Grupo de senadores tenta barrar sabatinas de embaixadores em resposta a Ernesto
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um grupo de senadores articula barrar a realização de sabatinas de mais de 30 indicados para embaixadas. O movimento é uma retaliação à visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao Brasil. As sessões na Comissão de Relações Exteriores do Senado estão marcadas para esta segunda-feira (21). Entre os representantes do Brasil estão diplomatas indicados para Argentina, Israel, Chile, Canadá, África do Sul, Irlanda, Guiné, Suriname e Nepal. Na sexta-feira (18), Pompeo visitou as instalações da Operação Acolhida em Boa Vista (RR) na companhia do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. O projeto recebe refugiados da ditadura de Nicolás Maduro. A primeira reação foi do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele afirmou que a visita se tratou de uma "afronta". Ernesto e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defenderam a relação com os EUA. Neste fim de semana, senadores iniciaram um movimento para impor uma derrota a Ernesto. À reportagem, na noite deste domingo (20), Telmário Mota (Pros-RR) disse que fará um requerimento para o adiar a apreciação dos nomes dos embaixadores. Segundo ele, as sabatinas não devem ser feitas antes de a Casa ouvir o ministro sobre o episódio. "É importante sabermos quais as razões do apoio aos EUA contra um país amigo [Venezuela]", disse. Mais cedo, o senador publicou no Twitter que, "em tamanha crise, o Senado deve suspender a aprovação de embaixadores". "Não é hora de o Senado aprovar embaixadores em massa. Sejamos responsáveis. É urgente fazer um balanço do Itamaraty", escreveu. Para o senador, Ernesto "destrói a tradição do Itamaraty e pisa no artigo 4º da Constituição Federal [que diz que o Brasil rege suas relações internacionais pelo princípio da independência nacional]", ao ceder "o território para um agente dos EUA ameaçar um país amigo". A senadora Kátia Abreu (PP-TO) afirmou que fará uma "obstrução dura". Segundo ela, se as sabatinas forem realizadas, corre o risco de virar uma inquisição, uma vez que os diplomatas não se pronunciaram sobre o episódio. "Todo mundo vai querer saber o que esses diplomatas pensam a respeito do que aconteceu em Roraima. Ou eles vão querer pensar no próprio umbigo?", questionou. "O país é mais importante do que a carreira deles. Silenciar significa conivência. Nós temos muita boa vontade com os diplomatas, mas aconteceu um episódio muito desagradável no caminho que deixou o país numa situação muito complicada", afirmou Abreu. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) também defendeu que o Itamaraty seja ouvido sobre o episódio antes da sabatina. "Nossa política externa não vai bem. A soberania e defesa nacional estão em risco", escreveu no Twitter. Renan acrescentou que "a interferência dos EUA no Brasil ultrapassou todos os limites" e que a presença de Pompeo, "afrontando a Venezuela em território nacional, é inconstitucional". "Nosso país não pode virar um pária internacional pelo servilismo a nações externas", disse. O líder da minoria da Casa, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), escreveu na mesma rede que "a prioridade do Senado não pode ser votar embaixador, mas enquadrar a nossa política externa". "O comportamento de nosso ministro de Relações Exteriores fere o artigo 4º de nossa Constituição e a tradição do Itamaraty, nosso país não pode se tornar um pária global", afirmou Randolfe. Na madrugada deste domingo (20), Bolsonaro saiu em defesa da visita de Pompeo a Roraima, na reta final da eleição americana. Nas redes sociais, ele escreveu que a visita representa o quanto Brasil e EUA "estão alinhados na busca do bem comum". "Parabenizo o presidente Donald Trump pela determinação de seguir trabalhando, junto com o Brasil e outros países, para restaurar a democracia na Venezuela", escreveu. Ao lado de Ernesto, Pompeo criticou o regime de Maduro. "Nossa missão é garantir que a Venezuela tenha uma democracia. Nós vamos tirá-lo [Maduro] de lá", disse Pompeo. O ditador venezuelano é um dos principais focos de ataque da campanha do republicano, que defende e aplica sanções contra o regime. Trump está em disputa com o democrata Joe Biden. A visita provocou a reação de políticos brasileiros. Ainda na sexta, Maia, em nota, afirmou que se tratava de uma "afronta às tradições de autonomia e altivez" da política externa brasileira. Maia também lembrou que os Estados Unidos estão em período eleitoral, e faltavam, na ocasião, 46 dias para o pleito, e que Trump busca a reeleição. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio de redes sociais, também criticou a visita. "Foi um desrespeito frontal à soberania do Brasil a atitude do ministro das Relações Exteriores, ao dar palco a descabidas declarações belicistas sobre a Venezuela feitas em Roraima pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo", escreveu Lula. O primeiro membro do governo a sair em defesa da visita foi o próprio ministro das Relações Exteriores. Ernesto disse que a manifestação de Maia "baseia-se em informações insuficientes e em interpretações equivocadas". O chanceler também disse que sentia "orgulho" em trabalhar com os Estados Unidos. "O povo brasileiro preza pela sua própria segurança, e a persistência na Venezuela de um regime aliado ao narcotráfico, terrorismo e crime organizado ameaça permanentemente essa segurança. O povo brasileiro tem apego profundo pela democracia, e o regime Maduro trabalha permanentemente para solapar a democracia em toda a América do Sul", afirmou em nota divulgada pelo ministério. O chanceler afirmou que Brasil e Estados Unidos estão na "vanguarda da solidariedade ao povo venezuelano, oprimido pela ditadura Maduro". "Muito me orgulho de estar contribuindo, juntamente com o secretário de Estado, Mike Pompeo, sob a liderança dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, para construir uma parceria profícua e profunda entre Brasil e Estados Unidos, as duas maiores democracias das Américas. Só quem teme essa parceria é quem teme a democracia", completou.
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