devem sair com uma única candidatura, além do ex-prefeito da capital Fernando Haddad (PT).

Também é pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL). Ele nunca ocupou cargos eletivos, mas traz no currículo eleições para a Presidência, em 2018, e para a Prefeitura de São Paulo em 2020, quando ficou em segundo lugar.

Além de França e Alckmin, pelo menos outros quatro ex-governadores devem tentar voltar ao cargo nos maiores colégios eleitorais. Dois deles encerraram os mandatos em 2018 sem conseguir fazer o sucessor: Simão Jatene (PSDB) no Pará e Raimundo Colombo (PSD) em Santa Catarina.

No Paraná, Roberto Requião, que já governou o estado por três vezes, tenta unificar a oposição em torno do seu nome para enfrentar Ratinho Júnior. Para isso, deixou o MDB, que em seu estado se alinhou ao governador e deve migrar para uma legenda mais à esquerda como PT ou PDT.

Requião faz parte de um grupo de ao menos 11 partidos que se organizaram para debater os problemas do estado. Com legendas como PSOL, PT e PSDB, o movimento foi apelidado de “geringonça do Paraná”, em referência à coalizão de adversários que saiu vitoriosa em Portugal.

Outro ex-governador que tentará voltar ao cargo é Jaques Wagner (PT), atualmente senador pela Bahia. Do lado adversário, ele enfrentará ACM Neto (DEM), ex-prefeito de Salvador que também concorrerá ao Governo da Bahia.

Junto com ele, ao menos oito ex-prefeitos e sete prefeitos em meio de mandato estão entre os pré-candidatos nos maiores colégios eleitorais do país.

Pernambuco é o estado que concentra a maioria deles. No campo da situação, o ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio (PSB) é o nome escolhido para a sucessão do governador Paulo Câmara.

Na oposição, prefeitos bem-avaliados se posicionam: Miguel Coelho (DEM), de Petrolina, Raquel Lyra (PSDB), de Caruaru, e Anderson Ferreira (PL), de Jaboatão dos Guararapes.

Os três foram reeleitos com facilidade em 2020 e se articulam para colocar fim ao ciclo de 16 anos de poder do PSB em Pernambuco.

Outro ex-prefeito que deve ser candidato, só que no Ceará, é Roberto Cláudio, que governou Fortaleza de 2013 a 2020. Pré-candidato do PDT ao Palácio da Abolição, ele tem o apoio do pré-candidato a presidente Ciro Gomes e do senador Cid Gomes, ambos ex-governadores.

Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela UnB (Universidade de Brasília), lembra que, ao contrário de 2018, a maior parte dos governadores chegarão às eleições de 2022 sem problemas de caixa e adotando políticas distributivas para mitigar os efeitos da pandemia.

“Será uma eleição com um processo político mais previsível do que em 2014 e 2018, que foram duas eleições muito afetadas pelo lavajatismo. Tendo a achar que haverá mais reeleições nos estados no próximo ano”, avalia Barreto.

Ele afirma que possíveis surpresas dependerão de dois fatores: a força com que o bolsonarismo chegará às eleições e a capacidade que a esquerda terá na ascensão de novos atores políticos. Também podem ganhar força candidatos mais ricos, com capacidade de financiar suas próprias campanhas.

Das cerca de 50 pré-candidaturas cogitadas nos 10 colégios eleitorais, apenas cinco não têm ou tiveram mandatos eletivos.

Mas parte deles já possui cancha eleitoral, caso por exemplo de Guilherme Boulos (PSOL) e Everaldo Eguchi (PSL) – este último é delegado federal e vai tentar resgatar no Pará o fenômeno eleitoral de 2018, quando candidatos de origem militar ou policial saíram vitoriosos nas urnas.

Outros nomes são o do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz (PSD), pré-candidato no Rio de Janeiro que deve enfrentar em sua estreia nas urnas pesos pesados como o governador Cláudio Castro e o deputado federal Marcelo Freixo (PSB).

Em São Paulo, são cotados dois novos nomes ligados ao bolsonarismo: o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ambos não são filiados a partidos e nunca disputaram eleições.​


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