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Bolsonaro recorre a símbolos para tentar convencer sobre mudança de retórica na área ambiental

Por Folha de São Paulo

22/04/2021 16h04 — em
Mundo



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O esforço de Jair Bolsonaro para transmitir ao líder dos EUA, Joe Biden, uma imagem de compromisso no combate à destruição da floresta amazônica não se resumiu apenas à adoção de um discurso conciliador.

Em participação na Cúpula do Clima, nesta quinta-feira (22), o presidente usou uma gravata verde, cor associada ao meio ambiente, e, na lapela esquerda do terno preto, ao lado de uma representação da bandeira nacional, vestiu um broche vermelho e azul.

O adorno é uma representação da Medalha do Pacificador com Palma, uma honraria concedida a militares e civis que tenham se destacado, em tempos de paz, por episódios de bravura e altruísmo. De acordo com assessores palacianos, a utilização do símbolo não foi por acaso.

A intenção do presidente era a de transmitir uma imagem de sacrifício pessoal e de coragem ilimitada, em uma tentativa de rebater críticas de que a atual gestão não se esforça para reduzir o desmatamento.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, porém, o desmate da floresta amazônica voltou a crescer em março e bateu o recorde para o mês. Foram 367,61 km² de desmatamento, ultrapassando o recorde anterior, de 2018, com 356,6 km² destruídos, seguido por 2020, com 326,49 km² derrubados.

A Medalha do Pacificador foi recebida por Bolsonaro em 2018, após ele ter sido eleito. O presidente recebeu a honraria do então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, por ter impedido que um soldado se afogasse durante uma instrução militar, em 1978.

Bolsonaro já disse que o país deveria classificar como herói o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos da repressão durante a ditadura militar, por ele ter recebido, em 1972, a Medalha do Pacificador com Palma. "Sou capitão do Exército, conhecia e era amigo do coronel, sou amigo da viúva. [...] O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra recebeu a mais alta comenda do Exército, a Medalha do Pacificador, é um herói brasileiro", afirmou em 2016.

Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, apenas na gestão de Ustra o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações) do 2º Exército (SP) foi o responsável pela morte ou pelo desaparecimento de ao menos 45 presos políticos.

Não é a primeira vez neste ano que Bolsonaro exibe a honraria militar para tentar demonstrar sacrifício. Ele também utilizou o broche em referência à medalha em março, durante pronunciamento em cadeia nacional no qual também moderou o discurso em relação à pandemia do coronavírus.

A utilização de acessórios para tentar defender bandeiras e pregar ideologias é um hábito recorrente do atual governo. Os artefatos vão desde uma pulseira evangélica, num esforço para salientar a aliança do governo com a denominação religiosa, até uma gravata com estampa de fuzis, referência à defesa da flexibilização do porte de armas no país.

Uma das peças causou polêmica no ano passado, não exatamente pelo seu significado, mas por sua imagem não ser apropriada para o momento em que o país enfrenta a pandemia do coronavírus.

Em entrevista coletiva para explicar a metodologia para chegar ao número de óbitos pela Covid-19, o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco Filho, adornava o paletó com um broche de um crânio perfurado por uma faca. O apetrecho faz referência à carreira do coronel da reserva, que integrou as forças especiais do Exército, unidades que usam a imagem da caveira como símbolo.

O artefato, reconhecem auxiliares presidenciais, não era o mais adequado para a ocasião.

No ano passado, após ter pregado em reunião ministerial que a população deveria se armar, Bolsonaro apareceu em público com uma gravata com estampas de fuzis. Os filhos do presidente também já exibiram prendedores de gravata no formato da arma de fogo.

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