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Vitória em eleições locais fortalece Maduro um ano após acusações de fraude

Por Folha de São Paulo

28/07/2025 18h15 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com um candidato moderado e surpreendentemente popular na cédula, a Venezuela estava diante de uma das oportunidades mais favoráveis em anos para derrubar o regime de Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho de 2024.

Passado um ano, o ditador não só continua no poder a despeito das evidências de fraude no pleito como celebrou mais uma vitória.

No último domingo (27), o chavista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) conquistou 285 das 335 prefeituras disputadas nas eleições locais, segundo projeções do próprio Maduro. No número estariam 23 das 24 capitais do país, incluindo Maracaibo, do estado petrolífero de Zulia.

"Vitória, vitória popular!", gritou o ditador a apoiadores ao comemorar os resultados na Praça Bolívar, em Caracas, durante a madrugada. "A democracia, a paz e a unidade do povo triunfaram." O êxito coroa um ano positivo se comparado com a situação na qual Maduro se encontrava há 12 meses.

Assim que se declarou reeleito pela terceira vez, em julho de 2024, o regime passou a ser pressionado a apresentar as atas eleitorais, como manda a legislação venezuelana e como fez a oposição, antevendo uma possível fraude. Os documentos dos opositores, checados por mais de um instituto independente, apontam para a vitória do principal adversário do ditador, Edmundo González.

A estratégia surtiu efeito. Nas semanas seguintes, até mesmo o Brasil, uma das principais democracias a manter o apoio à Venezuela na ocasião, passou a pressionar Caracas, que não economizou sua artilharia ao responder o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um ano após as eleições, porém, a publicação das atas parece ter funcionado apenas como registro dos indícios de irregularidades, já que a oposição não conseguiu manter o engajamento contra o líder, tanto dentro quanto fora da Venezuela.

Internamente, a prisão de 2.400 manifestantes em apenas 48 horas durante protestos contra os resultados das eleições de 2024 desmobilizaram a oposição. Agora, os centros de detenção do país seguem um "padrão de porta giratória", com a libertação de presos políticos e novas capturas logo em seguida, afirmou a HRW (Human Rights Watch) nesta segunda (28).

Segundo Juanita Goebertus, diretora da ONG, a comunidade internacional "deve entender esta manipulação do governo venezuelano, que liberta alguns presos políticos enquanto prende outros e consolida seu regime autoritário". "Um ano após as eleições de 2024, muitos venezuelanos continuam arriscando sua vida e sua liberdade para promover a democracia", afirma ela.

Há dez dias, a Venezuela anunciou a libertação de 80 presos políticos e dez cidadãos americanos ou com residência nos EUA em troca da soltura de 252 imigrantes venezuelanos expulsos pelo governo Trump para uma prisão de El Salvador. Segundo o Vente Venezuela, partido político da líder opositora María Corina Machado, desde então, cerca de 40 críticos foram detidos, dos quais alguns foram libertados, de acordo com a HRW.

Ameaçado de prisão, González foi para o exílio em setembro do ano passado, enquanto Machado está na clandestinidade dentro da Venezuela. Nesta segunda, ela convocou "a organização clandestina de todas as estruturas dentro da Venezuela" contra Maduro. "Assim como desobedecemos à tirania e os deixamos humilhantemente sozinhos ontem, nos preparamos para a ação cívica no dia em que for necessário", afirmou em um vídeo publicado em suas redes sociais.

Mesmo com tantos reveses, a oposição celebrou a estratégia adotada um ano atrás. Para o partido Primeiro Justiça, por exemplo, "nada nem ninguém poderá apagar esse feito histórico" de julho de 2024, quando "a verdade venceu a fraude" e "a justiça venceu a vergonha". Já o Voluntad Popular afirmou que o pleito foi "uma demonstração contundente de que a Venezuela quer e merece uma nova direção".

Após as últimas eleições presidenciais, opositores voltaram a pedir que a população se abstenha de votar sob a justificativa de que os resultados são predeterminados e a participação seria irrelevante. Eles o fizeram para as eleições de governadores e deputados, nas quais o chavismo venceu, e agora, nas eleições para prefeitos.

De acordo com o aparelhado CNE (Conselho Nacional Eleitoral), a participação ultrapassou os 44%, o que representaria aproximadamente 6,27 milhões de eleitores. O pleito, no entanto, não contou com observação internacional, e a imprensa local afirma que os centros de votação estavam vazios.

Internacionalmente, Maduro goza de uma conjuntura internacional favorável mesmo com a errática diplomacia de Donald Trump nos Estados Unidos.

Ainda no domingo, o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, acusou Maduro de liderar o Cartel Los Soles, "uma organização narcoterrorista que tomou posse de um país" e disse que o ditador "não é o presidente da Venezuela e seu regime não é o governo legítimo".

Na última quinta-feira (24), porém, Maduro confirmou que a petroleira americana Chevron recebeu autorização de Washington para operar no país sul-americano apesar das sanções das quais o regime é alvo -política semelhante à determinada pelo ex-presidente americano Joe Biden em novembro de 2022 e criticada por Trump.

Com controle absoluto da Assembleia Nacional, o ditador agora pretende aprovar uma reforma constitucional sobre a qual poucas informações foram divulgadas até o momento.


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