Trump assina decretos para reverter medidas de Biden e declarar emergência na fronteira
WASHINGTON, EUA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Horas após tomar posse para um mandato que promete ser radicalizado, o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira (20) uma série de decretos controversos que incluem o endurecimento da fiscalização de migrantes e mais estímulos à exploração de combustíveis fósseis. Muitos deles revertem medidas implementadas pelo antecessor, o democrata Joe Biden.
As primeiras ordens foram assinadas diante de milhares apoiadores no ginásio Capital One Arena, em Washington. No local, o presidente determinou a retirada da nação do Acordo de Paris e a revogação de 78 ações executivas implementadas por Biden. Depois, o republicano partiu para o Capitólio, onde assinou a maior parte dos decretos.
Nas palavras de Trump, as medidas dão início à "restauração completa" dos EUA. Foram ao menos dez ordens na área da imigração. A mais ruidosa delas é a que declara estado de emergência nacional na fronteira com o México. É um indicativo de que o republicano leva a ferro e fogo sua promessa de fazer o maior esforço de deportação da história americana já no início do governo.
O republicano sempre deixou claro que pretende deportar o máximo possível de imigrantes em situação irregular, algo que ele diz ser necessário após travessias recordes no governo Biden. "Acabarei com a prática de pegar e soltar [os migrantes]. Enviarei tropas para a fronteira sul para repelir a desastrosa invasão do nosso país", afirmou Trump, ainda na cerimônia de posse, sobre o estado de emergência.
A medida possibilita a convocação das Forças Armadas para atuar na região fronteiriça, contribuindo para a captura de migrantes em situação irregular, segundo a rede americana ABC News. Também permite o envio de mais recursos federais para construção do muro que separa os EUA do México.
Ainda em relação ao México, Trump assinou decreto para classificar os cartéis de drogas do país vizinho de organizações terroristas internacionais. O novo presidente disse que vai invocar uma lei criada há 226 anos, chamada Alien Enemies Act (Lei dos Inimigos Estrangeiros, em português), que autoriza as autoridades americanas a deter e deportar imigrantes em períodos de guerra contra outras nações.
Outro decreto controverso, embora já esperado, foi a retirada dos EUA do Acordo de Paris, pacto assinado em 2015 pela comunidade internacional com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa que agravam o aquecimento global.
Na área da política internacional, Trump revogou sanções impostas pelo governo Biden a colonos israelenses na Cisjordânia ocupada. Os assentamentos são considerados ilegais pela maior parte da comunidade internacional, e sua expansão é para os palestinos um dos principais obstáculos a uma paz duradoura. Ao mesmo tempo, a coalizão de ultradireita liderada pelo prêmie Binyamin Netanyahu encoraja essas ocupações.
Da mesma forma, revogou decreto que retirava a designação de Cuba como um país patrocinador do terrorismo. O líder do país, Miguel Díaz-Canel, chamou a decisão de "um ato de arrogância e desrespeito à verdade".
O novo presidente ainda assinou decreto que determina o fim do home office para funcionários federais e o congelamento de novas contratações, em linha com o discurso de busca de eficiência no governo -motivo pelo qual criou um cargo personalizado para o bilionário Elon Musk, a chefia do Departamento de Eficiência Governamental.
Trump, em sua fala no Capital One, também reiterou algumas de suas promessas, incluindo o perdão às pessoas que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, descritas por ele como reféns -a decisão contempla cerca de 1.500 réus que tiveram participação no caso.
O novo presidente já tinha discursado mais cedo durante as solenidades da posse, mas num contexto mais formal e para uma plateia pequena dentro do Capitólio. A fala no Capital One foi a sua estreia diante de um público amplo no novo governo -o local tem capacidade para até 20 mil pessoas.
Se no discurso oficial ele tinha se segurado, na arena aproveitou o ensejo para falar de modo mais aberto. Ele mencionou inclusive que tinha sido aconselhado a não falar das pessoas que chamou de reféns durante a cerimônia no Capitólio para evitar fomentar um clima divisivo no país. Foi um discurso clássico do republicano, com as repetições e as digressões típicas do seu estilo.
A plateia do Capital One não era o que o republicano tinha em mente, a princípio. Ele queria reunir multidões nos gramados diante do Congresso americano. O clima, porém, o forçou a mudar de planos de última hora e transferir o evento para um espaço fechado. Durante o dia, a sensação térmica chegou a -12ºC -insuportável, mesmo para quem se agasalhou.
Trump, no entanto, conseguiu em certa medida tirar vantagem desse revés. Transformou o evento em uma espécie de show. Ao entrar no ginásio, passou entre o público, sorrindo e apertando as mãos de alguns de seus simpatizantes. Demonstrou o carisma que marcou a sua carreira. Era um cenário familiar, como o de seus tantos comícios de campanha.
Alguns dos aliados de Trump discursaram antes dele no Capital One. Elon Musk, dono do X, fez algumas das falas mais fortes. O bilionário descreveu a eleição de Trump como uma "vitória da civilização" e acenou ao público com o braço erguido, no que foi criticado depois como demasiado parecido com uma saudação nazista.

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