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Nobel antiditadura deixa Belarus; Lukachenko rebate Macron com comentário machista

Por Folha de São Paulo

28/09/2020 11h32 — em
Mundo



BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - A escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévich, prêmio Nobel de Literatura em 2015, voou para a Alemanha na manhã desta segunda-feira (28) e deve ficar ao menos um mês fora da Belarus para cumprir compromissos profissionais, segundo sua assessoria.

A volta da escritora ao país, porém, "depende de como os eventos vão se desenrolar aqui e do bem-estar dela", afirmou a assessora Tatiana Tiurina à imprensa bielorrussa.

Aleksiévich, 72, era a única dos sete líderes do conselho de oposição à ditadura que ainda não havia sido presa nem deixado a Belarus. Com sua saída, o único membro do grupo livre no país é o líder operário Serguei Dilevski, 31, que ficou detido de 24 de agosto a 18 de setembro.

A Procuradoria-Geral da Belarus acusa o conselho de "visar a tomada do poder do Estado e prejudicar a segurança nacional", e há um mês a escritora havia sido intimada a depor no processo criminal contra o órgão oposicionista, como testemunha. Ela chegou a pedir ajuda à imprensa ao se sentir ameaçada por telefonemas e pessoas desconhecidas em seu edifício, em 9 de setembro.

Naquele dia, Aleksiévich publicara um texto sobre a prisão de outro membro do conselho de oposição, o advogado Maksim Znak, 37. "Primeiro, o país foi sequestrado de nós. Os melhores de nós estão sendo sequestrados. Mas, no lugar dos arrancados de nossas fileiras, centenas de outros virão. Não foi o comitê de coordenação que se revoltou. O país se revoltou", escreveu.

Mas, segundo Tiurina, a saída do país não está relacionada à repressão do regime bielorrusso. Aleksiévich deve participar de uma feira de livros na Suécia e receber um prêmio na Sicília, afirmou a assessoria. Agências de notícias disseram também que ela faria um tratamento de saúde na Alemanha.

Desde que relatou ameaças, Aleksiévich vinha recebendo apoio de embaixadas em Minsk, que se revezavam para deixar seguranças em frente a seu edifício.

Os protestos pela renúncia do ditador Aleksandr Lukachenko e novas eleições entram hoje em seu 51º dia. Desde as eleições de 9 de agosto, consideradas fraudadas, ao menos cinco pessoas morreram, 76 estão desaparecidas e há cerca de 500 casos de tortura documentados por entidades de direitos humanos.

Mais de 12 mil detenções já foram feitas, de acordo com anúncios do Ministério do Interior. Neste final de semana, tropas do regime levaram 150 manifestantes no sábado (a maioria mulheres) e 350 no domingo.

Dos que continuam na cadeia, 250 são considerados presos políticos, entre eles a flautista Maria Kalesnikava, uma das líderes da principal candidatura de oposição a Lukachenko, e o advogado Maksim Znak, que inspirou o protesto público de Aleksiévich.

Znak completa hoje o décimo dia de greve de fome contra as prisões políticas, que ele e outros advogados da Belarus afirma serem ilegais. O líder da oposição já perdeu seis quilos.

Seu rosto sob o slogan "isto é um sinal", em menção ao significado de seu sobrenome em russo, foi incorporado à "guerrilha de graffitis" que protestam contra Lukachenko em muros e paredes de Minsk e de outras cidades bielorrussas.

Nesta segunda, Lukashenko, 66, reagiu à declaração do presidente francês, Emmanuel Macron, 42, de que ele deveria renunciar. "De um político experiente para um imaturo, gostaria de aconselhar o sr. Macron a olhar menos ao redor e, em vez disso, lidar com os assuntos internos da França. Pelo menos comece a resolver problemas que se acumulam muito no país", afirma o comunicado.

Lukachenko também afirmou que Macron deveria deixar seu cargo em resposta aos protestos na França.

"Seguindo sua própria lógica, Macron deveria ter renunciado há dois anos, quando os 'coletes amarelos' começaram a aparecer nas ruas de Paris. Os anos passam, os 'coletes amarelos' ainda estão nas ruas, e Macron, surpreendentemente, também está no cargo", afirmou Lukachenko.

A resposta do ditador incluiu uma provocação machista, ao dizer que o presidente francês dá muita atenção a Svetlana Tikhanovskaia, 37, a principal candidata da oposição na última eleição presidencial da Belarus. "Dado que essa ex-candidata é uma senhora, o líder francês corre o risco de ter problemas pessoais também na França... em casa."

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