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Relatório do governo sobre festas de Boris Johnson pode omitir detalhes após pedido da polícia

Por Folha de São Paulo

28/01/2022 9h36 — em
Mundo



BAURU, SP (FOLHAPRESS) - A investigação interna que pode determinar o futuro do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, após uma série de escândalos de festas em que ele e seus funcionários teriam violado as regras de isolamento em meio à pandemia pode ser postergada devido a um pedido controverso da Polícia Metropolitana de Londres.

A expectativa era a de que o relatório fosse publicado nesta semana, mas o cronograma foi prejudicado quando, na última terça-feira (25), a Polícia Metropolitana de Londres anunciou a abertura de uma investigação criminal acerca das festas em Downing Street, residência oficial de Boris.

Surgiram, então, dúvidas sobre eventuais diferenças entre os dois inquéritos, já que as possibilidades de atuação da Scotland Yard, como também é conhecida a corporação, não são as mesmas de Sue Gray, funcionária do governo incumbida da investigação interna.

Havia, por exemplo, rumores de que um dos relatórios poderia conter uma versão maquiada dos escândalos. A princípio, a polícia negou qualquer interferência na tarefa de Gray, mas, nesta sexta-feira (28), divulgou um comunicado em que admite ter feito pedidos que, para alguns críticos, podem limitar o alcance do inquérito do governo ou até fazer com que ele acabe em pizza.

"Aos eventos que a MET [sigla da corporação] está investigando, nós pedimos que uma referência mínima seja feita no relatório do Gabinete", disse a Scotland Yard. Segundo o comunicado, não houve pedidos de adiamento da publicação do relatório nem de limitação sobre outros eventos. "Temos mantido contato contínuo com o Gabinete, inclusive sobre o conteúdo do relatório, para evitar qualquer prejuízo à nossa investigação."

Para os legisladores, especialmente os que pediram a renúncia de Boris, o pedido da polícia compromete a investigação do governo porque demanda que um novo trabalho de revisão para determinar o que pode e o que não pode ser mantido no documento. O temor é de que pontos-chave do inquérito ou revelações mais espinhosas possam acabar censurados.

"A partir da declaração da MET, está claro que as alegações mais sérias não estarão disponíveis para o Parlamento ver e podem atrasar ainda mais o relatório", disse o conservador Andrew Bridgen à agência de notícias Reuters. "Isso não diminui minha visão de que a posição do primeiro-ministro é insustentável."

O pedido da Scotland Yard também levou a uma crise de confiança no trabalho das autoridades, segundo um porta-voz dos Liberal-Democratas, terceiro partido mais importante do Reino Unido. Para ele, é "profundamente prejudicial" que haja suspeitas de uma articulação política entre a polícia e o governo.

"O relatório de Sue Gray deve ser publicado na íntegra, incluindo todas as fotos, mensagens de texto e outras evidências", disse Alistair Carmichael. "Se for editado agora, uma versão completa e não editada deve ser publicada assim que a investigação policial estiver concluída."

O cargo de Boris nunca esteve tão ameaçado, mas apesar do número crescente de pedidos de renúncia, inclusive de membros do seu próprio partido, o premiê vem respondendo a seus críticos, a jornalistas e a parlamentares que aguardem a divulgação do relatório da investigação.

Gray, segunda-secretária de gabinete, assumiu a condução do inquérito depois que Simon Case, a quem a responsabilidade fora atribuída, deixou o cargo quando a imprensa apontou que um dos eventos irregulares teria acontecido em seu escritório.

Boris foi ao Parlamento para pedir "desculpas sinceras" pela participação num evento de sua equipe que furou as regras de confinamento no país. Depois, dirigiu as mesmas palavras à rainha Elizabeth 2ª por festas no gabinete na véspera do funeral do príncipe Philip, quando o Reino Unido estava em luto.

Pediu desculpas uma terceira vez depois de ser questionado sobre acusações de que não apenas sabia da festa em Downing Street, para a qual os convidados foram instruídos a levar bebidas, como deu aval para o prosseguimento do evento.

Boris também teria feito uma festa de aniversário em meio às restrições da Covid, de acordo com informações da imprensa britânica. E, mais recentemente, envolveu-se em outro escândalo segundo o qual teria autorizado o resgate de dezenas de animais do Afeganistão em meio à caótica retirada do país após o grupo fundamentalista Talibã retomar o poder, em agosto. O caso veio à tona em dezembro e gerou críticas de que animais teriam sido priorizados em vez de pessoas. O premiê nega envolvimento na decisão.


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