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Fernández desagrada empresários ao acenar com saída paulatina de quarentena

Por Folha de São Paulo

07/04/2020 19h29 — em
Mundo



BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - A quarentena obrigatória tem sido positiva para a imagem do presidente da Argentina, Alberto Fernández, que viu sua popularidade crescer 19 pontos percentuais em relação a um levantamento feito em fevereiro.

Agora, segundo o instituto Real Time Data, 74% da população aprova o peronista. A mesma pesquisa mostra que 85% dos argentinos são a favor da quarentena obrigatória.

Em teoria, ela será encerrada em 13 de abril, mas o prazo deve ser estendido, de acordo com declaração do líder argentino em entrevista a um canal de TV na noite de segunda-feira (6).

Havia, no entanto, a expectativa por parte de empresários de uma flexibilização nas restrições, permitindo que alguns setores da economia voltassem a atuar.

Ainda que Fernández tenha adiantado que muitas das principais medidas serão mantidas - as aulas não retornarão num futuro próximo, disse o presidente -, profissionais relacionados a serviços, como eletricistas e encanadores, além de companhias da área de obras de infraestrutura, esperavam o relaxamento de regras para voltar a trabalhar.

Reunião entre empresários do setor industrial, sindicalistas e a cúpula do governo nesta terça-feira (7), na Casa Rosada, porém, indicou uma retomada mais demorada.

Ao deixar o encontro, após duas horas, o presidente da UIA (União Industrial Argentina), Miguel Acevedo, disse que "a saída da quarentena será mais paulatina do que nós estávamos desejando".

Segundo Acevedo, Fernández propôs uma saída por setores, considerando que os primeiros tinham de ser aqueles com mais importância para o funcionamento da economia e da vida dos argentinos.

Definir quais seriam as áreas com prioridade, ainda de acordo com o presidente da associação, tomou grande parte da reunião. "Foi muito produtiva porque tivemos a oportunidade de estar com a equipe de saúde, que explicou suas preocupações e como devem passar a ser as restrições na semana que vem."

A Argentina tinha, às 16h desta terça-feira, 1.628 casos confirmados e 55 mortes, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins.

Segundo o Ministério da Saúde, espera-se que o pico da pandemia no país seja em maio, e para isso estão sendo preparados novos hospitais, improvisados em clínicas ou construídos em outras áreas.

Um deles estará em Tecnópolis, parque temático de ciência e história que celebra os avanços do kirchnerismo, que agora recebe leitos e aparelhos médicos.

Outro, já pronto, estará no Campo de Mayo, um espaço do Exército, que funcionou como centro de detenção e tortura durante a ditadura militar (1976-1983) no país.

Fernández tem insistido na importância de seguir com a quarentena e ressalta que o discurso de oposição entre saúde e economia é um "falso problema".

"Se eu permito que as indústrias reabram para que a economia seja retomada, e um funcionário com coronavírus vai trabalhar, logo todos os funcionários estarão doentes, e a fábrica terá de fechar", afirmou ao jornalista Joaquim Morales Solá, do TN, canal a cabo do Clarín.

Há setores, porém, que têm pressionado o governo. O mais grave enfrentamento foi com a Techint, principal empresa do país, dedicada a engenharia e construção. A companhia decidiu demitir 1.450 funcionários.

Fernández, no entanto, havia impedido, via decreto, que as empresas demitissem seus empregados durante um período de 60 dias. Após negociar com a Techint, conseguiu que os funcionários fossem recontratados.

O presidente argentino quer reabrir o menor número possível de indústrias e, ainda assim, com jornadas mais curtas e escalonadas.

Outras áreas que vêm reclamando são a hoteleira e a de gastronomia, que empregam mais de 1 milhão de pessoas.

Hotéis e restaurantes estão todos fechados, e tampouco há turistas devido ao fechamento das fronteiras.

Os restaurantes tentam amenizar as perdas por meio de entregas. Mas, segundo a Associação de Hotéis, Restaurantes, Confeitarias e Cafés, o volume não corresponde nem a 10% da atividade normal desses estabelecimentos. Só em Buenos Aires, restaurantes e cafés empregam 60 mil pessoas.

Em Ushuaia, umas das províncias mais atingidas pelo coronavírus, a Zona Franca da Terra do Fogo também sofre com os impactos econômicos.

Além de receber muitos turistas e desembarques de cruzeiros, a maioria das fábricas da região produz eletrônicos, como TVs, computadores, equipamentos de ar-condicionado, com componentes vindos da China. Toda essa atividade está parada.

Devido ao alto número de casos - 80, além de 4 mortes -, a província entrou em quarentena antes do restante do país. Ou seja, está parada há 19 dias.

Para colocar em prática as medidas anunciadas para ajudar pequenas e médias empresas, assim como para o pagamento de ajuda a aposentados e informais e para o aumento do valor das bolsas assistencialistas, o governo imprimiu 600 bilhões de pesos (R$ 48,1 bilhões), o que corresponde a uma expansão da base monetária do país em 35%.

Fernández admitiu que a emissão de moeda "não é a saída ideal" e que estuda enviar um projeto de lei ao Congresso para cobrar um imposto extra a grandes fortunas enquanto durar a emergência sanitária.

Segundo projeção do FMI, a economia argentina pode contrair até 5% neste ano, embora o governo não espere aumento da inflação, já que a atividade comercial se reduziu muito e há uma política vigente de congelamento de preços e tarifas.

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