Promotoria da Turquia pede 2.000 anos de prisão para principal rival de Erdogan
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Promotoria da Turquia pediu uma pena de 2.000 anos de prisão por 142 acusações contra o ex-prefeito de Istambul Ekrem Imamoglu, que está detido desde março por suposto envolvimento em esquemas de corrupção, o que ele nega. Principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan, o popular político era considerado por muitos o único capaz de derrotar Erdogan nas eleições de 2028.
O Ministério Público também solicitou ao principal tribunal de apelações da Turquia que abra um processo para dissolver o opositor Partido Republicano do Povo (CHP), sigla à qual pertence Imamoglu, sob o argumento de que a agremiação teria sido financiada com recursos ilícitos. O partido tem enfrentado, no último ano, uma repressão judicial sem precedentes.
Imamoglu afirma ser vítima de perseguição política. Ele foi preso pelas acusações de corrupção e de apoio a um grupo terrorista o CHP entrou em coalizão com a curda Igualdade e Democracia Popular (DEM), acusada de ligações com o proscrito Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
O PKK é considerado um grupo terrorista pela Turquia, pelos Estados Unidos e por uma série de países europeus. Em 1º de março deste ano, o PKK anunciou um cessar-fogo com o governo turco após décadas de conflito armado na tentativa de criar uma região autônoma curda entre a Turquia, a Síria e o Iraque.
O procurador-chefe de Istambul, Akin Gurlek, anunciou as acusações contra Imamoglu em uma conversa com jornalistas nesta terça-feira (11), dizendo que o documento cita 402 suspeitos que compõem uma suposta organização criminosa acusada de suborno, fraude e manipulação de licitações.
Gurlek afirmou que a rede teria causado perdas de 160 bilhões de liras turcas (R$ 21,3 bilhões) ao Estado turco ao longo de um período de dez anos. A acusação, com mais de 4.000 páginas, inclui um organograma que retrata Imamoglu como fundador e líder do grupo criminoso.
O texto cita conclusões do Conselho de Investigação de Crimes Financeiros, análises de peritos e afirma que vários empresários foram coagidos a pagar subornos por meio de um fundo secreto que operava dentro da prefeitura.
A prisão de Imamoglu causou à época uma onda de protestos na Turquia contra o governo Erdogan, que prendeu mais de 1.400 pessoas, inclusive sete jornalistas, para reprimir o movimento.
O ex-prefeito aguarda julgamento do caso. Em abril, ele depôs pela primeira vez na prisão de Marmara. "Estou aqui porque venci três eleições em Istambul, uma cidade que já foi chamada de 'minha querida Istambul', uma cidade sobre a qual já se disse 'quem vence em Istambul vence na Turquia', uma cidade da qual eles acreditavam ser donos", disse Imamoglu, em aparente referência a Erdogan e seus aliados.
O ex-prefeito foi escolhido por seu partido para concorrer como candidato à Presidência nas eleições previstas para 2028. Segundo a atual legislação, Erdogan não pode disputar novamente, mas o presidente já se movimenta para contornar as regras do país.
Em maio, ele nomeou uma equipe de juristas para redigir uma nova Constituição. A medida poderia abrir um caminho legal para que permaneça no cargo após o fim de seu atual mandato. Erdogan está no poder há 22 anos, inicialmente como primeiro-ministro e depois como presidente desde 2014.
Ele argumenta que a Carta atual, redigida após o golpe militar de 1980, está desatualizada e ainda carrega resquícios autoritários.
Seu partido e seus aliados nacionalistas não detêm os votos necessários no Parlamento para aprovar uma nova Constituição por conta própria. Analistas avaliam que os recentes avanços nas negociações de paz com o PKK e o desarmamento do grupo podem fazer parte de uma estratégia para angariar o apoio de partidos pró-curdos ao novo texto constitucional.
Hoje detido, Imamoglu era considerado um líder com capital político suficiente para catalisar a rejeição de alguns setores à reforma da Constituição.
A Turquia era uma democracia parlamentar desde sua criação, em 1923, mas Erdogan mudou isso em 2017, adotando o sistema presidencialista para favorecê-lo.
Com isso, o presidente é o chefe de Estado e exerce o poder Executivo, com a possibilidade de dois mandatos consecutivos de cinco anos. Já o posto de primeiro-ministro foi abolido.
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