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Na posse, Trump faz homenagem a seu ex-presidente favorito

Por Folha de São Paulo

20/01/2025 16h00 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se existia alguma dúvida sobre quem, dentre os ex-presidentes americanos, será a principal inspiração para o novo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos, seu discurso de posse deixou bem claro. Trump escolheu a ocasião solene para homenagear aquele que é sua "alma gêmea", o ultraprotecionista ex-presidente americano William McKinley, que governou o país de 1897 a 1901.

Tal como Trump, McKinley foi um presidente que defendia empresários bilionários e abraçava medidas protecionistas na economia. "O presidente McKinley tornou nosso país muito rico por meio de tarifas e talento. Ele era um empresário nato", disse Trump em seu discurso de posse.

McKinley era ferrenho defensor dos chamados "barões ladrões", empresários bilionários como J.P. Morgan, John Rockefeller e Cornelius Vanderbilt, que viveram durante a chamada Era Dourada, de 1877 a 1890.

Em áreas estratégicas como siderurgia, petróleo, ferrovias e finanças, eles usavam táticas predatórias para eliminar concorrentes e criar monopólios. McKinley resistiu à ofensiva antitruste —foi só no governo de seu sucessor, o reformista Teddy Roosevelt, que a Lei Sherman Antitruste, aprovada em 1890, foi colocada em prática. Tinha como objetivo proteger a livre concorrência e evitar abusos monopolistas.

Desta vez, os novos barões são os tecno-oligarcas como Elon Musk (X, Starlink e Tesla), Sundar Pichai (Google), Jeff Bezos (Amazon e The Washington Post), que tiveram lugar privilegiado na posse de Donald Trump. Mark Zuckerberg e sua mulher (Meta) e Sam Altman (Open AI) também estavam entre os poucos e seletos convidados da posse de Trump.

Trump garante o que chama de liberdade de expressão para as big techs, o que se traduz por uma ampla desregulamentação do mercado e bloqueio de qualquer tentativa de adotar leis para coibir abusos, como vinham tentando os legisladores democratas e o ex-presidente Joe Biden.

E o republicano prometeu até uma nova "Era de Ouro" para os EUA, ecoando a "Era Dourada" do século 19.

Durante muito tempo, o ex-presidente Ronald Reagan, com sua defesa enfática do livre mercado, foi o grande modelo para os políticos de direita nos EUA. Não mais. A característica de McKinley mais apreciada por Trump é o ultraprotecionismo. Trump, durante a fala no Capitólio, prometeu instituir o Serviço de Receitas Exteriores (em paralelo ao Serviço de Receitas Internas, a Receita Federal americana). Tal órgão irá administrar todas as tarifas que os EUA passarão a impor sobre produtos importados.

"Tarifa é a palavra mais bonita do dicionário", disse Trump em dezembro. "Tarifas vão enriquecer nosso país. É só olhar para 1890, 1880, no governo McKinley, as tarifas. É quando estivemos, proporcionalmente, no pico da riqueza."

McKinley chegou à Casa Branca em 1894 já tendo uma sobretaxa batizada com seu nome —ele propôs a Tarifa McKinley quando era deputado. Como presidente, ele adotou inúmeras tarifas de importação.

Também foi McKinley que tirou do papel o canal do Panamá —o mesmo que Trump ameaçou retomar do governo panamenho, já que, em sua visão, estaria sob controle dos chineses e cobrando preços extorsivos de navios americanos. O canal foi devolvido ao Panamá em 1999 depois de um acordo assinado pelo ex-presidente Jimmy Carter em 1977. "A gente não deu [o canal] para a China, a gente deu para o Panamá, e agora vamos pegar de volta", disse no discurso.

Coroando a homenagem, Trump anunciou durante a posse que a montanha mais alta dos EUA, o Monte Denali, voltará a se chamar Monte McKinley. O nome havia sido mudado em 2016, ainda no governo de Barack Obama, após anos de reivindicações de indígenas americanos. Com o anúncio, o republicano aproveitou para dar mais uma alfinetada nas iniciativas de equidade para grupos minorizados.

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