Partido de Scholz reage em pesquisa eleitoral na Alemanha
BERLIM, ALEMANHA(FOLHAPRESS) - O SPD de Olaf Scholz, pela primeira vez na atual campanha eleitoral alemã, aparece empatado com a extrema direita em uma pesquisa de opinião. Levantamento do instituto YouGov mostra os dois partidos com 19% das preferências. A CDU, de Friedrich Merz, há meses considerado como favorito para ocupar o cargo de primeiro-ministro, perdeu dois pontos percentuais e tem agora 28%.
A liderança conservadora ainda é ampla, mas apresenta tendência de declínio desde dezembro. A crise política, que derrubou a coalizão de governo montada por Scholz, forçou a antecipação das eleições parlamentares para 23 de fevereiro. Merz, em busca do voto mais à direita, tem endurecido a retórica de campanha em itens como imigração e economia. Nesta semana, adotou um bordão significativo, "nós não podemos fazer isso", em clara referência a Angela Merkel.
Em 2015, a então premiê afirmou exatamente o oposto, "nós podemos fazer isso", quando determinou a abertura das fronteiras alemãs para milhares de refugiados. O momento histórico de Merkel hoje é tratado como erro, assim como sua política econômica, que, segundo os críticos, reprimiu a modernização da indústria alemã. Merz também tem uma rusga pessoal com Merkel, já que a ascensão da rival vinda da Alemanha Oriental na CDU ofuscou sua presença no partido nos anos 2000. Ele chegou a abandonar a vida pública, retornando apenas em 2019, após uma carreira bem-sucedida no mercado financeiro.
Merz procura justamente os eleitores de Alice Weidel, da AfD, o partido considerado extremista pelos serviços de segurança do governo. A Alternativa para a Alemanha, no levantamento do YouGov, também perdeu dois pontos. O resultado, se confirmado por outros levantamentos, surpreende diante do barulho causado pelo apoio de Elon Musk à candidata. O bilionário escreveu um artigo em defesa da AfD e recebeu Weidel em uma live, a exemplo do que já tinha feito na campanha de Donald Trump, no ano passado.
Em outros institutos, o controverso partido, que tem integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo, ainda aparece na segunda colocação. O nome de Weidel, porém, já perde em citações para Robert Habeck, candidato dos Verdes. O mais lembrado continua sendo Merz, e todos são mais populares do que Scholz.
No sistema político alemão, a eleição é indireta. O candidato da maior bancada se torna em geral o primeiro-ministro, mas ele precisa garantir a maioria no Parlamento para governar. Os números do YouGov também sugerem que, neste momento, apenas uma coligação com o SPD de Scholz dá a maioria para a CDU. Todos os partidos, até aqui, refutam governar com a AfD.
A um mês do pleito, analistas se debruçam sobre o potencial efeito que a segunda temporada de Donald Trump na Casa Branca possa surtir no pleito alemão. Scholz, nesta semana, encarnou o papel de primeiro-ministro, participando do Fórum Econômico de Davos e se encontrando com Emmanuel Macron. Os planos de Trump para Europa afetam sobretudo a economia da Alemanha, ameaçada com tarifas e mais gastos com a Otan.
Mesmo antes da posse do presidente americano, a AfD já pegava carona em sua retórica anti-imigração. O cotidiano alemão ajuda. Nesta quarta-feira (22), um afegão de 28 anos foi preso por suspeita de ter esfaqueado e matado duas pessoas em um parque público, na Baviera. Uma delas era um bebê de 2 anos. A polícia investiga o caso e as motivações. O agressor foi preso rapidamente, pois a área do ataque é normalmente vigiada por abrigar usuários de drogas.
No fim de dezembro, um médico saudita, que tinha status de refugiado, invadiu um mercado de Natal em Magdeburgo, atropelando e matando seis pessoas e ferindo mais de 300. Apesar do motorista ter um histórico anti-islã e ser apoiador da AfD, os promotores do caso declararam nesta semana que o caso não será enquadrado como terrorismo doméstico.

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