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Cinco ministros pedem demissão na Argentina após derrota eleitoral do governo

Por Folha de São Paulo

15/09/2021 19h06 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cinco ministros do governo do presidente argentino, Alberto Fernández, colocaram seus cargos à disposição nesta quarta-feira (15). As renúncias, que foram acompanhadas de pedidos de demissão de outras autoridades, se dão três dias depois de a frente governista ser derrotada nas primárias para o pleito legislativo de 14 de novembro.

O ministro do Interior, Wado de Pedro, foi o primeiro a entregar o cargo. Ele foi seguido pelos titulares das pastas da Justiça, Martín Soria; da Ciência e Tecnologia, Roberto Salvarezza; do Meio Ambiente, Juan Cabandié; e da Cultura, Tristán Bauer.

Os nomes fazem parte da ala kirchnerista, mais à esquerda, da coalizão que apoia o governo de Fernández. O grupo, que também tem laços com o filho de Kirchner, o deputado Máximo, já vinha manifestando descontentamento com a gestão e pressionando por uma reforma ministerial.

“Ouvindo suas palavras na noite de domingo [12], quando levantou a necessidade de interpretar o veredito expresso pelo povo argentino, considerei que a melhor forma de colaborar com essa tarefa é colocando minha demissão à sua disposição”, escreveu De Pedro na carta que apresentou a Fernández.

Ele fez referência a falas do mandatário reconhecendo o mau desempenho de seus candidatos nas primárias. A Frente de Todos, aliança peronista, obteve 31% dos votos em todo o país e ficou atrás da principal força de oposição, a coalizão de centro-direita Juntos (ligada ao ex-presidente Mauricio Macri), que alcançou 40,02% em nível nacional.

"Fizemos algo errado e precisamos entender o que foi", disse Fernández na segunda-feira. "O rumo tomado em 2019 [quando ele assumiu a Presidência] não vai ser alterado. Existem razões pelas quais as pessoas não nos acompanharam nesta votação, e nós agora vamos escutá-las melhor."

As primárias, na prática, apenas definem quais candidatos poderão concorrer no pleito de novembro. Ainda assim, dado o desgaste que o presidente enfrenta internamente, o resultado era considerado um termômetro da gestão federal.

Fernández agora deve enfrentar uma batalha para reconquistar eleitores e não ver minguar sua base de apoio no Legislativo. Caso os resultados das primárias se confirmem no final do ano, a aliança Juntos se tornará a principal força na Câmara de Deputados, embora com maioria simples. No senado, a maioria peronista também estaria sob risco.

Além dos cinco ministros, também pediram demissão nesta quarta-feira a secretária de Comércio Interno, Paula Español; a titular ​​do Programa de Saúde Integral, Luana Volnovich; e a diretora da Administração Nacional de Segurança Social, Fernanda Raverta.

Ainda fazem parte da lista, segundo o jornal Clarín, o presidente da Aerolineas Argentinas, Pablo Ceriani, e a chefe do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo, Victoria Donda.

De acordo com a imprensa argentina, Fernández se reuniu na tarde de quarta, na Casa Rosada, sede do governo, com ministros que não renunciaram e com seu chefe de gabinete, Santiago Cafiero. Este último também seria um dos motivos de desgaste na administração federal.

A ala kirchnerista pressionava pela substituição de Cafiero, de Matías Kulfas, chefe da pasta de Desenvolvimento Produtivo, e de Martin Guzmán, da Economia —visto como peça fundamental nas negociações da Argentina com o FMI, a quem o país deve US$ 44 bilhões; ele defende ajustes fiscais que são criticados por Cristina.

Nesta quarta, ao lado de Fernández, antes de a crise política piorar, Guzmán defendeu sua gestão, mas reconheceu que o governo "tem problemas sérios que precisam ser resolvidos".

A crescente insatisfação dos argentinos com o governo recai sobre desgastes vividos recentemente por Fernández. Em agosto, o presidente foi indiciado devido à realização de uma festa de aniversário para a primeira-dama, Fabiola Yáñez, em 14 de julho de 2020.

O evento, na residência oficial da Presidência, deu-se no momento de restrições mais agudas à circulação de pessoas no país, para conter a disseminação do vírus. Uma foto que vazou do que ficou conhecido como Olivos-gate levou Fernández primeiro a mentir e depois a pedir desculpas publicamente.

Outros pontos de desgaste estão ligados ao desempenho ruim da economia (a inflação está em 50% ao ano) e à gestão da pandemia (com 113 mil mortes e menos de 40% da população totalmente imunizada). Fernández tem hoje 32% de aprovação.


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