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Eduardo Serra, do PCB, diz que tentará extinguir polícias no RJ

Por Folha de São Paulo

19/05/2022 15h36 — em
Política



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Eduardo Serra (PCB) diz que vai tentar extinguir as polícias Militar e Civil e criar uma nova instituição com bases civis caso seja eleito ao Governo do Rio de Janeiro. Ele foi o terceiro pré-candidato às eleições fluminenses sabatinado pela Folha de S.Paulo e pelo UOL, nesta quinta-feira (19).

"As polícias, como são organizadas atualmente, [...] consideram todo pobre, todo negro, suspeito. É uma polícia que age com muita violência, principalmente nas comunidades de baixa renda. Nós temos uma proposta que é a extinção das duas policias que existem hoje e a criação de uma nova policia civil uniformizada", afirmou. A medida dependeria de mudanças na Constituição.

A ideia, segundo ele, seria alterar a orientação da corporação para ações preventivas, educativas e investigativas, e criar o que chamou de um conselho popular de segurança, para debater a questão com a população. "Sem nenhuma concessão ao crime organizado de qualquer tipo", acrescentou.

Questionado se a proposta não seria inviável, o carioca rebateu que são poucos os países no mundo que têm policias militares. Criticou ainda as operações em favelas, que para ele não conseguem desarticular as facções, e defendeu que agir dentro da lei aumenta a eficácia da polícia.

Eduardo Serra tem 66 anos e é professor da UFRJ (Universidade Federal do RJ), na Escola Politécnica e no Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid). Nos anos 1970, participou dos movimentos estudantil e sindical que combatiam a ditadura militar (1964-1985).

O político já concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2008 e ao governo do estado em 2010. Também foi candidato ao Senado em 2014.

Com 5% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, divulgada em 7 de abril, Serra afirmou que as eleições "são parte de uma luta maior" para o Partido Comunista Brasileiro, que tem como objetivo "uma transformação profunda da sociedade, superando o capitalismo".

"Nos apresentamos primeiramente como uma alternativa de esquerda, esquerda socialista. Como isso, nos diferenciamos de outras forças que estão à esquerda, mas se colocam no campo da social-democracia, propondo mudanças que suavizam as condições da exploração do trabalho. Para nós as eleições são um momento importante para colocar essas ideias", disse.

O político argumentou que o partido não propõe uma utopia de curto prazo, mas um programa "realizável", que visa a expansão da saúde pública gratuita de qualidade para todos, a universalização da educação, o pleno emprego, a reindustrialização do país e uma reforma agrária que gere empregos no campo.

"Nós debatemos as ideias socialistas adequadas ao período em que nós estamos vivendo. Fazemos um balanço crítico das experiências socialistas do século 20 e de algumas que continuam com esse caráter socialista no século 21."

Ele refutou a teoria de que os seus 5% de intenções de voto se devam a uma confusão por parte do eleitorado com os nomes do ex-governador paulista José Serra (PSDB) ou do prefeito carioca Eduardo Paes (PSD). Disse que grande parte de seus eleitores são jovens, negros, mulheres e pessoas de baixa renda.

"Isso é uma reação ao crescimento do PCB, é uma tentativa de jogar água no chope", rebateu.

A disputa ao governo do Rio hoje é liderada pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSB) e pelo atual governador fluminense, Cláudio Castro (PL), com 22% e 18% dos votos respectivamente, no cenário mais provável até aqui. Como a margem de erro é de três pontos percentuais, eles estão em empate técnico.

Perguntado por que o PCB decidiu lançar um nome próprio em vez de, por exemplo, apoiar Freixo, Serra respondeu que ele "tem uma trajetória de luta, coragem, enfrentou milícias" e que o PSOL é um partido parceiro, mas que sua candidatura pelo PSB não é de esquerda.

"Se apresenta como uma candidatura de centro, que compõe inclusive com seguimentos mais conservadores. Então entendemos que, embora estejam no campo da oposição ao [presidente Jair] Bolsonaro, [...] entendemos que o programa apresentado pelo Freixo não é suficiente", disse.

O professor citou como exemplo os problemas nos transportes do estado, afirmando que "não basta dizer que vai fiscalizar melhor". Sua proposta é estatizar o setor, criando uma empresa pública com o objetivo de integrar os modais em um bilhete único e caminhar em direção à "tarifa zero".

Também questionado sobre a estratégia de concorrer a uma vaga no Executivo, e não no Congresso Nacional —onde o PCB não tem nenhuma cadeira—, o pré-candidato mencionou barreiras do sistema eleitoral brasileiro e afirmou que o partido vive um momento de lançamento de nomes.

"O partido passou por um momento difícil nos anos 1990, como o movimento comunista internacional de forma geral, e se reconstruiu. Hoje é um partido presente nas lutas sociais, na juventude, na intelectualidade", disse, acreditando que haverá mais candidatos capazes de se eleger no próximo pleito e citando o Chile como exemplo.

"O partido comunista do Chile ficou um tempo sem ter representações, aos poucos ele foi se reconstruindo e passou a ter alguns representantes no Congresso, e agora elegeu uma bancada significativa. [...] É hoje um partido decisivo no debate político", declarou. "No Brasil vai acontecer a mesma coisa."

Sobre a gestão atual de Cláudio Castro, Serra mencionou que ele assumiu o governo como vice de Wilson Witzel, que sofreu um impeachment em abril de 2021, e compartilha das mesmas políticas "antitrabalhador, antipovo" de Bolsonaro.

"É uma pessoa hábil, mas que de fato o que fez até agora foram coisas muito pequenas, mais como efeito e demonstração do que propriamente para empreender mudanças mais profundas a favor da maioria da população", afirmou, citando ações promovidas na favela do Jacarezinho, palco da operação policial mais letal do RJ há um ano.

Para ele, o fato de quase todos os ex-governadores do estado terem sido presos nos últimos anos tem a ver com a corrupção sistêmica no país e a influência dos grades grupos econômicos no poder público. Por isso a defesa da participação direta da população e de um programa anticapitalista.

A sabatina desta quinta foi conduzida pelos colunistas do UOL Kennedy Alencar e Chico Alves e pelo repórter da Folha de S.Paulo Italo Nogueira, que também entrevistarão Cyro Garcia (PSTU) às 16h. As conversas são ao vivo, e cada pré-candidato tem direito a 60 minutos de fala.

O ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Felipe Santa Cruz (PSD) abriu a série de sabatinas na segunda (16). Na quarta (18), foi a vez do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) e do ex-governador Anthony Garotinho (União Brasil). Na sexta (20), estão confirmados Freixo, às 10h, e Cláudio Castro, às 16h.

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CONFIRA AS DATAS DAS PRÓXIMAS SABATINAS E DOS DEBATES

Sabatinas confirmadas no RJ

Cyro Garcia (PSTU) - 19/5 - 16h

Marcelo Freixo (PSB) - 20/5 - 10h

Cláudio Castro (PL) - 20/5 - 16h

Sabatinas presidenciais​

2º turno - de 10 a 14/10

Debates presidenciais

2º turno - 13/10, às 10h

Debate com candidatos à Vice-Presidência

1º turno - 29/9, às 10h

Debate com candidatos ao Senado

1º turno - 27/9, às 10h

Sabatinas com pré-candidatos ao Governo de SP​

2º turno - de 17 a 21/10

Demais sabatinas

Semana de 23/5 - BA

Semana de 30/5 - PR

Semana de 06/6 - RS

Semana de 13/6 - PE

Semana de 20/6 - CE

Debates com candidatos ao Governo de SP

1º turno - 19/9, às 10h

2º turno - 20/10, às 10h ​


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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