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Na abertura da cúpula, Biden anuncia nova meta de emissão dos EUA

Por Folha de São Paulo

22/04/2021 18h34 — em
Mundo



WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Sob pressão de ver testada sua liderança global, Joe Biden abriu nesta quinta-feira (22) a Cúpula de Líderes sobre o Clima com um discurso contundente, em que fez anúncios ambiciosos de novas metas climáticas para os EUA e deu caráter de urgência para o combate ao aquecimento global. O presidente americano disse que este é “um momento imperativo” em termos morais e econômicos, e a ciência, inegável. “Não temos escolha, temos que fazer isso”, afirmou.

Biden formalizou o anúncio de que os EUA vão cortar 50% das emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030, uma meta nova e ambiciosa que foi celebrada pelos ambientalistas, mas ressaltou que o país é responsável por menos de 15% das emissões do mundo —o segundo do ranking, atrás da China, que emite cerca de 26%— e que é preciso um esforço conjunto do planeta.

"Os EUA colocam-se a caminho para reduzir os gases de efeito estufa pela metade até o final da década. É para lá que estamos indo, como nação. E é isso que podemos fazer, se agirmos para construir uma economia que não seja apenas mais próspera, mas mais saudável, justa e limpa para todo o planeta", disse o presidente americano.

Ele destacou ainda que a medida colocará o país na rota para "zerar emissões líquidas de carbono até 2050", mas que "nenhuma nação pode resolver essa crise por conta própria". Biden pediu "um passo à frente" a todos os países participantes da cúpula, mas "particularmente aqueles que representam as maiores economias do mundo".

Com os anúncios desta quinta, Biden tenta cristalizar sua mensagem debatida com líderes estrangeiros nas últimas semanas: se todos trabalharem juntos, é possível estabelecer metas mais ousadas do que as de 2015 no Acordo de Paris para frear o aquecimento global, modernizando a cadeia de produção de países ricos e ajudando os mais pobres que conseguirem demonstrar resultados positivos na agenda verde.

De forma simbólica, Biden abriu seu discurso de pouco mais de cinco minutos com as consequências que a agenda climática pode ter sobre a criação de empregos nos EUA. O democrata avalia que essa é uma forma de tentar angariar mais apoio popular para sua empreitada, ciente de que há muita divisão no Congresso, entre republicanos e democratas, sobre a agenda verde.

Biden lançou um pacote trilionário de infraestrutura que precisa de aprovação parlamentar e promete modernizar a cadeia produtiva americana ao mesmo tempo em que cria postos de trabalho em campos de energia limpa.

“É por isso que estamos falando sobre clima, empregos dentro de nossa resposta climática, criação de empregos, oportunidade prontos para serem acionados”, disse o presidente. “Vejo uma oportunidade de criar milhões de empregos sindicalizados de classe média bem remunerados.”

Integrantes do Departamento de Estado americano dizem que o encontro desta quinta e sexta não é considerado “uma resposta final” das nações sobre as metas ambientais, mas “parte de uma conversa” para revisar os compromissos que serão formalizados na COP26, a conferência da ONU sobre o clima, marcada para novembro na Escócia.

Biden disse que esse era “o primeiro passo” rumo à conferência do fim do ano. O presidente quer recolocar os EUA como líderes do mundo no combate às mudanças climáticas, mas enfrenta obstáculos, principalmente diante de poderosas economias, como China e Índia, que, em um primeiro momento, não se mostraram dispostas a se comprometer com números ambiciosos para 2030.

Anfitrião de 40 líderes mundiais no encontro virtual, o democrata comanda a primeira sessão da cúpula com o objetivo de mostrar que os EUA são confiáveis na liderança para uma economia mais justa e sustentável, recuperando o prestígio do país no cenário multilateral depois de quatro anos de isolacionismo sob Donald Trump.

