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Eleição de Biden segura por pouco ponteiro do Relógio do Juízo Final

Por Folha de São Paulo

27/01/2021 16h34 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A eleição do democrata Joe Biden para a Presidência do Estados Unidos evitou que o Relógio do Juízo Final tivesse seus ponteiros aproximados para a fatídica meia-noite que indica o fim do mundo.

Criado em 1947 pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, uma organização de especialistas que haviam trabalhado na criação da bomba e entenderam o problema criado, o Relógio simboliza o risco de aniquilação global.

Desde 2007 ele incluiu outros fatores, além da guerra nuclear, como a crise climática e evoluções tecnológicas disruptivas. Em 2020, atingiu 100 segundos para meia-noite, menor nível da história, mantido nesta quarta (27).

"Os eventos negativos podem justificar mover o relógio para mais perto da meia-noite. Mas vimos alguns desenvolvimentos positivos", disse o em nota o Boletim, citando que Biden já retornou os EUA aos Acordos de Paris, que visam combater a crise climática, e acertou com a Rússia na terça (26) a extensão do Novo Start.

Último tratado de limitação de armas nucleares do mundo, o Novo Start estava para caducar no dia 5 de fevereiro após dificuldades criadas por Donald Trump na negociação com o russo Vladimir Putin.

Um prestigioso painel de 20 cientistas, o Boletim lamentou a crise da Covid-19 e a chamou de um alerta para o mundo, mas não considera o novo coronavírus um evento que traga riscos existenciais à humanidade.

"Suas consequências são graves e duradouras, mas a Covid-19 não vai obliterar a civilização e eventualmente a doença vai ceder", afirma o texto.

Mais grave, contudo, é a desinformação que acompanhou a escalada da epidemia. Sem citar diretamente negacionistas como Trump ou Jair Bolsonaro, que havia figurado nominalmente no relatório do ano passado por sua política climática deletéria, o Boletim foi sombrio.

"Informação falsa e enganosa foi disseminada na internet", diz o texto, citando a minimização de riscos e críticas a máscaras e falsas curas como a hidroxicloroquina, "criando caos social e levando a mortes desnecessárias".

A invasão do Capitólio sob inspiração de Trump, que poderá perder seus direitos políticos por isso, é citada como uma culminação do processo desinformativo -o então presidente mentia ao dizer que a eleição fora roubada.

Em seu campo de origem, o nuclear, o relatório do Relógio só é positivo quando fala na oportunidade de avanço com o Novo Start, que limita a monstruosas 1.550 ogivas operacionais para cada lado, Rússia e EUA, o suficiente para acabar com o planeta várias vezes.

O Boletim afirma que há a possibilidade de novos compromissos a partir da reabertura de negociações. Também é celebrado o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, que entrou e vigor na sexta (22), embora seja limitado a países sem a bomba.

"A possibilidade de o mundo descambar para uma guerra nuclear --um perigo sempre presente nos últimos 75 anos-- aumentou em 2020. Um fracasso global extremamente perigoso em tratar de ameaças existenciais reforçou seu jugo no campo nuclear".

São listados então os avanços russos, americanos e chineses em mísseis hipersônicos, os riscos de guerra entre Índia e Paquistão, o desmantelamento do acordo nuclear iraniano e o risco de guerra com os EUA, novos armamentos da Coreia do Norte, entre outros eventos como a Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington.

No campo climático, é citada a demora das nações desenvolvidas em aderir a metas ousadas de corte de emissão de carbono e o fato de que os estímulos para a economia fóssil superam aqueles para a verde nos planos do G20.

Em 2020, no grupo desses países com maiores economias, pacotes de ajuda para setores baseados em energia suja somaram US$ 240 bilhões, antes US$ 160 bilhões para fontes alternativas.

O Brasil é citado lateralmente, como um dos países que apenas fez promessas frágeis de comprometimento com metas de redução de emissões.

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