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Giorgia Meloni grava vídeo em 3 idiomas para negar ser risco à democracia na Itália

Por Folha de São Paulo

11/08/2022 16h09 — em
Mundo



MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - A ultradireitista Giorgia Meloni, considerada favorita para ocupar o cargo de primeira-ministra nas eleições italianas de 25 de setembro, divulgou nesta quinta-feira (11) vídeos encaminhados à imprensa internacional negando ser uma ameaça à democracia e condenando o fascismo.

Ela diz que decidiu tomar a iniciativa depois de ler reportagens na imprensa europeia nas quais é descrita como "um perigo à democracia e à estabilidade italiana, europeia e internacional". Meloni é líder do partido Irmãos da Itália, que alcança entre 22% e 24% das preferências de voto e lidera as pesquisas para o pleito antecipado após a renúncia de Mario Draghi.

A política respondeu ao que considera ataques com vídeos de cerca de seis minutos cada um, gravados em espanhol, inglês e francês, e enviados diretamente às Redações dos jornais e sites do continente na quarta (10). Nesta quinta, ela os publicou em seu canal nas redes sociais.

O material é intitulado "Estamos prontos para governar a Itália" e apresenta como justificativa uma introdução que afirma que a imprensa estrangeira "está inspirada pela esquerda".

Nele, Meloni afirma: "Tenho lido que a vitória do Irmãos da Itália nas eleições de setembro seria um desastre, que conduziria a uma mudança autoritária, à saída da Itália da zona do euro e outras bobagens desse tipo. Nada disso é verdade".

Ela então reforça a ofensiva contra a imprensa ao afirmar que as reportagens estão ligadas "a um poderoso circuito midiático da esquerda, que na Itália é muito forte". "Nego categoricamente essa narrativa absurda", diz.

As especulações se dão porque o partido Irmãos da Itália foi fundado por Meloni, em 2012, com uma plataforma nacionalista, eurocética (descrente acerca da União Europeia) e contra o que ela chama de "lobby LGBTQIA+", "violência islamista" e "imigração de massa".

A legenda tem hoje 130 mil filiados, 21 cadeiras no Senado e 37 na Câmara. Sua líder, comparada a outras figuras da direita radical populista da Europa, como a francesa Marine Le Pen, ganhou notabilidade ao se eleger deputada aos 29 anos e, mais tarde, ao assumir como a ministra mais jovem do país, na pasta da Juventude sob o quarto governo de Silvio Berlusconi (2008-2011).

Entre suas declarações controversas está a de quando sugeriu um bloqueio naval na África para impedir que barcos de refugiados chegassem à costa italiana. Em 2019, fez um discurso que analistas consideram ser a catapulta para a força que tem hoje: falou contra a imigração, a islamização da Europa, a adoção por homossexuais, a legalização das drogas e a submissão italiana aos interesses de França e Alemanha. "Sou Giorgia. Uma mulher, uma mãe, uma cristã", se apresentou.

Nos vídeos desta quinta, ela buscou alguma nota de moderação, sem fugir de todo dos conceitos de fundo nacionalista. "O que queremos para o futuro da Itália? Queremos que volte a ser essa nação grande, dinâmica e inovadora, apreciada em todo o mundo e que contribuiu para a grandeza da Europa", diz.

Ecoando discurso repisado também pelo brasileiro Jair Bolsonaro (PL), completa: "Com a esquerda no poder, o Estado se converteu em inimigo do cidadão e das empresas, violando cada vez mais as liberdades individuais. Sim, a liberdade [sorri]. A liberdade é nosso bem mais apreciado".

Segundo ela, a direita italiana se afastou do fascismo há décadas. "Condenamos sem ambiguidades a privação da democracia e as infames leis antijudeus. E obviamente condenamos também o nazismo e o comunismo, a única das ideologias totalitárias do século que ainda segue no poder em alguns países, sobrevivendo a seus trágicos fracassos."

O demissionário Draghi seguiu uma cartilha centrista, liderando uma coalizão de união nacional pela pacificação da conhecida instabilidade política do país. A aliança abrangia todos os espectros políticos e tinha na oposição formal somente o Irmãos da Itália —até o Movimento 5 Estrelas, populista de direita, e a Liga, do ultradireitista Matteo Salvini, implodirem o acordo.

Este último, com o Força, Itália de Berlusconi, formou um acordo com Meloni para o pleito de setembro —por ele, o partido mais votado dos três será o responsável por escolher o novo nome do governo; segundo a romana de 45 anos, será o dela.

Do outro lado, o centro e a esquerda têm batido cabeça: a formação de uma aliança liderada pelo PD (Partido Democrático) de Enrico Letta já teve uma defecção, da Ação, de Carlo Calenda. Nesta quarta, ele anunciou nova parceria com o Itália Viva do ex-premiê Matteo Renzi.

Ante o temor de ascensão ao poder da ultradireita na terceira maior economia da União Europeia em meio às incertezas do enfrentamento das consequências da pandemia e da Guerra da Ucrânia, Meloni afirma no vídeo liderar um grupo de pessoas leais, honestas e decididas. "E estamos prontos para o começo de uma nova era de estabilidade, liberdade e prosperidade para a Itália, quer a esquerda goste disso ou não."


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