Brasil defenderá aplicar cláusula democrática do Mercosul contra Venezuela
BRASÍLIA E BUENOS AIRES - O chanceler José Serra está pronto a defender a aplicação da cláusula democrática do Mercosul contra a Venezuela, segundo uma fonte do governo brasileiro. O ministro conversou por telefone ontem com seu colega uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, e os dois acertaram para sábado a reunião com os outros chanceleres do bloco — da Argentina e do Paraguai — no âmbito da cúpula ibero-americana de chefes de Estado na cidade colombiana de Cartagena. A questão da cláusula democrática é consenso entre Brasil, Argentina e Paraguai. A exceção é o Uruguai, que hesita em tomar medidas duras contra o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e em meados do ano, apesar da oposição de seus sócios no bloco, transferiu a presidência do Mercosul a Caracas. Mas a pressão dos demais sócios fundadores sobre Montevidéu vai continuar, e a aposta em Brasília é que os uruguaios acabarão cedendo.
Esta semana, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, admitiu, pela primeira vez, debater a implementação da cláusula, mas não está claro se estará disposto a avançar em direção à suspensão da Venezuela. O objetivo dos chanceleres de Brasil, Argentina e Paraguai é iniciar um processo formal de aplicação da cláusula democrática. De acordo com o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Eladio Loizaga, a suspensão não será, em caso de consenso, imediata.
— Não será um encontro decisivo, mas podemos abrir um processo de debate sobre a implementação da cláusula — explicou Loizaga.
A decisão, como tudo no Mercosul, requer o respaldo de todos os sócios plenos, com exceção da Venezuela. O chanceler paraguaio afirmou que seu governo defende um “processo legal e ordenado”, ao contrário do que aconteceu com o Paraguai em 2012, quando o país foi suspenso do bloco em tempo recorde, após o impeachment do presidente Fernando Lugo.
— Entendo que depois das declarações dos presidentes Mauricio Macri, da Argentina, e Tabaré Vázquez, do Uruguai, segunda-feira passada (quando ambos cogitaram a aplicação da cláusula), deve haver consenso — declarou o chanceler do Paraguai.
Desde o aprofundamento da crise venezuelana, há alguns meses, o Uruguai se manteve distante da posição mais crítica adotada por Brasil, Argentina e Paraguai. Em Montevidéu, comenta-se que Vázquez está limitado pela influência do ex-presidente e senador José Mujica, homem forte da aliança governista Frente Ampla, que mantém sua lealdade ao governo chavista. O vínculo entre Mujica e o chavismo tem causado dores de cabeça ao senador. Esta semana, o deputado opositor Jaime Trobo apresentou ao Congresso documentos que provariam, segundo a imprensa local, que o movimento político liderado pelo ex-presidente recebeu contribuições econômicas em campanhas eleitorais passadas de empresas favorecidas em negócios entre o Uruguai e a Venezuela, quando Mujica estava no poder.
Esta semana, a chamada mesa política da Frente Ampla aprovou uma resolução interna na qual defende a necessidade de realizar o referendo revocatório sobre o mandato de Maduro, iniciativa que mostra uma leve mudança de posição da aliança de governo uruguaia.
Num comunicado conjunto, 12 países latino-americanos (entre eles o Brasil) apelaram para que os dois lados na disputa na Venezuela se engajem num diálogo construtivo, “com respeito ao estado de direito e às garantias constitucionais”.
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