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Morte de Peres é tratada com indiferença no mundo árabe

Por Agência O Globo

29/09/2016 3h52 — em
Mundo



TEL AVIV — A morte de Shimon Peres, um dos ícones políticos mais marcantes da História israelense, despertou comoção no país e no mundo, mas foi recebida com indiferença ou mesmo ira entre os palestinos e em vários países árabes. Apesar de a Autoridade Nacional Palestina (ANP) elogiar os esforços de Peres pela paz regional, o grupo radical Hamas declarou que “o povo está feliz com a morte deste criminoso.”

Líderes mundiais expressaram pesar pela perda do ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz de 1994, que morreu na madrugada de ontem (hora local) em decorrência de um acidente vascular cerebral, aos 93 anos. Chefes de Estado e governo irão a Jerusalém para o funeral. Segundo a Chancelaria de Israel, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, François Hollande, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, o príncipe britânico Charles e outros representantes se reunirão no cemitério do Monte Herzl — onde estão enterradas várias das grandes figuras de Israel.

“Poucas pessoas mudam o curso da História. Meu amigo Shimon era uma delas”, disse Obama em nota após a morte de Peres. “Ele era a essência de Israel.”

Nascido na Polônia em 1923, Peres chegou ao território da então Palestina, sob mandato britânico, com 11 anos. Na década de 1940, teve papel ativo na criação do Estado de Israel, sob a tutela de David Ben-Gurion, primeiro líder do país. Ocupou vários cargos de alto nível, sendo duas vezes primeiro-ministro, presidente (2007-2014), e ministro da Defesa, das Finanças e também das Relações Exteriores.

“Sua luta pela paz permanecerá como seu mais importante legado”, disse o presidente Michel Temer, enquanto o chanceler José Serra elogiou sua “crença na democracia e no diálogo como o caminho para a solução dos problemas”.

INDIFERENÇA NO MUNDO ÁRABE

Antigos rivais na política israelense também lamentaram a morte. O premier Benjamin Netanyahu, do direitista Likud, chamou o trabalhista Peres de “visionário”.

— Shimon dedicou sua vida ao renascimento de nosso povo. Era um visionário que olhava para o futuro. Era também um paladino da defesa de Israel — disse, elogiando o apoio de Peres ao programa nuclear do país e a suas ações militares.

Com Peres, desaparece também o último alto integrante dos Acordos de Oslo, que deram bases para a autonomia palestina nos anos 1990 e valeram ao então chanceler o Nobel da Paz junto a Yitzhak Rabin (premier) e Yasser Arafat (líder palestino). Nos últimos anos, ele promovia a reconciliação de judeus e árabes.

“Seus críticos o chamavam de sonhador. Ele foi um — um sonhador lúcido e eloquente até o fim. Ainda bem”, escreveu o ex-presidente americano Bill Clinton, mediador do acordo em 1993.

Hoje, com a tensão provocada pelo crescimento dos assentamentos na Cisjordânia — dos quais Peres foi um dos idealizadores, quando era ministro da Defesa — não há sinais concretos de retomada das conversas. Ontem, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, classificou-o em nota como um “sócio valente em busca da paz”: “Peres fez esforços constantes e ininterruptos para alcançar a paz desde Oslo.”

Mas o sentimento em Ramallah e Gaza era outro. Moradores entrevistados por agências chamaram-no de “carniceiro” e até “genocida”. Em nota, o grupo radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza, classificou o ex-presidente como “um criminoso”: “Shimon Peres foi um dos últimos fundadores israelenses da ocupação.”

No mundo árabe, a morte de Peres foi tratada com indiferença ou uma visão mais crítica. A edição online do “al-Ahram, principal jornal do Egito, dedicou-lhe apenas cinco linhas, e o país manteve silêncio sobre quem mandaria ao funeral. Na rede de TV al-Jazeera, do Qatar, o obituário de Peres perguntava no título: “Artífice da paz ou criminoso de guerra”. Até a noite de ontem, líderes de Líbano e Jordânia, que já guerrearam com Israel, não haviam se manifestado oficialmente.


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