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Datafolha no Rio: na véspera do 2º turno, Paes marca 68%, e Crivella, 32%

Por Folha de São Paulo

28/11/2020 18h03 — em
Política



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) tem, na véspera do segundo turno, larga vantagem na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com 68% das intenções de votos válidos, que excluem brancos, nulos e indecisos.

Seu adversário, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), tem 32%, aponta o Datafolha.

O cenário é de estabilidade desde o início do segundo turno. A vantagem de Paes sobre Crivella recuou de 32 pontos percentuais, há nove dias, para 26. É uma oscilação dentro da margem de erro, considerando as intenções de votos dos dois candidatos.

O Datafolha entrevistou 1.786 eleitores nos dias 27 e 28 de novembro. A pesquisa, realizada pelo jornal Folha de S. Paulo em parceria com a TV Globo, tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa tem registro no TRE-RJ, RJ-07737/2020. O nível de confiança utilizado é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro.

Nos votos totais, o candidato do DEM manteve os 55% apresentados na quinta (26), enquanto o atual prefeito oscilou positivamente três pontos percentuais, alcançando 26%.

Em razão da vantagem do ex-prefeito, Crivella precisaria não apenas atrair eleitores indecisos (4%) e os que pretendem anular ou votar em branco (16%), mas também converter aqueles que pretendem optar por seu adversário.

Paes continua liderando com folga em todas as faixas de renda, escolaridade e idade. Crivella manteve o mesmo patamar de preferência do eleitorado evangélico (51%), indicando que a radicalização de seu discurso nesta reta final ainda não teve o efeito esperado.

Entre os entrevistados, a maioria (59%) afirmou não ter assistido ao debate da TV Globo nesta sexta (27), em que os dois candidatos trocaram ofensas e ameaças de prisão. Outros 17% declararam ter visto todo o confronto e 24%, em parte.

Entre todos os entrevistados, 44% consideraram pelo que viram ou ficaram sabendo que Paes se saiu melhor no confronto, enquanto 12% afirmaram que Crivella venceu.

A disputa no Rio de Janeiro indicou em nível local os limites do bolsonarismo e da frente ampla de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Favorito na eleição deste domingo (29), Paes acumulou "apoios críticos" de partidos de esquerda interessados em derrotar tanto Crivella como Bolsonaro, que gravou mensagens de apoio ao prefeito.

"Não tenho pretensão de achar que os votos que receberei no domingo serão pela minha capacidade de ser prefeito. Vão ser pelo não contundente que a população carioca quer dar ao Crivella", disse o candidato do DEM em entrevista ao site Metrópoles.

O ex-prefeito buscou evitar nacionalizar a campanha, a fim de atrair tanto eleitores bolsonaristas que rejeitam a gestão Crivella como os de oposição ao presidente. Mas se Paes buscou evitar esse debate, não foi o que fizeram PSB, PT e PSOL, que declararam o veto a Crivella com o objetivo expresso de derrotar Bolsonaro em sua cidade.

"No Rio, o importante agora é derrotar Crivella: além de ser o pior prefeito que o Rio já teve, é o candidato de Bolsonaro. Primeiro turno é voto, segundo turno é veto: Crivella não!", disse o deputado federal Alessandro Molon, presidente regional do PSB-RJ.

Um dos exemplos usados pelo ex-prefeito para caracterizar a frente a seu favor é o fato do perfil do Facebook "Fora Eduardo Paes", criada em 2011 quando ele era prefeito, ter declarado apoio a sua candidatura. O mesmo ocorreu em 2018, quando o candidato do DEM disputou o governo do estado contra Wilson Witzel (PSC), que se colou à família Bolsonaro.

Embora tenha perdido para o hoje governador afastado de 59,9% a 40,1% nos votos válidos, na capital Paes superou o adversário por 51,7% a 48,3%. A pesquisa deste sábado mostra uma vantagem maior para o ex-prefeito contra Crivella.

Ao mesmo tempo, Paes fez acenos aos eleitores conservadores, ao defender que um grupo da Guarda Municipal possa atuar armado. Também se declarou contrário à educação sexual em escolas.

Com uma gestão mal avaliada há pelo menos dois anos, Crivella colou sua imagem à de Bolsonaro para garantir uma vaga no segundo turno. Na reta final, radicalizou o discurso alinhado ao bolsonarismo, fazendo acusações falsas contra Paes e o PSOL associando-os à uma suposta "pedofilia nas escolas".

O objetivo era, principalmente, consolidar o voto de eleitores evangélicos. O levantamento do Datafolha, porém, não mostrou variação significativa nesse grupo nas três pesquisas realizadas no segundo turno.

A estratégia, que contou com distribuição de panfletos próximo a igrejas, gerou uma denúncia da Procuradoria Regional Eleitoral contra Crivella por difamação eleitoral e propaganda falsa.

O atual prefeito também buscou explorar os casos de corrupção identificados na gestão do adversário.

Paes é réu em duas ações penais e teve o ex-secretário de Obras Alexandre Pinto preso e condenado na Lava Jato. Além de associá-lo ao ex-governador Sérgio Cabral, preso há quatro anos e condenado a mais de 321 anos por corrupção.

"Fiz o que era possível dentro do prejuízo que o Eduardo deixou, com menos R$ 15 bilhões. Fizemos o que era possível sem corrupção", disse Crivella no debate da TV Bandeirantes.

"Eu já perdi uma eleição para o Cabral. Mas será que eu perdi mesmo? Será que ele ganhou? Eu perdi para o [Luiz Fernando] Pezão. Mas será que ele ganhou mesmo? Aquela vitória destruiu a carreira deles. Você [Paes], todo mundo sabe, infelizmente será preso", afirmou Crivella.

Os dois candidatos que disputam a prefeitura foram alvos de operações policiais às vésperas do início da campanha.

Paes foi alvo de busca e apreensão em razão de uma acusação por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral pela prática de caixa dois na eleição de 2012 com recursos da Odebrecht. Ele se tornou réu e responde pelos supostos crimes na Justiça Eleitoral.

Crivella, por sua vez, também sofreu buscas em sua casa e gabinete numa investigação sobre um suposto esquema de cobrança de propina dentro da prefeitura. Ainda não há denúncia nesse caso.

Ambos também disputam graças a decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que suspenderam os efeitos de condenações do Tribunal Regional Eleitoral do Rio que os tornavam inelegíveis.

Lançado na política pelo ex-prefeito e vereador reeleito César Maia (DEM), Paes pode repetir os passos do aliado. Se vencer como indicam as pesquisas, exercerá o terceiro mandato comandando a cidade após duas derrotas políticas consecutivas.

Em 2016, seu candidato, o deputado Pedro Paulo (então no MDB, hoje no DEM), sequer chegou ao segundo turno na disputa vencida por Crivella. Há dois anos, Paes foi derrotado por Witzel na eleição para o governo do estado.

Crivella, por sua vez, corre o risco de ficar sem mandato pela primeira vez desde 2003, quando assumiu uma cadeira no Senado.

Após três tentativas frustradas para chegar à prefeitura e duas ao governo do estado sob o peso da rejeição à Igreja Universal, o bispo licenciado pode deixar o cargo de prefeito com uma marca de mau gestor.

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