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Bolsonaro pede que PF investigue deputado e irmão que apontaram suspeita na compra da Covaxin

Por Folha de São Paulo

23/06/2021 19h35 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro mandou a Polícia Federal investigar o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, por declarações de ambos sobre supostas irregularidades no contrato de compra da vacina indiana Covaxin.

O pedido de investigação foi anunciado nesta quarta-feira (23) pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni.

"O presidente determinou que a Polícia Federal abra uma investigação sobre as declarações do deputado Luis Miranda, sobre as atividades do seu irmão, servidor público do Ministério da Saúde, e sobre todas essas circunstâncias expostas no dia de hoje", disse Lorenzoni.

O ministro disse que o governo pedirá um processo disciplinar contra o servidor, além de apurações sobre denunciação caluniosa, fraude processual e prevaricação.

Lorenzoni não citou pedido de investigação sobre possíveis irregularidades no contrato. Ele também não explicou o que Bolsonaro fez ao receber o alerta sobre a negociação pela vacina indiana.

A reportagem tentou questionar o ministro sobre o assunto, mas ele ignorou a pergunta e saiu em silêncio.

O caso em torno das suspeita da compra da Covaxin pelo governo Bolsonaro foi revelado no jornal Folha de S.Paulo na sexta-feira passada (18), com a divulgação do teor do depoimento do servidor Luís Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde.

Ele disse em oitiva no Ministério Público Federal que recebeu uma pressão “atípica” para agilizar a liberação da vacina indiana, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.

Irmão do servidor da Saúde, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse nesta quarta-feira (23) que alertou Bolsonaro, em 20 de março, sobre possíveis irregularidades na compra.

Segundo o parlamentar, naquele encontro, Bolsonaro prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o caso. "Para poder agir imediatamente, porque ele compreendeu que era grave, gravíssimo", disse Miranda.

O parlamentar afirmou que não recebeu retorno do presidente ou da PF. "Não era só uma pressão que meu irmão recebia. Tinha indícios claros de corrupção."

O governo fechou contrato para compra da Covaxin em 25 de fevereiro, no momento em que tentava aumentar o portfólio de imunizantes e reduzir a dependência da Coronavac, que chegou a ser chamada por Bolsonaro de "vacina chinesa do João Doria".

A Covaxin é produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, e negociada no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos.

Ao tomar conhecimento das acusações de Luis Miranda, o clima que tomou conta de Bolsonaro e aliados foi de irritação, segundo pessoas próximas.

No fim da manhã, auxiliares de Bolsonaro procuravam desqualificar o ex-aliado do presidente e depois começaram a disseminar o discurso de que não havia sentido em uma denúncia de corrupção a respeito de um contrato pelo qual nada foi gasto ainda, já que o contrato assinado previa pagamento somente após aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O ministro Lorenzoni negou irregularidades na compra. Ele disse que pedirá investigações sobre documento apresentado pelo deputado à imprensa para apontar supostas irregularidades, que seria diferente do papel enviado pela empresa ao ministério.

O papel apontava tentativa de antecipar pagamento de US$ 45 milhões para a importação de um lote da vacina. Segundo Miranda, o documento foi entregue ao presidente Bolsonaro.

Lorenzoni afirmou que a empresa já havia pedido retificação do documento, para que o pagamento fosse feito após a chegada das doses.

Segundo o ministro, o servidor soube no dia 24 que não havia “fraude nenhuma” no processo, pois o ofício sobre o pagamento da importação havia sido atualizado.

O ministro disse que há suspeita de que o documento apresentado pelo deputado é falso. "A má fé é clara. A suspeita da falsificação é forte", disse.

Lorenzoni disse que a empresa Madison, citada no papel, era uma subsidiária da Bharat Biotech, fabricante da Covaxin. O deputado havia levantado suspeita sobre a empresa, que não estaria citada no contrato feito pelo governo federal.

Ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco negou à imprensa sobrepreço na compra da vacina. Cada dose foi contratada por US$ 15, valor mais alto acertado pelo ministério com uma farmacêutica. A dose da Pfizer, por exemplo, custou US$ 10.

A Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, havia fixado preços de US$ 15 a US$ 20 por dose exportada da vacina.

“Não houve nem jamais haverá qualquer tipo de favorecimento. O governo federal, na atual gestão, não compactua com nenhum tipo de regularidade”, disse Franco.

A defesa do governo foi anunciada de última hora. Os jornalistas foram convocados para uma entrevista sem saber quem falaria e qual seria o assunto.

O novo responsável pela Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal André de Sousa Costa, abriu o pronunciamento afirmando que, entre suas missões no cargo, uma delas era "preservar a imagem do governo federal e isso implica que narrativas falsas, mentiras repetidas várias vezes não se consolidem com o formato de verdade porque não são".

Em uma fala inflamada, Lorenzoni fez diversas mensões religiosas, tal qual seu chefe, responsabilizou a imprensa e repetiu o discurso de que não há corrupção no governo Bolsonaro.

"Deputado Luis Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor não vai se entender apenas com Deus. Vai se entender com a gente também", afirmou o ministro.

"O senhor vai pagar pela irresponsabilidade, pelo mau-caratismo, pela má-fé, pela denunciação caluniosa. Se o senhor achava que ia conseguir luz e, talvez, apoio para uma tentativa de reeleição, o senhor errou", prosseguiu Lorenzoni, antes de encerrar dizendo "que Deus tenha pena do senhor".


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