Ao anunciar metas contundentes, Biden queria estimular outros países a fazerem o mesmo, na tentativa de frear o aquecimento global em 1,5°C. Para isso, o planeta precisa neutralizar as emissões de carbono até 2050.

Reduzir em pelo menos 50% as emissões de poluentes nos EUA nesta década é quase o dobro do que havia sido acordado anteriormente pelos americanos no âmbito do Acordo de Paris. Em 2015, Barack Obama, de quem Biden era vice, prometeu reduzir de 26% a 28% das emissões até 2025, em relação aos índices de 2005. Dois anos depois, Trump retirou os EUA do acordo, mas Biden retomou a posição em seu primeiro dia de governo. Agora, o democrata quer mostrar que é preciso ir além das metas estabelecidas há seis anos para evitar catástrofes ambientais ainda maiores.

Ao lado de sua vice-presidente, Kamala Harris, Biden falou na primeira sessão da cúpula, intitulada “Aumentando nossas Ambições Climáticas”, na qual falam também os líderes das principais economias do globo —e mais poluentes— e dos países com importantes credenciais ambientais, como Brasil, China, Índia, Rússia, Reino Unido, Alemanha e França —com três minutos de discurso cada um.

Por causa do formato virtual, não houve espaço para reuniões ou fechamentos de acordos bilaterais, segundo diplomatas envolvidos nas negociações.

LEIA A ÍNTEGRA DO DISCURSO DE JOE BIDEN

"Bom dia a todos os nossos colegas ao redor do mundo, aos líderes mundiais que participam desta cúpula. Eu que agradeço. Vocês sabem, a liderança de vocês nesta questão é uma declaração para os povos de suas nações e para os povos de todas as nações, especialmente nossos jovens, de que estamos prontos para enfrentar este momento. E encontrar este momento é mais do que preservar nosso planeta; é também providenciar um futuro melhor para todos nós.

É por isso que, quando as pessoas falam sobre a questão climática, eu penso em empregos. Dentro de nossa resposta climática está um extraordinário motor de criação de empregos e oportunidades econômicas pronto para ser acionado. É por isso que propus um investimento gigantesco em infraestrutura e inovação nos Estados Unidos para aproveitar a oportunidade econômica que a mudança climática apresenta aos nossos trabalhadores e comunidades, especialmente aqueles que muitas vezes foram deixados de fora e deixados para trás.

Eu gostaria de construir uma infraestrutura crítica para produzir e implantar tecnologia limpa, tanto aquelas que já podemos aproveitar hoje quanto aquelas que inventaremos amanhã.

Conversei com especialistas e vejo o potencial para um futuro mais próspero e justo. Os sinais são inconfundíveis. A ciência é inegável. Mas o custo da inércia é e continua aumentando.

Os Estados Unidos não estão esperando. Decidindo agir, não apenas o nosso governo federal, mas nossas cidades e nossos estados em todo o nosso país; pequenas empresas, grandes empresas, grandes corporações; trabalhadores americanos em todos os campos.

Vejo uma oportunidade de criar milhões de empregos sindicais de classe média bem remunerados.

Vejo trabalhadores instalando milhares de quilômetros de linhas de transmissão para uma rede limpa, moderna e resiliente.

Vejo trabalhadores tapando centenas de milhares de poços de petróleo e gás abandonados que precisam ser limpos e minas de carvão abandonadas que precisam ser recuperadas, interrompendo os vazamentos de metano e protegendo a saúde de nossas comunidades.

Vejo trabalhadores da indústria automobilística construindo a próxima geração de veículos elétricos e eletricistas instalando em todo o país 500.000 estações de recarga ao longo de nossas rodovias.

Vejo engenheiros e trabalhadores da construção civil construindo novas usinas de captura de carbono e hidrogênio verde para gerar aço e cimento mais limpos e produzir energia limpa.

Vejo fazendeiros implantando ferramentas de ponta para transformar o solo do nosso interior na próxima fronteira em inovação de carbono.

