Curauá e a transição do modelo linear ao empreendedorismo
Entre os ativos biológicos de maior potencial para a bioeconomia amazônica, destaca-se o curauá (Ananas erectifolius), espécie nativa da floresta tropical cujas fibras apresentam elevado desempenho técnico, resistência mecânica e leveza, configurando-se como uma alternativa sustentável aos materiais sintéticos e não renováveis.
A incorporação dessa matéria-prima renovável nas cadeias produtivas do Polo Industrial de Manaus (PIM) constitui um exemplo concreto de transição do modelo econômico linear para o modelo de Empreendedorismo Circular, conforme preconizado nas diretrizes das Zonas Econômicas Especiais (ZEE) e fundamentado na proposta apresentada em minha tese de doutorado, a ser defendida até o final de 2026.
Ao substituir insumos derivados do petróleo — como plásticos convencionais — por bioplásticos formulados com fibras e nanocelulose de curauá, as indústrias instaladas no PIM passam a reduzir a dependência de polímeros fósseis e a inserir-se em cadeias produtivas de baixo carbono.
De forma semelhante, os biovidros transparentes obtidos a partir da nanocelulose do curauá podem substituir o vidro industrial tradicional em embalagens, painéis e dispositivos ópticos, oferecendo maior sustentabilidade, leveza e reciclabilidade.
Essas inovações tecnológicas representam mudanças estruturais na lógica produtiva, pois permitem que resíduos e subprodutos da biomassa amazônica sejam reintroduzidos como insumos, promovendo ciclos de regeneração e reaproveitamento de valor — princípios centrais da economia circular.
Essa dinâmica está em plena consonância com o fortalecimento da Bioeconomia e da Bioinovação Amazônica, bem como com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 9, 12 e 13), que preveem uma transição ecológica justa, competitiva e socialmente inclusiva.
Do ponto de vista territorial, a integração do curauá às cadeias industriais gera sinergias entre o setor produtivo e as comunidades tradicionais amazônicas, criando oportunidades de trabalho e renda baseadas em manejo sustentável. Trata-se, portanto, de um modelo replicável de desenvolvimento sustentável, capaz de articular competitividade global com justiça social e preservação ambiental, reafirmando o potencial das Zonas Econômicas Especiais (ZEE) como laboratórios de inovação, circularidade e sustentabilidade regional.
Nesse contexto, o uso industrial do curauá consolida-se como expressão prática do Empreendedorismo Circular, ao alinhar eficiência produtiva, regeneração ecológica e protagonismo local, pavimentando o caminho para a construção de uma economia regenerativa, resiliente e orientada para o futuro.
Hissa Abrahão
Professor de Economia e aluno de doutorado da PUC-PR.
Idealizador do projeto/tese “Modelo de Empreendedorismo Circular do Polo Industrial de Manaus: um caminho para uma transição fiscal incentivada, fundamentada em bases sustentáveis e circulares da economia
ASSUNTOS: Hissa Abrahão