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UE eleva sanções contra Belarus

Por Folha de São Paulo

16/06/2021 16h05 — em
Mundo



BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - Os 27 países-membros da União Europeia concordaram nesta quarta (16) em sancionar mais 78 pessoas e 7 entidades da Belarus, por causa da interceptação de um voo comercial da Ryanair para prender o jornalista Roman Protassevich, crítico à ditadura belarussa.

Os detalhes sobre proibições de viagens e repasses financeiros e congelamento de bens ainda serão divulgados, mas investidas do ditador Aleksandr Lukachenko nesta semana dão uma pista sobre seu potencial de impacto. Além ignorar as pressões internacionais para que solte o blogueiro, ele organizou uma conferência-espetáculo na qual Protassevich, 26, foi exposto ao lado do comandante da Força Aérea e de ministros da ditadura.

Essa foi a terceira aparição do jornalista patrocinada pelo regime. Na primeira, foi publicado um vídeo em que ele garantia estar bem de saúde, logo após ter sido preso. O objetivo era desmentir rumores crescentes de que Protassevich havia sido hospitalizado com problemas cardíacos. De acordo com sua família, o tom de voz do blogueiro mostrava claramente que ele estava tenso, e sinais em seu pescoço e nariz indicavam que ele havia sido torturado -o que Lukachenko nega.

Na segunda vez uma emissora estatal de TV levou ao ar uma longa entrevista em que o blogueiro volta a garantir que está sendo bem tratado e elogia o ditador da Belarus, além de se reconhecer "culpado de tentar derrubá-lo". Imagens desse programa mostram marcas pretas em torno de seus pulsos, que poderiam ter sido deixadas por algemas.

Na entrevista desta semana, o blogueiro -que é classificado de terrorista, acusado de três crimes e mantido na cadeia- afirmou aos repórteres que não havia sido espancado, estava se sentindo bem e "reconhecia seus erros" após ter sido "alertado" pelo regime de Lukachenko. Segundo belarussos que ouviram a entrevista, um repórter perguntou se a ditadura lhe havia prometido liberdade em troca de colaboração. "Não tive nenhum acordo com a investigação. Qualquer participação nos eventos é voluntária. Bem como na entrevista à TV estatal", respondeu Protassevich.

Ele também afirmou que sua consciência estava "absolutamente limpa". "Eu não traio ninguém, eu não traio ninguém. Eu coopero com a investigação, ajudo meu país e pretendo ajudar ainda mais", declarou, antes de pedir consideração com os sentimentos de seus pais: "Mãe, pai, não se preocupem, estou bem. Podem voltar para casa tranquilos."

Em repúdio, o correspondente da rede britânica BBC, Jonah Fischer, deixou a sala, e repórteres belarussos usaram o microfone para manifestar apoio ao blogueiro e declarar que sabiam que ele estava sendo coagido a reproduzir discursos do regime.

O chefe da Força Aérea da Belarus, Igor Golub, também repetiu aos repórteres a versão de que o voo que ia da Grécia à Lituânia foi desviado para Minsk por causa de uma ameaça de bomba. O avião em que estavam Protassevich e sua namorada, a russa Sofia Sapega, foi interceptado por um caça militar dois minutos antes de sair do espaço aéreo belarusso, e o casal foi preso ao desembarcar na capital da Belarus. Nenhuma bomba foi encontrada.

Segundo Golub, o piloto da Ryanair decidiu sozinho mudar a rota do voo: "Por que o comandante da aeronave não estava em processo de descida, se pretendia pousar em Vilnius? Por que, há dois minutos de cruzar a fronteira, deu meia volta e pousou em Minsk, se ninguém o impediu de prosseguir".

A Ryanair, no entanto, afirmou nesta terça (15) que o piloto não teve alternativa. Segundo o principal executivo da companhia aérea, Michael O'Leary, o comandante tentou confirmar a ordem de desvio com a empresa, mas foi enganada pelos belarussos que disseram haver problemas de conexão.

O executivo afirmou também que, após a aterrissagem do avião, a tripulação foi pressionada pelo regime da Belarus a gravar um vídeo afirmando que que havia desviado voluntariamente para Minsk, mas se recusou.

Também nesta semana o governo lituano acusou Lukachenko de estar transportando refugiados para a fronteira com a União Europeia e os ajudando a passar para o país vizinho. Segundo a Lituânia, o esquema usa no trajeto a empresa Tsentrkurort, controlada pelo ditador, e a passagem é feita com a ajuda dos guardas de fronteira.

Para a primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Simonyte, Lukachenko está "cumprindo sua ameaça". No dia 26 de maio, três dias depois da prisão de Protassevich, ele fez um discurso contra sanções da União Europeia na qual disse que era a Belarus que impedia que o bloco fosse "inundado de imigrantes e drogas". "Costumávamos pegar migrantes em massa aqui. Agora, esqueça, vocês mesmos vão pegá-los", afirmou.

"E de repente, em poucas semanas, vemos um rápido aumento de pessoas entrando ilegalmente. Não é um fluxo normal", afirmou a primeira-ministra em visita à fronteira. Segundo o governo lituano, entraram no país nos últimos 12 dias 198 estrangeiros, de nacionalidade iraquiana, síria, iraniana, turca e egípcia. Entre 2017 e 2020, a média de entrada anual era de 90 pessoas.

ENTENDA AS SANÇÕES

As sanções aprovadas nesta quarta serão validadas em reunião dos ministros das Relações Exteriores da UE, no dia 21, e entram em vigor quando forem publicadas no Jornal Oficial. Também devem ser propostas sanções econômicas setoriais, em acréscimo à proibição de que empresas aéreas belarussas cruzem seu espaço aéreo e de que empresas europeias sobrevoem a Belarus.

Opositores vem defendendo que sejam impostas restrições a exportações de potássio, insumo para fertilizantes, e ao uso de gás que chega da Rússia à UE por gasodutos que cortam a Belarus. "Desta vez temos realmente de tomar medidas cujo peso seja sentido por Lukachenko", afirmou o responsável por Relações Internacionais do bloco, Josep Borrell.

A Organização de Aviação Civil Internacional abriu uma investigação sobre o incidente do voo da Ryanair, que deve ter alguma posição no final deste mês. Mas a agência da ONU não tem poder de fiscalização nem de punição.

Em rodadas anteriores, 88 membros do regime, incluindo o presidente Alexander Lukashenko e seu filho, já foram alvo de sanções, por causa da brutal repressão contra manifestantes que protestavam pacificamente por eleições justas.


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