Israel promete retomar guerra em Gaza se Hamas não soltar reféns

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pressionado por manifestações crescentes de rua contra o risco do colapso da trégua na Faixa de Gaza, o premiê Binyamin Netanyahu disse nesta terça (11) que irá romper o cessar-fogo se o grupo terrorista Hamas não libertar reféns israelenses no sábado (15).
Falando grosso e de forma imprecisa, ele não disse quantos reféns espera ver soltos. "Se o Hamas não devolver nossos reféns até o meio-dia de sábado, as Forças de Defesa de Israel irão recomeçar combates intensos até que o Hamas seja finalmente derrotado."
Assim, ele paga sua conta à ultradireita que o apoia e ao gabinete de segurança do governo, que passou quatro horas reunidos e apoiou o ultimato dado pelo presidente Donald Trump ao Hamas, que falava genericamente em exigir a libertação de todos os 76 reféns tomados pelos terroristas em 7 de outubro de 2023, incluindo aí talvez 36 mortos.
O ultimato igualmente impreciso de Trump sugeria que o Estado judeu deveria "abrir as portas do inferno" novamente em Gaza, e respondia ao anúncio do grupo que iria adiar a libertação por considerar que Tel Aviv não cumpria sua parte do acordo.
Ao mesmo tempo, Netanyahu responde às ruas e mantém a janela de negociação, aquiescendo à pressão do Hamas. O que não ficou claro é a quantos reféns Netanyahu se referia. Segundo relatos múltiplos na imprensa israelense, ele quer os nove reféns presumidamente vivos que seriam soltos na primeira fase da trégua que ainda se estenderia por mais duas semanas.
Inicialmente, o Hamas deveria soltar três pessoas neste sábado.
Os temos da trégua, chancelada por Trump antes de sua posse, preveem uma libertação em fases dos reféns, em troca de prisioneiros palestinos a mais recente rodada foi no fim de semana passado, e a sexta será no sábado.
O clima nesta terça foi ainda mais acirrado nesta terça com o anúncio, pelas forças israelenses, de que um dos reféns presumidos do 7 de outubro de 2023 morreu. Shlomo Mansour foi morto no kibutz em que morava perto de Gaza e seu corpo, levado pelo Hamas. Aos 85 anos naquele dia, é a vítima mais idosa do massacre.
NOVA CRISE COMEÇOU COM ANÚNCIO DO HAMAS
A nova crise havia começado na segunda (10), quando o Hamas anunciou que iria adiar a libertação de reféns prevista para o próximo sábado devido ao que chamou de violações de Israel da trégua.
O grupo terrorista disse que o Estado judeu estava impedindo o acesso de moradores de Gaza às ruínas de suas casas e a entrada de ajuda humanitária. Citou apenas de forma reservada, contudo, o real problema: o plano apresentado por Trump, que prevê a remoção dos palestinos do território para sempre.
O presidente tem endurecido os termos de sua proposta, abraçada com entusiasmo pela ultradireita que sustenta Netanyahu no Parlamento, mas o fato é que pouco se sabe de fato sobre ela. Trump fala em transformar Gaza num resort e em realocar seus moradores em vizinhos como o Egito e a Jordânia.
Nenhum dos países árabes ou a liderança palestina concordam com a ideia, criticada por aliados europeus dos EUA. Nesta terça, o ditador egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, voltou a condenar a ideia e disse que os palestinos têm de ficar em Gaza durante sua reconstrução.
Como seus vizinhos, ele teme também a instabilidade que o influxo de refugiados traria para o país. Do lado jordaniano, Trump irá se encontrar nesta terça com o rei Abdullah 2º para discutir o plano. Já Israel diz fazer preparativos militares para a saída de parte dos 2,3 milhões de gazenses, mas ressalva que isso seria voluntário.
Seja como for, a Defesa de Israel foi colocada em alerta após o comunicado do Hamas. Nesta terça, elevou ainda mais a prontidão em torno de Gaza, segundo disse Netanyahu em discurso na TV, e está chamando reservistas.
O grupo terrorista ainda tentou amenizar seu tom, dizendo que apenas buscava uma acomodação e o respeito aos termos do cessar-fogo, mas uma nova fala de Trump no fim da segunda azedou ainda mais o clima.
Conversando com repórteres e dizendo falar em caráter pessoal, defendeu que Israel deveria romper a trégua se todos os reféns remanescentes não fossem soltos no sábado algo que não estava previsto no acordo, como o Hamas lembrou na manhã da terça.
"Trump precisa lembrar que há um acordo que deve ser respeitado por ambas as partes. A linguagem das ameaças não tem valor e só complica as coisas", disse um porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, à agência Reuters. Se a trégua afundar, os rebeldes houthis do Iêmen, aliados dos palestinos igualmente bancados pelo Irã, prometem retomar sua campanha no mar Vermelho.
A alternativa ao grupo, segundo Trump, seria "abrir as portas do inferno" novamente sobre a região. A fala foi amplificada no Parlamento israelense pela extrema direita religiosa, e gerou protestos por parte das famílias dos reféns.
FAMÍLIAS PROTESTAM CONTRA TRUMP E NETANYAHU
Milhares de manifestantes foram à frente do escritório de Netanyahu em Jerusalém, e a polícia interveio para liberar a rua. O anúncio da morte de Mansour inflamou ainda mais os ânimos.
No Parlamento, houve mais confusão numa sessão do Comitê da Constituição. Seu presidente, o radical Simcha Rothman, comandou uma sessão na qual disse que era necessário "parar esse mau acordo [cessar-fogo], voltar aos combates e abrir os portões do inferno sobre o Hamas".
Ele foi interrompido por Merav Svisrky, cujo irmão Itay morreu em Gaza após ser capturado no 7 de Outubro. Aos gritos, ela disse: "Você está sacrificando vidas humanas, isso é loucura. Meu irmão foi morto por causa de pressão militar".
Até aqui, foram devolvidos a Israel 16 dos 33 reféns da primeira fase de troca com prisioneiros palestinos. Esta etapa deverá durar seis semanas, quando então será negociada a soltura dos talvez mais de 30 reféns ainda vivos.
O Hamas matou 1.200 pessoas e sequestrou outras 251 no 7 de Outubro. Ao todo, 179 reféns foram soltos, numa primeira trégua em novembro de 2023, em resgates e no atual processo. Dos 76 ainda em Gaza, estima-se que 36 estejam mortos.
Do lado palestino, o grupo conta 48 mil mortos nos 15 meses de guerra, e viu centenas de prisioneiros árabes trocados pelos reféns.
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