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João Santana e Mônica confirmam ter recebido dinheiro de caixa 2

Por Agência O Globo

21/07/2016 20h52 — em
Brasil



SÃO PAULO — O publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, admitiram ao juiz Sérgio Moro que os depósitos no total de US$ 4,5 milhões feitos pelo empresário Zwi Skornicki na conta do marqueteiro na Suíça eram destinados a pagar dívidas da campanha presidencial de 2010, sem declaração à Justiça Eleitoral — o caixa dois. No depoimento, prestado nesta quinta-feira, eles negaram saber se o dinheiro tinha como origem propina de contratos da Petrobras, o que foi admitido apenas pelo próprio Skornicki, que representava o estaleiro Keppel Fels .

- Esse pagamento foi referente a uma dívida de campanha que o PT ficou devendo da campanha de 2010, da primeira campanha da presidente Dilma. ficou uma divida de quase R$ 10 milhões de reais, que não foi paga, foi protelada. Cobrei muito, eu fiquei com muitas dividas. Depois de dois anos de luta conversei com o Vaccari (João Vaccari Neto, tesoureiro do PT), que era quem acertava comigo os pagamentos de campanha, e ele me mandou procurar um empresário que queria colaborar - disse Mônica Moura.

No primeiro depoimento que prestou à Polícia Federal, quando foi presa, Mônica Moura afirmou que os valores recebidos na conta na Suíça eram referentes a campanhas políticas em outros países. Moro perguntou por que ela não revelou o verdadeiro motivo do recebimento e Mônica disse que não queria piorar a situação da presidente Dilma Rousseff. Moro perguntou ainda para Mônica Moura qual o motivo de ter recebido valores de caixa 2 se a quantia paga pelos serviços do marketeiro somavam R$ 170 milhões entre 2006 e 2014, como pagamentos registrados à Justiça Eleitoral.

- Se eram tão expressivos (os valores), por que pagar separado? - perguntou Moro.

Mônica afirmou que fazer campanha política no Brasil é muito caro e que os partidos e as empresas não querem declarar e registrar o valor correto.

- Os partidos não aceitam que todos os valores sejam registrados. Eles sempre argumentam que não tem teto do TSE, os partidos não querem declarar o valor real que recebem das empresas e as empresas não querem declarar o quanto doam. Nós profissionais ficamos no meio disso. Não era uma opção minha, era uma prática não só no PT, mas em todos os partidos - disse Mônica.

O empresário Zwi Skornicki, porém, admitiu . Ele também prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro e confirmou ter pagado propina em todos os contratos firmados pela Keppel com a Petrobras.

Zwi, que fechou acordo de delação premiada, contou que Monica esteve em seu escritório indicada por Vaccari. A conversa, definida pelo empresário como “curta e grossa”, teve como objetivo acertar como seria feito o pagamento.

— Ela me disse: ‘Eu vim aqui a mando do senhor Vaccari e gostaria de acertar com o senhor o pagamento — contou o empresário nesta quinta-feira ao juiz Sérgio Moro.

A mulher de João Santana teria U$ 5 milhões para receber, mas Zwi disse a ela que não poderia fazer o pagamento de uma vez. O dinheiro, ainda no relato do empresário, saia de uma conta que ele mantinha com Vaccari para pagar propina oriunda de um percentual de contratos fechados pela Keppel com a Petrobras e com a Sete Brasil.

— Combinamos que não poderia pagar de uma vez. O que ele (Vaccari) tinha de saldo não era suficiente.

Ficou acertado, então, que seriam pagas dez parcelas de US$ 500 mil, das quais só nove foram quitadas.

— O processo da Lava-Jato já estava muito avançada e eu parei de pagar a última parcela — contou Zwi.

Na conversa com Monica Moura, de acordo com o empresário, não foi discutida a origem do dinheiro nem o motivo do pagamento.

— Ela nunca me contou por qual razão tinha que receber e não perguntou (a origem).

O empresário também afirmou no depoimento que o dinheiro de propina de um dos contratos, da construção da plataforma P-56 da Petrobras, foi usado para fazer doações legais ao PT por meio da empresa Technip, integrante do consórcio junto com a Keppel.

Zwi contou ainda que fez pagamentos de dinheiro da conta de propina a mando de Vaccari no exterior ao empresário Cláudio Mente. Em depoimento à CPI dos Fundos de Pensão, em novembro do ano passado, Mente admitiu depositou R$ 400 mil em uma conta da mulher de Vaccari e disse que essa quantia era um empréstimo por causa da "amizade" que mantinha com o ex-tesoureiro do PT.

Vaccari também teria ordenado, nas palavras de Zwi, o pagamento do dinheiro da conta de propina, no Brasil, para uma empresa chamada Zama e para dois políticos, que o empresário não identificou no depoimento.

Segundo denúncia do Ministério Público Federal, Santana recebeu US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki, entre 2013 e 2014, em uma conta no exterior. Zwi foi citado pelo delator Pedro Barusco, ex-executivo da Petrobras, como um dos operadores de propina do esquema.

Santana também recebeu US$ 3 milhões de offshores ligadas à Odebrecht, entre 2012 e 2013.


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