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EUA e União Europeia suspendem voos de países africanos contra nova variante da Covid, ômicron

Por Folha de São Paulo

26/11/2021 17h37 — em
Mundo



BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - Os 27 países da União Europeia suspenderam nesta sexta (26) voos que partem do sul da África, para tentar adiar a disseminação de uma nova variante do coronavírus potencialmente mais transmissível, a ômicron (B.1.1.529). Após o anúncio, os Estados Unidos também decidiram fazer o mesmo.

O bloco europeu decidiu suspender as chegadas de África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Moçambique, Namíbia e Zimbábue. A decisão padroniza as restrições de entrada, para manter o livre trânsito de seus residentes pelas fronteiras internas. Cada governo nacional pode impor medidas adicionais, se julgar necessário, incluindo testes e quarentenas de residentes nacionais que tenham estado nesses países.

A proposta de acionar o chamado "freio de emergência" havia sido feita nesta manhã pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que defendeu que o bloco agisse de forma unida e rápida contra o possível risco do novo mutante. No meio desta tarde, a Bélgica anunciou que já há um caso registrado no continente. ​

Desde a quinta, quando o governo sul-africano comunicou o sequenciamento dessa variante, vários países, inclusive da UE, já haviam determinado o cancelamento de voos ou regras mais duras para quem chega da região em que ela foi detectada.

Na tarde desta sexta, o governo Joe Biden decidiu restringir, a partir da próxima segunda-feira, voos e viajantes vindos da África do Sul, Botsuana, Zimbábue, Namíbia, Lesoto, Suazilândia, Moçambique e Malawi. As medidas não se aplicam a cidadão americanos ou residentes legais, que poderão viajar desde que tenham um teste negativo para a doença.

Em pronunciamento sobre a variante na tarde de quinta (25), a líder técnica da OMS (Organização Mundial da Saúde) Maria van Kerkhove disse que "ainda serão necessárias algumas semanas" para que se possa determinar qual o risco exato do novo mutante do Sars-Cov-2, mas que há preocupação porque a ômicron apresenta muitas mudanças na proteína S (de spike, ou espícula), usada pelo coronavírus para entrar nas células humanas.

O problema dessas mutações é que elas tornam a proteína S muito diferente da que foi usada no desenvolvimento das vacinas atualmente em uso, o que pode, em tese, reduzir a eficácia dos imunizantes.​

O risco de novas variantes perigosas é um dos motivos pelos quais a OMS recomenda que medidas de distanciamento e proteção continuem em vigor, mesmo em países em que a vacinação está avançada.

"Quanto mais o vírus circula, mais oportunidades ele tem de mudar e mais mutações veremos", disse Van Kerkhove.

A OMS fez uma reunião de emergência às 12h (horário local, 8h no Brasil) desta sexta para discutir a nova variante, que ganhou o nome de uma letra do alfabeto grego —ômicron.

Mesmo sem evidências científicas sobre o impacto da nova variante, governos europeus estão preferindo se antecipar. "A variante recém-descoberta nos preocupa, por isso agimos de forma proativa e precoce", afirmou o ministro da Saúde da Alemanha, Jens Saphn.

O Reino Unido foi um dos primeiros a anunciar o fechamento de aeroportos, na quinta. No país, desembarcam em média por dia mais de 500 passageiros vindos da África do Sul. Os que chegaram nos últimos dez dias serão chamados para testes.

A medida gerou reações no governo sul-africano, que chamou a restrição de voos de "injustificada". "Nossa preocupação imediata é o dano que esta decisão vai causar tanto ao turismo e aos negócios dos dois países", disse o ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor.

Vários outros países tomaram medidas no mesmo sentido (veja lista abaixo), como o Canadá, Turquia, Índia e Japão.

ENTENDA A VARIANTE, AINDA SOB ANÁLISE

A nova variante da Covid, com múltiplas mutações e potencialmente mais contagiosa, foi detectada na África do Sul, país que vê sinais de uma nova onda da pandemia. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (25) por cientistas e pelo governo da África do Sul.

A variante ômicron (B.1.1.529) apresenta um número "extremamente alto" de mutações e "podemos ver que ela tem potencial para se espalhar muito rapidamente", afirmou o virologista Túlio de Oliveira, em entrevista coletiva online supervisionada pelo Ministério da Saúde da África do Sul.

Além da potencial maior capacidade de disseminação, também há preocupação quanto a mutações ligadas a um possível escape imune, ou seja, possibilidade de redução de eficácia de vacinas. Os cientistas ainda não têm como fazer afirmações mais precisas sobre isso.

Oliveira aponta que há mais de 30 mutações na proteína S (spike), através da qual o vírus se liga em células humanas para efetuar a invasão, o que faz com que essa variante seja muito diferente das cepas que circulam no mundo.

Dados preliminares apontam que a variante aumentou rapidamente na província de Gauteng, a mais populosa do país e que inclui Pretória e Johannesburgo, e já pode estar presente nas outras oito províncias do país.

Segundo Oliveira, a vigilância genômica aponta que a ômicron, em menos de duas semanas, já sobressai em relação às infecções pelas outras variantes da Covid, logo após "uma devastadora onda da delta".

Pesquisadores afirmam que cerca de 90% dos novos casos em Gauteng poderiam estar associados à variante ômicron.

O NICD (Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul), porém, não atribui o crescimento de caso locais à nova variante. Mais de 1.200 casos novos em 24 horas foram registrados na quarta-feira, contra cem no início do mês. Os dados diários desta quinta, publicados pelo NICD, já apontam para 2.465 novas infecções.

"Existem muitas variantes, mas algumas não têm influência sobre a evolução da epidemia", comentou em uma entrevista coletiva John Nkengasong, do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana).

