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Zelenski é ovacionado em Davos e compara momento a estopins de guerras mundiais

Por Folha de São Paulo

23/05/2022 18h05 — em
Mundo



DAVOS, SUÍÇA (FOLHAPRESS) - O governo da Suíça anunciou nesta segunda (23), durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, que promoverá uma conferência para reconstrução da Ucrânia na cidade de Locarno, em julho.

O anúncio precedeu o discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na abertura das atividades —sinal do status que a guerra iniciada pela Rússia recebe no evento.

Zelenski discursou durante quase 30 minutos por transmissão ao vivo e respondeu perguntas do fundador do Fórum, Klaus Schwab, para uma plateia lotada de executivos, representantes de governos, acadêmicos e integrantes do terceiro setor que o ovacionou por mais de dois minutos.

O presidente da Ucrânia comparou o momento atual àqueles que, em 1914 e 1938, levaram, respectivamente, à Primeira e à Segunda Guerra Mundial. Ele exortou os participantes a pressionarem governos e empresas de seus países a redobrarem as sanções contra a Rússia como forma de evitar um agravamento do conflito, que completa três meses nesta terça (24), e desestimular outras invasões.

"Este é o ponto de virada. Não esperem até que a Rússia use suas armas especiais, suas armas químicas ou mesmo nucleares", disse Zelenski. "Não deixem que a Rússia pense que não haverá reação. Suspendam os negócios com petróleo russo. Bloqueiem todos os bancos russos. Cortem todo o comércio com a Rússia. Temos que criar esse precedente."

Os Estados Unidos e outros países ocidentais tomaram uma série de medidas para bloquear parcialmente os russos da economia global, com reverberações políticas e econômicas pelo planeta, sobretudo na inflação. De fora, porém, ficaram o importante mercado de hidrocarbonetos —petróleo e gás— e parte das transações bancárias. Empresas ocidentais têm abandonado o país.

Zelenski ofereceu incentivos àquelas que deixarem a Rússia para se instalarem na Ucrânia. Ele também propôs que governos e empresas assumissem o patrocínio da reconstrução de cidades ou setores econômicos de seu país na conferência de julho.

Segundo o Centro de Pesquisa de Política Econômica (Cepr), a devastação da infraestrutura do país pela guerra e outros impactos econômicos podem custar a Kiev até US$ 1 trilhão (R$ 4,9 trilhões), excluídos os custos relacionados às mortes de cidadãos ucranianos. Até agora, somente em danos à infraestrutura, foram US$ 30 bilhões.

Zelenski chamou a atenção ainda para o bloqueio de portos, saque da produção de grãos e o deslocamento de ucranianos, que tiveram de fugir de suas casas, dentro e fora do país: cerca de 6 milhões de pessoas, ou 13% da população do país.

O ucraniano voltou a pedir envio de mais armas a Kiev e criticou a demora dos países ocidentais. "Se tivéssemos recebido 100% de nossas necessidades em fevereiro, dezenas de milhares de vidas teriam sido salvas", afirmou. "É por isso que precisamos de todas as armas que pedimos, não apenas as que nos são dadas."

Nesse sentido, Zelenski, que novamente acusou o governo russo de crimes de guerra, disse que, se o Ocidente tivesse demonstrado a mesma disposição de apoio a Kiev em 2014, a invasão do território ucraniano não teria ocorrido. O presidente e demais autoridades dizem que a guerra, na verdade, teve início há oito anos, quando a insatisfação popular levou à queda de um presidente pró-Moscou e a Rússia, na sequência, anexou a península da Crimeia.

O Fórum assumiu inequivocamente o lado ucraniano, excluindo os russos, por anos financiadores importantes de programas da entidade. A tradicional Casa da Rússia, que promove negócios no país, foi substituída pela "Casa dos Crimes de Guerra da Rússia". Além da sessão com Zelenski, parlamentares, jornalistas e políticos locais ucranianos participam de painéis ao longo dos quatro dias de evento.

Um deles foi o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, que afirmou que a Ucrânia está defendendo os valores democráticos e a vida humana. Em um discurso ao lado de seu irmão, Vladimir —ex-campeão de boxe como ele—, Klitschko apontou para o público e disse: "Estamos defendendo vocês pessoalmente".

Ele pediu que os ouvintes "sejam proativos", porque os ucranianos "pagam todos os dias com suas vidas".

89º DIA DA GUERRA

Enquanto isso, no território ucraniano, Zelenski acusou Moscou de ter realizado o ataque mais mortal desde o início do conflito. O episódio teria ocorrido em um centro de treinamento em Desna, na região de Tchernihiv, no último dia 17 e deixado 87 mortos, de acordo com cifras atualizadas desta segunda.

A Ucrânia também condenou a prisão perpétua um soldado russo que matou um civil ucraniano no início da guerra. Vadim Chichimarin, 21, confessou ter matado Oleksandr Chelipov, 62, em Tchupakhivka.

O diplomata Boris Bondarev, conselheiro da missão permanente da Rússia nas Nações Unidas, renunciou ao cargo em protesto contra a guerra. "Eu simplesmente não posso mais compartilhar essa ignomínia sangrenta, tola e absolutamente desnecessária", escreveu ele em um texto publicado no Linkedin.

Moscou também voltou a acusar Kiev de interromper negociações de paz para acabar com o conflito. O vice-chanceler russo, Andrei Rudenko, afirmou que seu país estará pronto para retornar às negociações para encerrar o conflito na Ucrânia "assim que Kiev mostrar uma posição construtiva".


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