Ao manter esses investimentos e colocar essas pessoas para trabalhar, os Estados Unidos se lançam no caminho para reduzir os gases do efeito estufa pela metade até o fim desta década. É para lá que estamos caminhando como nação, e é isso que podemos fazer se agirmos para construir uma economia que não seja apenas mais próspera, mas mais saudável, mais justa e mais limpa para todo o planeta.

Vocês sabem, essas etapas colocarão os Estados Unidos no caminho da economia de emissões líquidas zero até 2050. Mas a verdade é que os Estados Unidos representam menos de 15% das emissões mundiais. Nenhuma nação pode resolver esta crise por conta própria, e sei que todos vocês entendem isso perfeitamente. Todos nós, e particularmente aqueles de nós que representam as maiores economias do mundo, temos que dar um passo à frente.

Vocês sabem, aqueles que agem e fazem investimentos ousados em seus trabalhadores e no futuro com energia limpa ganharão os bons empregos de amanhã e tornarão suas economias mais resistentes e competitivas.

Então, vamos entrar nessa corrida; alcançar um futuro mais sustentável do que temos agora; superar a crise existencial de nossos tempos. Sabemos como isso é extremamente importante porque os cientistas nos dizem que esta é a década decisiva. Esta é a década em que devemos tomar decisões que evitarão as piores consequências de uma crise climática. Devemos tentar manter o aumento da temperatura em 1,5 graus Celsius.

Vocês sabem, o mundo acima de 1,5 graus Celsius significa incêndios, inundações, secas, ondas de calor e furacões mais frequentes e intensos que devastam comunidades, destruindo vidas e meios de subsistência, e os impactos serão cada vez mais terríveis para nossa saúde pública.

É inegável, vocês sabem, a ideia de acelerar a realidade que virá se nós não fizermos alguma coisa. Não podemos nos resignar a esse futuro. Temos que agir, todos nós.

E esta cúpula é nosso primeiro passo na estrada que iremos viajar juntos, se Deus quiser, todos nós, até Glasgow em novembro para a Conferência do Clima da ONU —a Conferência sobre Mudanças Climáticas— você sabem, para colocar nosso mundo no caminho de um futuro seguro, próspero e sustentável. A saúde das comunidades em todo o mundo depende disso. O bem-estar de nossos trabalhadores depende disso. A força de nossas economias depende disso.

Os países que tomarem medidas decisivas agora para criar as indústrias do futuro serão aqueles que colherão os benefícios econômicos do boom de energia limpa que está por vir.

Vocês sabem, estamos aqui nesta cúpula para discutir como cada um de nós, cada país, pode definir ambições climáticas mais elevadas que, por sua vez, criarão empregos bem remunerados, promoverão tecnologias inovadoras e ajudarão os países vulneráveis a se adaptarem aos impactos da mudança climática.

Precisamos nos mover. Nós temos que agir rapidamente para enfrentar esses desafios. Os passos dados por nossos países entre agora e Glasgow irão preparar o mundo para o sucesso na proteção de meios de subsistência em todo o mundo e manter o aquecimento global em um máximo de 1,5 grau Celsius. Devemos entrar no caminho agora para chegar onde queremos.

Se o fizermos, vamos respirar mais fácil, literal e figurativamente; criaremos bons empregos aqui em casa para milhões de americanos; e estabeleceremos uma base sólida para o crescimento no futuro. E esse também pode ser o seu objetivo. Este é um imperativo moral, um imperativo econômico, um momento de perigo, mas também um momento de possibilidades extraordinárias.

O tempo é curto, mas acredito que podemos conseguir. E acredito que conseguiremos.

Obrigado por participarem da cúpula. Agradeço às comunidades que vocês e pelos compromissos que vocês assumiram, e pelas comunidades às quais vocês pertencem. Deus abençoe todos vocês.

Estou ansioso para o progresso que podemos fazer juntos hoje e além. Realmente não temos escolha. Temos que fazer isso."

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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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