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Cabaré Lido, clássico das noites de Paris, fecha as portas na França

Por Folha de São Paulo

06/08/2022 11h06 — em
Mundo



BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - As dançarinas elegantes, sempre com mais de 1,75 metro, sobre o palco do Lido fizeram do lugar um dos principais cabarés de Paris. As cortinas dos shows organizados desde o final da Segunda Guerra Mundial, porém, se fecharam em definitivo em meio às consequências econômicas da pandemia de Covid-19.

Segundo a revista francesa Paris Match, o Lido organizou na quinta-feira (4) seu último espetáculo com chamadas as Bluebell Girls, que dançavam repletas de plumas e, bem, não muito mais do que plumas. Em 75 anos de história, cerca de 10 mil bailarinas subiram ao palco.

A questão é que, do outro lado, a plateia de 1.100 lugares -que já recebeu celebridades, empresários e poderosos- estava cada vez mais vazia. Isis, 45, francesa ouvida pelo jornal Le Parisien em julho, disse que o fechamento do cabaré não a surpreendeu. "Nas últimas vezes em que fui, fiquei muito decepcionada. A refeição foi ruim e apressada, as meninas não eram tão bonitas, algumas pareciam disformes. Foi o oposto do que nos venderam, o charme claramente não está mais lá", afirmou.

Em maio, a administração da casa de espetáculos já antecipara que as apresentações não durariam muito mais tempo. Desde a pandemia, as contas não fechavam. O faturamento dos cabarés franceses caiu 80% só em 2020, com a baixa do turismo forçada pelas restrições para conter o coronavírus.

Segundo os donos, pesaram ainda alterações na legislação de bem-estar animal, que barraram o uso de bichos exóticos nos shows, e mudanças culturais -a nudez das dançarinas já não era vista como adequada por grande parte dos franceses.

A ideia do grupo hoteleiro Accor -dono da casa desde o ano passado- é torná-la uma sala de espetáculos tradicional. O novo projeto, segundo a direção, visa a "restituir ao salão seu lugar de destaque no cenário criativo francês, nacional e internacional, graças a uma nova e ambiciosa linha artística". A expectativa é que a programação seja dirigida por Jean Luc Choplin, ex-diretor do teatro Châtelet.

Segundo a imprensa local, dos 184 funcionários do cabaré só 27 devem manter o emprego, e a companhia de dançarinas será extinta. A Accor pretende transferir os trabalhadores para outros setores do grupo, por meio de um programa de reciclagem profissional.

"Quero que fortes medidas de apoio sejam implementadas para que cada um de vocês possa receber soluções ou realocação dentro do grupo", disse o CEO Sébastien Bazin em junho, segundo o jornal francês Le Figaro, respondendo a questionamentos dos empregados.

O atual modelo do Lido foi criado em 1946 pela família italiana Clérico. Antes disso, o lugar já recebia shows eróticos, ainda que, digamos, menos charmosos. A casa de espetáculos era vista pelos franceses como herança da belle époque, período de boêmia na Europa entre o final do século 19 e a Primeira Guerra Mundial.

A subprefeita do 8º arrondissement de Paris (divisão administrativa da capital francesa), Jeanne d'Hauteserre, lamentou o fechamento do Lido. "É triste quando uma instituição de performance e cultura parisiense desaparece assim. É uma perda para a Champs-Élysées", disse a Le Parisien, citando a avenida onde está o cabaré.

Com o fechamento do Lido, o reinado do Moulin Rouge aumenta ainda mais. O cabaré retratado no musical de mesmo nome, inclusive, tentou comprar o concorrente em 2006 -que, na época, já tinha dificuldades em pagar as contas.

Parte dos franceses, porém, espera reverter a situação por meio de um abaixo-assinado, que já coletou 88 mil apoios. "Se você quer que Paris continue Paris, assine esta petição e salve esse símbolo internacional", diz a carta. Enquanto isso, as cortinas continuam fechadas.


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