Epstein disse que recebeu ligação com Lula e que 'Bolsonaro é o cara', mostra troca de emails
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi citado em emails do caso Jeffrey Epstein divulgados por parlamentares republicanos dos Estados Unidos. Em troca de mensagens com um interlocutor não identificado, o financista acusado de abuso e tráfico sexual nos EUA escreveu ter recebido uma ligação do escritor americano Noam Chomsky com o petista na linha, direto da prisão.
Chomsky visitou Lula na sede da Polícia Federal em Curitiba em setembro de 2018, de quando datam as mensagens de Epstein. Os emails não deixam claro se o líder petista teria participado diretamente das conversas. Procurada, a Secretaria da Presidência da República diz que a informação não procede. "A citada ligação telefônica nunca aconteceu", afirma a pasta em nota.
As mensagens mencionam o que pode ser a eleição brasileira. "Diga a ele que meu garoto vai vencer a eleição no primeiro turno", escreveu o interlocutor do financista na troca de emails.
Logo em seguida, Epstein cita "uma mensagem de Lula ao Partido dos Trabalhadores (PT) sobre a militância da organização", que teria sido emitida naquele dia.
Algumas mensagens abaixo, o financista escreve: "Bolsonara [sic] the real deal" (Bolsonaro é o cara). Em outra conversa, um interlocutor se refere ao político do PL como o "amigo paraquedista brasileiro".
Epstein e o interlocutor não identificado comentaram também sobre a política na América do Sul de uma forma geral. Na troca de mensagens, o financista escreveu que a Argentina seria o "próximo [país] a colapsar". O interlocutor, então, afirma ser necessária a liderança de "um populista". À época, o presidente argentino era Mauricio Macri, de centro-direita.
"Toda a América do Sul, Brasil, Venezuela, Argentina. Não sei por que são tão sujos, visto que há tantas empregadas domésticas", responde, então, Epstein.
Em outra troca de mensagens, datada de janeiro de 2013, Epstein e seu interlocutor, que está omitido, conversam sobre o Brasil ser um lugar "quente para investimento agora", citando negócios envolvendo a compra de caças e acordos de compensação (offset).
Os interlocutores tinham conhecimento dos países envolvidos são citados França, EUA e Suécia e o número de caças. O interlocutor de Epstein diz em dado momento que estava em uma ligação com um cara da Suécia "que estava lidando com isso". "Eu nunca sei se as histórias são reais, mas ele alega que trabalha com o presidente brasileiro, com [Barack] Obama, com Warren Buffet etc..."
Em dezembro daquele ano, o então governo Lula fechou negócio com a sueca Saab para compra de 36 caças Gripen, que seriam produzidos no Brasil.
Os documentos foram publicados pelos republicanos na quarta-feira (12) após membros do Partido Democrata divulgarem emails atribuídos a Epstein sugerindo que o presidente Donald Trump tinha ciência dos abusos sexuais que teriam sido cometidos pelo financista e que passou horas com uma das vítimas.
Trump afirmou em seguida que os democratas tentam "ressuscitar a farsa de Jeffrey Epstein" com uma "armadilha" para desviar a atenção "do quão desastrosos foram com a paralisação do governo", em relação ao mais longo apagão da história do governo americano.
O atual presidente americano reconhece ter sido próximo de Epstein nos anos 1990 e início dos 2000, mas afirma que rompeu a amizade após uma disputa por um imóvel em Palm Beach, na Flórida. Epstein foi encontrado morto em 2019, numa prisão de Manhattan, em ocorrência registrada como suicídio.
Chomsky, por sua vez, foi próximo de Epstein e teve encontros com o financista para, segundo ele, discutir assuntos políticos, acadêmicos e financeiros. Segundo os documentos, o financista teria facilitado a movimentação de aproximadamente US$ 270 mil ligados a Chomsky e sua falecida esposa para "ajuda em assunto técnico", situação que o escritor descreveu como relacionada à reorganização de seus ativos.
O escândalo envolve uma vasta rede de exploração e tráfico sexual de menores que Epstein, com a ajuda de sua ex-namorada Ghislaine Maxwell, supostamente operava. Epstein era acusado de pagar por atos sexuais com meninas adolescentes, de traficar dezenas de jovens, algumas com apenas 14 anos, e de forçá-las a prestar serviços sexuais em suas propriedades em Nova York, Flórida, Novo México e em sua ilha particular no Caribe que posteriormente ficou conhecida como ilha Epstein.
O caso ganhou notoriedade não apenas pela gravidade dos crimes, mas também pela associação de Epstein com figuras públicas e poderosas como o presidente Trump, o ex-presidente Bill Clinton, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o príncipe Andrew do Reino Unido, o que levantou dúvidas sobre a real extensão de sua rede e a possível relutância das autoridades em punir os infratores.
O tema é caro à base trumpista e considerado sensível para o líder republicano, que sempre negou envolvimento nos abusos. Trump tem sido pressionado para determinar a divulgação completa dos arquivos do caso. Grupos que inclusive formam a base de apoio do presidente exigem que o Departamento de Justiça esclareça o conteúdo dos documentos e identifique envolvidos que ainda não teriam sido expostos.
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