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EUA: Eleição atual é ‘optar pelo mais são’, diz pesquisadora em mídia

Por Agência O Globo

21/10/2016 2h52 — em
Mundo



RIO - Doutora em Teoria da Mídia pela New York University, Janet Stemberg avalia que expressões negativas sobre latinos e mulheres usadas pelo magnata no último debate foram presente para a democrata, pois têm impacto na opinião de eleitores ainda indecisos.

O grupo de indecisos é onde há a possibilidade de qualquer evento ou declaração influenciar. Os dois candidatos vêm construindo uma imagem por décadas. Ela na política; ele no entretenimento, diferente de Obama que não tinha muita visibilidade em 2008. Esses dois já têm imagens bem construídas. No caso de Hillary, corrigidas. Ela já se candidatou uma vez e não conseguiu. Trump deu de presente a Hillary duas expressões ontem: “Nasty woman” (mulher asquerosa) e “Bad hombre” (homem mau). Falou justamente para dois grandes grupos em que há indecisos ou que nem iriam votar: latinos e mulheres. Moro na Flórida, apesar de ter muito latino, há muitos que apoiam Trump. Em grande parte, tem mulher que vota no Trump porque detesta Hillary. Esses dois eventos podem ter tido efeito.

Digamos que esta é a primeira eleição, real, da mídia social. Há dois efeitos principais que podem ajudar ou não. Temos a fragmentação da imagem. Você não tem mais o espectador vendo a mesma imagem ao mesmo tempo. Hoje em dia o candidato não sabe quais imagens estão sendo consumidas. Sabemos que não temos mais controle do que vaza, e não vai só aparecer apenas o ângulo que (o candidato) quer. Outro é a fragmentação da experiência: distração e multitarefas. Não só o controle da imagem do candidato está fragmentado, como ele também não sabe se o usuário está prestando atenção.

Ela tem uma equipe de muitos anos, bastante treinada. Trump tem uma equipe sem noção. Ele tem pessoas, como Roger Ailes da Fox News, que têm noção do que vende e dá audiência. Trump dá audiência porque é ultrajante, fora do que se pode pensar. Os assessores dele têm, todos, basicamente mais experiência em publicidade e mídia do que em política. Gostando ou não da Hillary, ela tem anos de experiência na política. Tudo isso dá vantagem em manipular a imagem. Hillary já teve problemas (com a imagem), mas é veterana. Trump só sabe explorar o sensacionalismo. E mais: toda mulher tem um gerenciamento de aparência mais complexo que o homem.

Pode não ter apelo, mas influencia. Não vou dizer que as mulheres gostam, mas tem efeito sobre os homens. É um efeito inconsciente porque, sim, iguala, tira o efeito da saia. Hillary escolheu calça e terno como uniforme. A ideia é neutralizar.

No caso de Trump, ele não tem trabalhado isso bem. Li um artigo sobre os ternos dele, sempre amarrotados, e que não há um assessor para dar boas indicações sobre a roupa. Isso dá a impressão de bagunça. Hillary já tem prática. Um fato de ontem que chamou atenção é que ele não estava muito laranja pela maquiagem. Muita gente comentou isso nas redes.

Só por ser mulher, não significa que ela não é da mesma panelinha. Afinal, ela é mulher de Bill Clinton, ela é do status quo. Escolher entre Hillary ou Trump é optar por alguém mais são.

Acho que a cada derretimento dele fica mais difícil apoiá-lo e menos fácil explicar como chegamos até aqui. Um comentarista disse que o ponto-chave foi quando o Partido Republicano aceitou esse homem como indicado. Os republicanos têm muito o que explicar e isso não vai ser bom para candidatos republicanos em eleições regionais, onde terão que explicar por que apoiaram uma pessoa que realmente passou dos limites há tempos.

Esse pergunta está sendo debatida no contexto de ele criar a Trump TV. O fato de ele não ter mostrado o Imposto de Renda é problemático. Os negócios dele já tiveram problemas, tudo isso veio à luz ao longo da campanha. Fica difícil você achar provas concretas de que ele é um bom homem de negócios.


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