Segundo o professor de microbiologia clínica da Universidade de Cambridge, Ravi Gupta, a ômicron mostra sinais de "mutação cumulativa", o que indica que surgiu em uma infecção crônica.

Ele afirmou que há motivos para preocupação porque os pontos em que as mutações foram identificadas podem estar associados à ação de anticorpos neutralizantes, à capacidade do vírus de penetrar nas células e de se propagar de célula a célula.

Avaliação semelhante foi feita pelo diretor do Instituto de Genética UCL, de Londres, François Balloux: "Dado o grande número de mutações que acumulou aparentemente em uma única explosão, a variante provavelmente evoluiu durante uma infecção crônica de uma pessoa imunocomprometida, possivelmente um paciente com HIV/Aids não tratado".

Embora sejam necessários estudos mais aprofundados, ele afirma que existe o risco de o novo mutante ser "mal reconhecido por anticorpos neutralizantes em relação às variantes alfa ou delta".

​"Por enquanto, deve ser monitorado e analisado de perto, mas não há motivo para se preocupar excessivamente, a menos que comece a aumentar sua frequência em um futuro próximo."

RESTRIÇÕES PELO MUNDO

União Europeia

Suspendeu temporariamente voos vindos de África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Moçambique, Namímia e Zimbábue. Os 27 membros podem impor restrições adicionais.

Alemanha

A partir da noite desta sexta (26), as companhias aéreas só poderão trazer para o país, do sul africano, residentes no país. Todos terão que fazer 14 dias de quarentena, inclusive os que foram vacinados.

Áustria

Proíbe a partir desta noite a entrada de quem vem de África do Sul, Lesoto, Botsuana, Zimbábue, Moçambique, Namíbia e Eswatini. Cidadãos austríacos têm direito a entrar, mas têm de cumprir quarentena de dez dias e fazer teste PCR

Canadá

Proibiu voos e a entrada de viajantes que estiveram na África do Sul, Namíbia, Lesoto, Botsuana, Suazilândia, Zimbábue e Moçambique em 14 dias antes de viagem. Canadenses e pessoas com visto de residência poderão entrar no país, desde que apresentem um teste negativo para a doença e que façam quarentena por 14 dias.

Chipre

Proibiu voos que tenham passado por África do Sul, Namíbia, Lesoto, Eswatini, Zimbábue, Moçambique, Malaui e Botsuana e a entrada de não residentes que tenham estado nesses países nos últimos 14 dias.

Residentes ou cidadãos da União Europeia que tenham estado nessa região devem apresentar resultado negativo de teste para Covid feito até 72 horas antes e ficar em quarentena por dez dias em hotéis cadastrados.

Emirados Árabes Unidos

Proíbe a entrada na segunda-feira de quem vem da África do Sul, Botsuana, Zimbábue, Namíbia, Lesoto, Suazilândia e Moçambique.

Estados Unidos

Suspenderão a partir de segunda voos e a entrada de viajantes da África do Sul, Botsuana, Zimbábue, Namíbia, Lesoto, Suazilândia, Moçambique e Malawi.

​​Guatemala

Vai limitar a entrada de viajantes do Lesoto, Moçambique e África do Sul.

Holanda

Proibiu voos do sul da África a partir do meio-dia de sexta-feira. A região será rotulada de "alto risco": viajantes terão que fazer quarentena de dez dias e testes obrigatórios.

Índia

Não havia barrado voos até a manhã desta sexta (26), mas viajantes vindos do sul da África são obrigados a fazer testes frequentes

Israel

Proibiu a entrada de viajante estrangeiro que tenha estado na África do Sul, Lesoto, Botswana, Zimbábue, Moçambique, Namíbia ou Eswatin. Os israelenses que retornarem serão obrigados a entrar em quarentena.

Itália

Proibiu a entrada no país de qualquer pessoa que tenha estado na África do Sul, Lesoto, Botswana, Zimbábue, Moçambique, Namíbia ou Eswatini nos últimos 14 dias.

Japão

Restringiu voos vindos da África do Sul

Marrocos

Restringiu voos vindos da África do Sul, Botsuana, Namíbia, Lesoto, Suazilândia, Moçambique e Zimbábue.

Reino Unido

Acrescentou à lista vermelha seis países africanos: África do Sul, Namibia, Zimbábue, Botswana, Lesoto e Eswatini, a partir das 12h (9h no Brasil) desta sexta (26) —passageiros que tenham estado nesses países nos últimos 14 dias poderão entrar apenas se forem residentes no Reino Unido e na Irlanda.

Auto-isolamento para residentes que chegam desses países será obrigatório e, a partir de domingo, deve ser feito em hotéis, sob vigilância. Também são compulsórios testes no segundo e no oitavo dia após o desembarque.

Viajantes que chegaram desses países nos últimos dez dias serão chamados a fazer testes.

Voos serão temporariamente proibidos entre essas nações e o Reino Unido

República Tcheca

Proibiu a entrada de não residentes que venham da África do Sul

Suíça

Proibiu voos de África do Sul, Namibia, Moçambique, Zimbábue, Botsuana, Lesoto e Eswatini.

Viajantes partindo desses países só poderão entrar se forem residentes ou cidadãos suíços ou da zona Schengen.

Quem tiver passado pelo sul da África, por Hong Kong, Israel ou Bélgica, a partir das 20h desta sexta (26) terá que apresentar teste negativo para Sars-Cov-2 e fazer quarentena de dez dias.

Turquia

Restringiu a entrada de viajantes que passaram por Botsuana, África do Sul, Moçambique, Namíbia e Zimbábue.


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