O silêncio dos jornalistas
O escândalo das aposentadorias de comissionados no Tribunal de Justiça do Amazonas, embora denunciado, não recebeu do tribunal o devido tratamento: a revisão de cada caso e a anulação dos atos que privilegiaram um pequeno grupo de servidores. Mas produziu a primeira vítima: a repórter Fabíola Pascarelli, da editoria de Política de aCrítica.
Fabíola foi punida por um erro (corrigido no dia seguinte), quando relacionou em matéria publicada pelo jornal, uma viúva de um ex-servidor, agraciada com pensão, ao desembargador Ari Moutinho. Não havia vínculo de parentesco, como afirmava a reportagem. Moutinho reclamou e o jornal optou pela demissão da jornalista.
Uma semana após o episódio, aCrítica patrocinou um evento na Escola de Magistratura do Estado, onde o assunto principal foi a liberdade de imprensa no Judiciário, que contempla erros e acertos, que devem e precisam ser compartilhados pelas empresas.
Com episódios como este, as abordagens dos jornalistas e radialistas às autoridades têm sido cada vez menores e significativamente menos críticas. A ausência de perguntas instigantes e contextualizadas é resultado de um mercado de trabalho mal remunerado e pouco comprometido com a profissão: os profissionais saem para cumprir suas pautas sem um estudo do que vai ser abordado ou discutido.
A falha se estende ao rádio, impressos, televisão e internet. Na mesma esteira está o receio dos profissionais em se indispor com as autoridades, que na maioria dos casos frequentam as residências e os escritórios dos patrões, as festas bancadas pelas empresas em que esses gestores públicos são, inclusive, homenageados.
Em um embate com os donos do poder, o jornalista sabe que não vai poder contar com o apoio da empresa na causa. Assim, reproduzir pura e simplesmente o discurso das autoridades parece ser a opção mais segura para manter o emprego.
O jornalista começa a perceber, tardiamente, que o quarto poder é dos patrões, e que ele é apenas um peça que pode ser trocada no primeiro deslize.
Discutir a liberdade de imprensa sem discutir o papel da empresa e o compromisso dela com o jornalista parece inútil e vazio.
Raimundo Holanda
NULLASSUNTOS: Editorial