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Missão da ONU chega à China para avaliar situação de minorias muçulmanas

Por Folha de São Paulo

23/05/2022 18h36 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A alta comissária das Nações Unidas para direitos humanos, Michelle Bachelet, chegou à China nesta segunda-feira (23) para uma visita de seis dias, naquela que é a primeira viagem oficial de um titular do cargo à nação asiática desde 2005.

O principal ponto do roteiro é Xinjiang, onde o regime comunista liderado por Xi Jinping é acusado de reprimir minorias muçulmanas como a dos uigures. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, acusa Pequim de praticar genocídio e crimes contra a humanidade na região.

Espera-se que a alta comissária visite centros de detenção locais que, ao todo, abrigam mais de 1 milhão de uigures. Questionado sobre o tema, o porta-voz da chancelaria chinesa Wang Wenbin afirmou que Pequim facilitará a visita para "promover o desenvolvimento da causa internacional dos direitos humanos". Acrescentou, no entanto, que o regime se opõe ao "uso do assunto para manipulação política".

Organizações de direitos humanos, entre as quais a Anistia Internacional, cobram que Bachelet, ex-presidente do Chile, assuma postura mais crítica à forma como o regime chinês trata os uigures. Os EUA chegaram a se manifestar, alegando estarem preocupados com o "silêncio frente à indiscutível evidência de atrocidades em Xinjiang".

Wenbin afirmou que a imprensa não poderá acompanhar a viagem da funcionária da ONU —algo que, de acordo com o porta-voz da diplomacia, foi acordado por ambas as partes. A justificativa para a restrição, segundo ele, é a pandemia de Covid, que tem levado a China a colocar importantes regiões financeiras e sociais, como a cidade de Xangai, sob rígida quarentena.

A visita tem sido vista com ceticismo por aqueles que denunciam internacionalmente a situação das minorias muçulmanas. Ativistas afirmam que Pequim poderia utilizar a presença das Nações Unidas para mostrar apenas detalhes da situação e, desse modo, encobrir suspeitas maiores de crimes cometidos.

"Não há mais muita evidência visível de repressão", disse à agência AFP Peter Irwin, do Projeto de Direitos Humanos Uigures. Ele afirma que Xinjiang, após uma onda massiva de encarceramento e repressão nas ruas, estaria agora focando o desenvolvimento econômico local.

Grupos locais também afirmam que a vigilância estatal constante e o medo de represálias podem impedir que cidadãos uigures falem abertamente com a equipe da ONU. "Tememos que a visita seja manipulada pelo regime chinês", disse Maya Wang, pesquisadora da ONG Human Rights Watch.

O instituto americano Freedom House, que descreve a China como um país não livre em termos de democracia e direitos políticos e civis, afirma que a detenção de mais de 1 milhão de uigures em prisões e campos de trabalho forçados limita as taxas de natalidade.

"Mulheres uigures e de outros grupos muçulmanos, especialmente as com dois ou mais filhos, estão sendo sujeitadas a um programa de esterilização forçada", diz trecho do relatório mais recente do instituto.

A China nega que reprima uigures em Xinjiang e descreve as acusações como "a mentira do século". O regime afirma que as políticas na região permitiram combater o extremismo, o separatismo e o radicalismo religioso e melhorar a qualidade de vida na fronteira noroeste do país.

No perfil oficial do Alto Comissariado para Direitos Humanos no Twitter, uma foto na qual Bachelet aparece sentada ao lado de autoridades chinesas traz comentário da chilena: "Vamos discutir questões sensíveis e importantes de direitos humanos e espero que essa visita nos ajude a trabalhar juntos pelo avanço dos direitos humanos na China".

A ONU informou que uma equipe foi enviada à China há um mês, na última semana de abril, para iniciar as investigações. A equipe ficou em Guangzhou, onde teve reuniões virtuais enquanto cumpria o período de isolamento determinado por Pequim. Depois, realizou conversas presenciais com a população local e com pessoas de Xinjiang.


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