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Em primeiro debate, Hillary e Trump tentam refazer imagens e reduzir rejeição

Por Agência O Globo

26/09/2016 3h52 — em
Mundo



WASHINGTON — Cerca de cem milhões de americanos devem assistir, na noite desta segunda-feira, ao primeiro debate entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Tump. A esperada audiência recorde, que deve superar os 80 milhões de espectadores do enfrentamento entre Ronald Reagan e Jimmy Carter em 1980, reforça as avaliações de que o primeiro encontro entre os dois poderá ser decisivo nas eleições de 8 de novembro. O empate nas pesquisas e as polêmicas envolvendo cada um dos postulantes à Casa Branca ampliam a importância do evento, que será transmitido ao vivo a partir das 22h (horário de Brasília).

Os dias anteriores ao debate foram cercados de episódios de tensão. A indicação da campanha de Hillary sobre eventual convite a Mark Cuban, um dos mais ferrenhos críticos do bilionário, para o evento que será sediado na Universidade Hofstra, em Long Island, Nova York, mostra um pouco disso. O republicano rebateu via Twitter, escrevendo que queria ter Gennifer Flowers na plateia. Trata-se de ninguém menos que uma modelo que, nos anos 1980, ficou famosa após ter um caso com o então governador Bill Clinton, marido de Hillary, que só admitiu a relação em 1998. Os supostos casos extraconjugais do ex-presidente são um dos pontos fracos de Hillary — ela é acusada de ser “pouco feminista” ao perseguir as mulheres que teriam se envolvido com seu marido.

A notícia de um eventual convite a Gennifer repercutiu mal para o republicano. A campanha de Hillary disse que esse é mais um exemplo de como, ao baixar o nível do debate, ele comprova que não “serve” para ser presidente. Redes sociais se colocaram contra Trump, cuja campanha negou, no domingo, que tenha convidado “oficialmente” a ex-amante de Bill Clinton. Segundo Kellyanne Conway, gerente da campanha republicana, tudo não passou de uma “provocação” de Trump.

Pois o comportamento de Trump estará sob exame público durante o debate. Considerado explosivo, inconsequente e politicamente incorreto, o magnata cresceu na campanha durante as primárias republicanas, ganhando manchetes e apoiadores, graças a um estilo que foge de todos os manuais de política. Deprecia os concorrentes — chamava Hillary de “Trapaceira Clinton” — e ataca grupos inteiros de eleitores, como latinos, muçulmanos, imigrantes e mulheres. O debate será fundamental para saber se ele consegue se portar como um presidente — embora 61% dos eleitores não acreditem nisso. Segundo analistas, se o candidato controlar o palavreado, pode conquistar o eleitorado moderado, independente e indeciso que vai decidir o jogo no dia 8 de novembro.

A seu favor, estão as baixas expectativas que sua campanha criou. Trump disse que “não tem se preparado” para o debate e que, se perder no enfrentamento com Hillary, será pela “atuação do mediador” — Lester Holt, da NBC —, acusado por ele de ser “claramente” um apoiador da democrata. O bilionário chegou a sugerir, no começo do mês, que o debate ocorresse sem mediador, apenas com os dois adversários no palco. Ou seja, se Trump não tiver um desempenho sofrível, poderá ser considerado um vencedor e, ao menos, não perder apoio.

Já Hillary, por sua vez, tem os próprios desafios a vencer. O primeiro é a alta expectativa. Pesquisas indicam que os americanos esperam que ela “vença” o debate. Sua campanha ajudou a criar esta ansiedade, dizendo que a democrata está se preparando muito para o confronto, publicando, até, pilhas de livros que estavam usando antes do enfrentamento. Portanto, qualquer questionamento sobre sua atuação poderá ser visto como derrota.

Além disso, Hillary precisa fazer Trump sair do sério sem ser muito agressiva, o que poderia ser mal visto pelos eleitores. A ela também caberá expor as fragilidades dos planos do republicano, que, nos debates travados durante as primárias, sempre foi criticado ao entrar em grandes temas. Nestes momentos, dizem os seus muitos detratores, ele mostra que não tem mais que grandes frases de efeito.

Hillary precisa mirar o eleitor moderado e o republicano que não foi seduzido por Trump e, ao mesmo tempo, fazer com que a esquerda se sinta empolgada a votar nela em novembro. Terá ainda que defender o legado do presidente Barack Obama e, simultaneamente, propor mudanças em muitos pontos.

“O medo é de que ela se perca em algum momento do debate, e ninguém melhor em aproveitar o momento do que Trump”, disse, sob sigilo, ao site “Político”, um assessor de longa data da família Clinton.

A democrata deve concentrar esforços em melhorar sua avaliação pessoal. Ela tem que mostrar que está bem de saúde. A pneumonia contraída há cerca de duas semanas e a forma como tratou do assunto, escondendo o diagnóstico do público por três dias, alimentaram as dúvidas sobre a sua real condição física — e, principalmente, sobre sua credibilidade política. Nesta campanha, ficou mais forte o sentimento de que a democrata mente e de que ela faria qualquer coisa pelo poder.

“Hillary precisa convencer os eleitores jovens (desproporcionalmente liberais) para entrar em seu barco ao invés de apoiar candidatos de terceiros partidos, e também precisa puxar republicanos que são contra Trump. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo pode ser difícil, se não impossível: apelar aos jovens provavelmente significa se alinhar à esquerda, enquanto que ir atrás dos republicanos moderados provavelmente significa ir ao centro político. A vantagem de Hillary Clinton é que ela tem muito mais experiência com as questões de que Trump normalmente trata e é muito mais fluente sobre a política”, escreveu em seu blog o cientista político Larry Sabato, da Universidade de Virgínia.

A nova onda de protestos sobre a violência policial contra negros e os atentados terroristas recentes em Nova York e Nova Jersey devem aparecer com força no debate. Trump deve puxar o confronto para a economia e o nacionalismo, enquanto Hillary vai, provavelmente, valorizar assuntos como mudanças climáticas, saúde, educação, a luta contra a desigualdade e direitos de mulheres e gays.

Os candidatos se encontrarão ainda nos debates de 9 e 19 de outubro. No dia 4, os candidatos a vice (o democrata Tim Kaine e o republicano Mike Pence) se enfrentam. Em uma eleição tão disputada, está vivo um dos ditados mais famosos na política americana: um debate pode não vencer uma eleição, mas pode fazer alguém perder a eleição.


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