Propina era paga em pacotes de dinheiro em frente a shopping center
RIO — Em denúncia apresentada anteontem à 7ª Vara Federal Criminal do Rio, o Ministério Público Federal do Rio informa que dois ex-diretores e dois ex-superintendentes da Eletronuclear recebiam propina em dinheiro vivo, em pacotes que continham entre R$ 30 mil e R$ 50 mil. Os valores foram entregues em cafeterias, dentro de carros e até mesmo na rua, mais precisamente na calçada em frente a um movimentado shopping de Botafogo, na capital fluminense. As informações foram prestadas durante depoimentos de delação premiada e de adesão a acordo de leniência de ex-dirigentes e funcionários da Andrade Gutierrez.
A denúncia é decorrente da Operação Pripyat, em que foram presos o ex-presidente da Eletronuclear Othon Silva, além de membros do alto escalão da empresa, acusados de receber propinas da Andrade Gutierrez no âmbito das obras da usina nuclear de Angra 3. Foram denunciadas 15 pessoas por crimes como corrupção passiva e organização criminosa, entre elas os ex-diretores da Eletronuclear Luiz Soares, Edno Negrini e Pérsio Jordani e os ex-superintendentes Luiz Messias e José Eduardo Costa Mattos, além de ex-executivos da Andrade Gutierrez e da Engevix. Othon Silva não foi denunciado porque já responde pelo recebimento de propina em outra ação.
Três executivos da Andrade Gutierrez — Fernando Carvalho, Lauro Tiradentes e Gustavo Botelho — confirmaram ter entregue pessoalmente propina a ex-dirigentes da Eletronuclear. Tiradentes disse ter realizado entregas de propina a Negrini e Jordani em 2013. Uma delas foi feita na calçada em frente ao Botafogo Praia Shopping, e outra numa rua próxima à sede da Eletronuclear, que fica no Centro do Rio.
Já Gustavo Botelho afirmou ter entregue dinheiro a Messias e Costa Mattos entre 2013 e 2014. Um dos pagamentos ocorreu na esquina do escritório da Andrade Gutierrez, na Praia de Botafogo com Rua Visconde de Ouro Preto. Uma ou duas vezes o pagamento foi feito dentro de um carro. Outra foi no próprio Botafogo Praia Shopping. Carvalho contou que Messias, Negrini e Jordani receberam cinco pagamentos cada, entre 2010 e 2011. Para Negrini e Jordani, “o dinheiro era entregue em algum café em um encontro mais rápido, podendo ser no Botafogo Praia Shopping ou uma cafeteria comum de shopping”.
Diferente dos demais, o ex-diretor Luiz Soares recebia propina por meio das empresas Flexsystem Engenharia e Flexsystem Sistemas, de acordo com a força-tarefa da Lava-Jato. A quebra do sigilo bancário das empresas revelou que foram feitos, entre 2008 e 2015, saques de altas quantias das contas das duas companhias. Os valores chegavam a R$ 140 mil.
A quebra dos sigilos fiscal e bancário de Luiz Soares e Luiz Messias também revelou movimentação incompatível com a renda. Em 2015, por exemplo, Messias declarou rendimentos totais de R$ 1,3 milhão, mas os créditos em conta somaram R$ 4,5 milhões. Os ex-dirigentes da Eletronuclear estão presos em Bangu 8 desde o início de julho, quando foi deflagrada a Operação Pripyat.
A Andrade Gutierrez informou que “mantém o compromisso de colaborar com a Justiça”. O advogado Fabrizio Feliciano, que defende Messias, disse que o cliente já prestou todos os esclarecimentos e negou qualquer ilegalidade. Os advogados André Perecmanis, que defende Pérsio Jordani, e Luís Rassi, que defende Edno Negrini, afirmaram que a denúncia está baseada nas delações, sem elementos substanciais que comprovem a culpa dos clientes. O GLOBO não conseguiu contato com os advogados de Soares e Costa Mattos.
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