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Em bom momento após debate, Hillary põe Trump na defensiva

Por Agência O Globo

28/09/2016 3h52 — em
Mundo



WASHINGTON - Apontada por analistas e pesquisas como grande vencedora do debate da noite de anteontem, Hillary Clinton quer aproveitar o bom momento para conduzir a campanha eleitoral a partir de agora. Ela espera reverter a fase ruim, que vinha desde quando tentou ocultar uma pneumonia, e caiu forte nas pesquisas. Donald Trump, por sua vez, passou o dia tentando minimizar os danos e prometendo uma revanche pesada no próximo debate, dia 9 de outubro, quando promete até citar os caso extraconjugais de Bill Clinton.

— Tive a chance de dizer algumas coisas — afirmou Hillary, rindo, num comício na Carolina do Norte, em referência às mais de 50 interrupções que Trump fez a ela no debate. — Tenho esta ideia antiga de que, se estou pedindo seu voto, devo dizer o que quero fazer.

Hillary provocou o adversário, alegando que ele não apresentou propostas. No discurso, no entanto, tentou impor sua agenda com novos ataques a Trump. A democrata lembrou que o magnata disse não ter liberado sua declaração de renda e que isso pode significar que não pague imposto. No debate, Trump disse que, se isso for verdade, ele é “inteligente”, dando a deixa ao ataque de ontem:

— Se não pagar impostos nos faz inteligente, o que isso torna todo o resto de nós? — questionou a candidata, que ainda viu a história de Alicia Machado, a personagem que lançou no debate para exemplificar como Trump trata as mulheres, ganhar vida própria, ampliando o impacto negativo na campanha republicana.

Um dos sinais do sucesso de sua estratégia foi sentido no Google: segundo o “Washington Post”, durante a hora e meia de debate — que bateu o recorde, com 84 milhões de espectadores — as buscas por “registrar-se para votar”, em espanhol, chegaram a cem mil. O número transformou a busca na terceira maior nos EUA, um indicativo de que os latinos estão se mobilizando para a eleição — o grupo é majoritariamente contra o republicano por seus planos de deportação de imigrantes ilegais e construção de um muro na fronteira com o México.

Trump tentou assumir o papel de vítima, dizendo que foi prejudicado até pelo sistema de som do debate — esta teria sido a desculpa para as suas seguidas fungadas, que geraram memes. O magnata ainda afirmou que o mediador do encontro o prejudicou, e pediu que os próximos debates sejam mais justos. E ainda partiu para a ameaça: disse que vai tratar da infidelidade de Bill Clinton, marido da candidata democrata, nos dois próximos debates, marcados para os dias 9 e 19 de outubro.

— Só não tratei disso ontem (segunda) em respeito a Chelsea Clinton — disse, referindo-se à filha do casal, que assistia ao debate na plateia.

Cientistas políticos viram no debate uma clara vitória de Hillary, que agora tem a chance de impor sua agenda nesta reta final da campanha:

— Hillary passou confiança ao cidadão comum, conseguiu estar bem diante das câmeras, ser forte e bem-humorada. Ela conseguiu conquistar a narrativa da mídia para a campanha — disse ao GLOBO David Lublin, da American University.

Para ele, agora Hillary terá o desafio de manter sua agenda e não cair nas armadilhas da campanha de Trump, que tentará, a qualquer custo, retomar o controle do que chama “ciclo das notícias”. A democrata ainda precisa calibrar bem sua participação nos próximos debates, pois a atuação de anteontem aumentou ainda mais as expectativas. Trump, por sua vez, vive o dilema entre mostrar-se controlado e com uma postura presidencial ou voltar à polêmica, para reassumir o protagonismo da campanha.

— Hillary Clinton venceu, mas não por nocaute, e eles deverão aparecer muito próximos nas pesquisas — pontuou Robert Watson, professor na Lynn University. — Como esta campanha está muito disputada e pelo fato de os candidatos serem tão controversos e impopulares, os debates importam muito. Um desempenho muito forte ou muito fraco pode ajudar a moldar o resultado desta eleição.

Watson acredita que “obviamente” Trump não estava preparado para o debate — que foi muito negativo, já que muitas de suas declarações se mostraram erradas pelos checadores de vários meios de comunicação. O professor lembrou ainda que o magnata “mordeu a isca” várias vezes, aceitando as provocações da Hillary. Um dos momentos mais lembrados ontem foi quando ele disse que Hillary não tinha “vigor” para ser presidente, numa estratégia que reforçou sua visão de rejeição às mulheres.

Geoffrey Kabaservice, especialista no Partido Republicano, acredita que Hillary se saiu melhor por conseguir humanizar sua imagem, em uma atuação mais espontânea, mas não vê o debate como um desastre para Trump:

— Não sei se muitos de seus apoiadores deixarão de votar nele por causa deste debate.

Entretanto, ele lembra que Trump só citou a legenda uma vez, perdendo uma oportunidade de se conectar mais com o grupo moderado do partido e conquistar uma parte dos republicanos que ainda resiste em apoiá-lo.

Nate Silver, do site especializado “FiveThirtyEight”, escreveu, em sua análise do debate, que o encontro dos dois candidatos pode fazer com que Hillary ganhe de dois a quatro pontos percentuais nas próximas pesquisas:

“Mesmo um ganho de dois pontos faria maravilhas para Hillary Clinton, que agora está em uma situação bastante desconfortável no Colégio Eleitoral”, lembrou o estatístico.


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